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Fumo e Perispírito

Em 1964 escrevi um livro intitulado “Deixe de Fumar Pelo Método de Cinco Dias” que contou com seis edições seguidas. Na época eu nada sabia sobre Allan Kardec. Via a questão “fumo-saúde” sob um ângulo parcial de higidez orgânica, dos danos físicos reversíveis ou não trazidos pelo cigarro, da dependência do fumante em relação à nicotina e outros componentes do fumo. Decorridos dez anos, circunstâncias pessoais de dor e reflexão me levaram ao estudo da Doutrina codificada por Kardec sob a orientação do Mundo Espiritual Superior. Uma nova visão acerca da vida, do destino e da morte do ser humano aos poucos haveria de despertar-me para as inarredáveis realidades da alma em suas recorrentes trajetórias terrenas. O conhecimento das leis de causa e efeito, sobretudo no que concerne ao princípio intermediário entre a matéria e o espírito, elo de união conhecido pelo nome de perispírito, levar-me-ia a refletir mais adiante nos danos visíveis e invisíveis que certos hábitos adquiridos, quase sempre inconscientemente, nos causam.

Desde o “Livro dos Espíritos”, a literatura doutrinária vem mostrando abundantemente a estreita vinculação desse tripé homogêneo representado pelo “corpo-perispírito-espírito”. Observei, outrossim, serem relativamente escassas as informações disponíveis em torno da influência do cigarro no perispírito, por se tratar de um hábito relativamente novo na existência humana.

Ao tempo em que Kardec viveu, o tabagismo era elitista, quase não se difundira em termos das populações.

O tema ficou incluído no capítulo “Das Paixões”, dessa obra básica, conforme questões de nº. 907 a 912. Dali extraímos as seguintes proposições respondidas pelos espíritos:

“Visto que o princípio das paixões está na Natureza, ela é ma em si mesmo?”

Não, a paixão está no excesso acrescentado à vontade, porque o princípio foi concedido ao homem para o bem e as paixões podem levá-lo as grandes coisas, sendo o abuso que delas se faça que causa o mal.

O homem poderia sempre vencer suas más tendências por seus esforços?

Sim, e, algumas vezes sucumbe, por seus fracos esforços. É a vontade que lhe falta.

Não há paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade não tem poder para superá-las?

Há muitas pessoas que dizem: ‘eu quero’, mas a vontade não está senão nos lábios; elas querem, mas estão contentes que assim não seja. Quando se crê não poder vencer suas paixões, é que o Espírito nelas se compraz em conseqüência de sua inferioridade. Aquele que procura reprimi-las, compreende sua natureza espiritual, e as vitórias são para ele um triunfo do Espírito sobre a matéria.

Qual é o meio mais eficaz de combater a predominância da natureza corporal?

Praticar a abnegação de si mesmo.”

Perispírito: efeitos

O perispírito é o agente intermediário das sensações externas. Tudo que façamos, nele fica gravado indelevelmente, como se fora num filme intocado, Após a morte do corpo físico, as sensações se generalizam ou seja, as dores não ficam localizadas. Num paciente que tenha desencarnado, por exemplo, de câncer pulmonar proveniente do uso prolongado e constante do cigarro, o espírito não fica propriamente sofrendo de um mal localizado, mas de um mal correspondente que lhe abrange toda a constituição espiritual.

Opinião de Chico Xavier

A ação negativa do cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico? Até quando?

“O problema da dependência continua até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual cedam lugar à normalidade do envoltório perispirítico, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante.

Quando a vontade do interessado não está suficiente para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos (semelhantes) dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo.”

“As sensações do fumante inveterado, no Mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obsedante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase que despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções.

O fumo no corpo

O assunto, no entanto, no capítulo da saúde corpórea, deveria ser estudado na Terra mais atenciosamente, de vez que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderiam ser claramente evitáveis. A necropsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença.”

Opinião de Wilson Francisco

Allan Kardec diz, no Livro dos Espiritos, que o Espirito vem a Terra para intelectualizar a materia, ou seja, ele habita o corpo e deve exercitar o desenvolvimento de suas qualidades divinas atraves dos olhos (inocentar o olhar), da palavra (falar a voz de Deus), das maos (tocar com singeleza, indicar caminhos).

Entao, quando o Fernando Worm diz que a abnegacao o recurso mais expressivo no combate as paixoes eh porque, abnegar-se significa realizar um desejo incansavel de controlar emocoes, aliada a uma vontade intensa de fazer prevalecer a sua inteligencia e a amorosidade por si mesmo.

Jesus diz: Ame o proximo como vc se ama di mesmo. Estas atitudes permitem a vc poder fazer com que vc realize o que estah sugerido no Evangelho Segundo o Espiritismo, a reforma intima, ou seja, formar-se de novo. E a partir dessa plenitude consciencial, faca esforcos para domar suas mas inclinacoes.

Quanto ao que acontece no corpo de um fumante, as experiencias que realizei com Rubens Meira, mostram esse efeito num corpo ainda vivo. Ele fora fumante por varios anos e ha cinco nao fumava mais. Ficou deitado, numa maca, soh com lencol sobre o corpo. Quinze minutos depois, observamos o lencol todo amarelado pela simples transpiracao.

Fumo e mediunidade

Você considera o hábito de fumar um suicídio em câmara lenta? Por quê?

Creio que o hábito de fumar não pode ser definido por suicídio conscientemente considerado. Será um prejuízo que o fumante causa a si mesmo, sem a intenção de se destruir, mas o prejuízo que se deve estudar com esclarecimento, sem condenação, para que a pessoa se conscientize quanto às conseqüências do fumo, no campo da vida, de maneira a fazer as suas próprias opções.

Você teria alcançado condições de desempenho de seu mandato mediúnico, ao longo de mais de meio século de trabalho incessante, se fosse um dependente da nicotina?

Creio que não, com referência ao tempo de trabalho, de vez que a ingestão de nicotina agravaria as doenças de que sou portador, mas não quanto a supostas qualidades espirituais para o mandato referido, de vez que considero “o hábito de cultivar pensamentos infelizes” uma condição pior que o abuso da nicotina e, sinceramente, do “hábito de cultivar pensamentos infelizes” ainda não me livrei.

“Permito-me aqui, um apontamento. O Chico aqui contraria a opiniao de dirigentes espiritas que impedem fumantes em atividades espirituais. Eu sugiro pelo menos uma hora antes, o medium ou passista evite fumar, mas proibicao entendo como exagero. Ha outros tantos vicios muito mais perniciosos aos processo energeticos”.

Que é que você habitualmente aconselha aos fumantes enfraquecidos por derrotas sucessivas, que vêm pedir orientação, forças renovadas e motivação para vencer a dependência física e mental criada pela nicotina?

A prece e o trabalho, em meu entendimento, são sempre os melhores recursos para defender-nos contra qualquer desequilíbrio.

(Chico Xavier) Fonte: livro –”Janela para a Vida” –Psicografia Francisco Cândido Xavier –Fernando Worm.

 

Por Wilson Francisco