Um Novo Ciclo
Há desencarnações que comovem um bairro, uma cidade ou uma parcela da
população. A desencarnação de Francisco Cândido Xavier comoveu a nação, e uma
parte da população de outros países, onde seus livros, contados em vários
milhões, penetraram para consolar, esclarecer e mudar os rumos de muitas vidas.
Já se comentou muita coisa a respeito do “mineiro do século”, e muitos
ângulos existem ainda a serem comentados. Nossa abordagem será sobre um aspecto
delicado, entretanto, a nosso ver, muito fácil de resolver.
De há muito ouvimos indagações sobre quem seria o sucessor de Chico Xavier
quando ele viesse a desencarnar. E agora ele desencarnou e a questão continua na
cabeça de muitas pessoas. Ao longo do tempo, desde dos idos anos 50, temos
escutado que este ou aquele seria o substituto de Francisco Cândido Xavier.
Naturalmente, cada grupo tem o seu eleito, o seu preferido. O próprio Chico ao
ser indagado sobre isto, dizia que ele era um montinho de grama, e envolta de um
pé de grama nascem muitos outros.
Se levada a sério, a questão se apresenta grave. Contudo, ela inexiste.
Quando Kardec desencarnou ele foi substituído estatutariamente pelo
vice-presidente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que nem de longe
conseguiu ter a liderança, ou ser um segundo Allan Kardec. Somente através dos
anos surgiu Léon Denis como a grande liderança espírita mundial, mas com outras
características, porque eram outros tempos. Esta comparação não tem nada a ver
com a propalada tese da reencarnação de Allan Kardec, como Chico Xavier, na qual
não acreditamos, embora respeitemos profundamente as pessoas que veicularam essa
notícia.
Não há substituto para Francisco Cândido Xavier, porque com a sua
desencarnação encerrou-se um ciclo do Espiritismo, e é obrigação nossa, de todos
os espíritas, iniciar um outro ciclo. É hora de cada espírita assumir a sua
responsabilidade e fazer a sua parte. É hora de terminar as dependências a este
ou aquele médium e caminhar com os nossos próprios pés. É hora de terminarmos
com as romarias a este ou aquele “santuário” espírita, a não ser que ali se vá
para trabalhar ou ajudar.
Francisco Cândido Xavier deixou um acervo literário enorme. Muitos desses
livros ainda não foram estudados, pesquisados, questionados para deles se tirar
um real proveito. Não podemos deixar que o mito sobrepuje o homem, ou não
teremos entendido a grandiosa mensagem que ele nos deixou com sua própria vida.
A partir de agora iniciamos um novo ciclo onde todos espíritas conscientes
são chamados a colaborar. Logicamente nosso querido Chico fará uma falta imensa
ao movimento espírita. Mas este é o desafio. Ou o Espiritismo se mostra lúcido,
capaz de orientar o homem pelos caminhos da vida, sem precisar dos lances
maravilhosos de mediunidades admiráveis, que caracteriza o ciclo dos fenômenos,
ou ficaremos a espera de um substituto de Francisco Cândido.
Allan Kardec escreveu um artigo para a Revista Espírita falando dos seis
períodos do Espiritismo, dos quais o quarto período seria religioso, o quinto
seria conseqüência do período religioso, que ele não deu nome, e o sexto o
período das realizações. Talvez a desencarnação do Chico nos coloque no limiar
do quinto período. Logicamente não existe uma demarcação nítida a separar esses
períodos. É hora, também, de lembrarmos a advertência de Leon Denis: O
Espiritismo será aquilo que dele fizerem os homens.
Logicamente não nos faltará a assistência dos bons espíritos, mas todos os
espíritas que pensam, que sentem e agem, estão convocados a escrever esta nova
página do Espiritismo, que o tempo avaliará. A advertência de Léon Denis deve
calar fundo em nossa mente. Somos (todos nós), responsáveis pelos caminhos que o
Espiritismo tomar. Logicamente existem grandes médiuns atuando no movimento
espírita, contudo, todos os que são lúcidos e equilibrados, não estarão pensando
que poderão vir a ocupar o lugar de Chico Xavier.
Compreendam que tudo que escrevemos não é em depreciação ao Chico. Nós também
o amamos e sentiremos muita saudade. Entretanto, é justamente por amá-lo que nos
esforçaremos muito para ajudar, mesmo que palidamente, a construir um novo ciclo
para o Espiritismo.
Ele nos ajudará neste trabalho, porque Francisco Cândido Xavier, ao caminhar
pelo mundo deixou cair das suas sandálias, poeira de estrelas, marcando para nós
o rumo das realizações espirituais. Por isso, você que nos lê, também está
convocado para iniciar a construção de uma nova era espírita.