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A Arca de Noé

Iremos estudar, numa análise crítica, longe do fanatismo religioso, a Bíblia
para que tenhamos uma visão sobre este assunto: ficção ou realidade?

Tomaremos, para isto, alguns versículos dos capítulos 6 a 9 da Gênesis.

“O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido
de intima dor”.
(Gênesis 6, 6).

Que Deus é este que chega ao absurdo de arrepender-se de ter criado o homem.
Onde estava a sua onisciência? Talvez seja um Deus humano, ou seja, de carne e osso
como um ser humano, pois até coração Ele tinha.

“E disse: ‘Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele
os animais, os répteis e as aves dos céus, porque me arrependo de os haver criado’”.
(Gênesis 6, 7).

Se Deus após ver a maldade dos homens (O Senhor viu que a maldade dos homens
era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente
voltado para o mal,
conforme se lê em Gênesis 6, 5) arrepende-se e resolve eliminar
os homens da face da terra, até que tinha seus motivos, mas os animais, os répteis
e as aves dos céus não tinha nenhum motivo para exterminá-los, a não ser por pura
“maldade”, coisa que foi o motivo da condenação dos homens. E os animais que vivem
nas águas eram inocentes?

“Noé era um homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração. Ele
andava com Deus”.
(Gênesis 6, 9).

Vejamos como Noé era um homem justo e perfeito: “Noé, que era agricultor,
plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua
tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez do seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus
dois irmãos”.
(Gênesis 9, 20-22) Quando Noé despertou de sua embriaguez,
soube o que tinha feito o seu filho mais novo. Maldito seja Canaã, disse
ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos”.
(Gênesis 9, 24-25).

Que comportamento exemplar para um homem perfeito, se embebeda e sai nu pelo
acampamento. Que homem justo, quando castiga a Canaã, seu neto, em vez de castigar
a seu filho Cam, que não parece ser o filho mais novo e sim o do meio (“Noé teve
três filhos: Sem, Cam e Jafet”,
em Gênesis 6, 10), por ter visto a sua nudez,
quando a culpa era dele mesmo Noé ao sair pelo acampamento nu como se estivesse
desfilando no Sambódromo em pleno Carnaval.

“Faze para ti uma arca de madeira resinosa, dividi-la-ás em compartimentos
e a untarás de betume por dentro e por fora. E eis como o farás: seu comprimento
será de trezentos côvados, sua largura de cinqüenta côvados, e sua altura de trinta.
Farás no cimo da arca uma abertura com dimensão dum côvado. Porás a porta da arca
a um lado, e construirás três andares de compartimentos”.
(Gênesis 6, 14-16).

No livro A História da Bíblia, de Hendrik Willem Van Loon, tradução de Monteiro
Lobato podemos ler o seguinte: “Noé e os filhos puseram-se ao trabalho, sob a
chacota dos vizinhos. Que estranha idéia construir um navio num lugar onde não havia
água – rio nenhum, e o mar a mil milhas distante!”.
Ora, se uma milha equivale
a 1.609 metros, temos, então, que estavam a 1.609 km do mar. Pela distancia que
moravam do mar é bem provável que não tinham a menor experiência sobre construção
naval, não é mesmo? Assim como conseguiram construí-la?

Conforme pudemos apurar nas notas explicativas o côvado equivale a 45 cm. Então
temos: comprimento 45 cm x 300 = 135 metros, largura 45 cm x 50 = 22,5 metros e
altura 45 cm x 30 = 13,5 metros. Como cada um dos três andares mediria 3.037,5 metros
quadrados, a área total da arca estaria pelos 9.112,5 metros quadrados. Área muito
pequena para caber tudo o que Deus ordenara a Noé colocar lá dentro. Como veremos
na passagem seguinte.

“De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois,
macho e fêmea, para que vivam contigo. De cada espécie de aves, e de cada espécie
de animais que se arrastam sobre a terra, entrará um casal contigo, para que lhes
possa conservar a vida. Tomarás também contigo de todas as coisas para comer, e
armazená-los-as para que te sirvam de alimento, a ti e aos animais”.
(Gênesis
6, 19-21).

Imaginemos: Noé com sua família eram 8 pessoas, soma-se mais um casal
de todos os animais vivos e mais alimentação para as pessoas e os animais que teria
de durar por um ano, quando saiu Noé já tinha um neto, Canaã, qual seria o peso
e o volume disto tudo? Caberia nestes poucos mais de 9.000 metros quadrados? Além
de que a diversidade da alimentação dos animais, como colocar isto dentro da arca?
Mais ainda, não foi ordenado a Noé colocar água dentro da arca, como os seres viveram
por pouco mais de um ano sem água para beber? E o que se come não é eliminado pelo
organismo? Aonde foram jogados os dejetos dos homens e dos animais, pois a arca
estava quase que totalmente fechada? E o ar lá dentro, como deveria estar? Haveria
ainda oxigênio para se respirar nesta arca? Será que com somente 8 pessoas eles
conseguiriam alimentar todos os animais todos os dias, sem um único dia para o descanso,
durante o período de um ano e pouco?

“O Senhor disse a Noé:” Entre na arca, tu e toda a tua casa, porque te reconheci
justo diante dos meus olhos, entre os de tua geração. De todos os animais puros
tomarás sete casais, macho e fêmea, e de todos os animais impuros tomarás um casal,
macho e fêmea, das aves dos céus igualmente sete casais, machos e fêmeas, para que
se conserve viva a raça sobre a terra”.
(Gênesis 7, 1-3).

Aqui se fala em sete casais de animais, puros e das aves, ora, anteriormente
já não havia dito ser de todos os animais um casal apenas? Não estaria em contradição?

“O dilúvio caiu sobre a terra durante quarenta dias. As águas incharam e levantaram
a arca, que foi elevada acima da terra. As águas inundaram tudo com violência, e
cobriram toda a terra, e a arca flutuava na superfície das águas. As águas engrossaram
prodigiosamente sobre a terra, e cobriram todos os altos montes que existem debaixo
dos céus; e elevaram-se quinze côvados acima dos montes que cobriam”.
(Gênesis
7, 17-20).

Na terra encontramos a água nos rios e mares, na atmosfera, nas nuvens, nos lençóis
subterrâneos e em forma de gelo nas altas montanhas e nos pólos. As que se encontram
na superfície correm para as partes mais baixas do planeta, formando os mares. E
segundo a ciência 2/3 do nosso planeta é composto de água. Ora para se ter água
a ponto de cobrir todos os montes da terra, temos duas hipóteses:

1ª – afundamento de toda a superfície de terra; ou…

2ª – as águas da chuva vieram de outro lugar que não a Terra, pois água do nosso
planeta é pouca para cobrir todos os montes altos (Monte Evereste 8.848 metros de
altura).

Se considerarmos um dilúvio localizado, em determinada região da Terra, e não
nela toda, é bem possível a 1ª hipótese, fora disto só em filmes de Steven Spielberg.

Interessante a nota de rodapé constante, nesta passagem, na Bíblia Sagrada, Editora
Vozes: O dilúvio não foi universal mas uma grande inundação que
cobriu o horizonte geográfico de Noé. A existência de histórias do dilúvio em outros
povos primitivos mostra que há uma consciência geral sobre uma catástrofe que ameaçou
a humanidade dos primórdios
. Ótimo, confirma a possibilidade de ser localizado,
entretanto o que não compreendemos é que apesar disso ainda teimam em dizer que
ele foi universal.

“No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do
mês, romperam-se naquele dia todas as fontes do grande abismo e abriram-se as barreiras
dos céus”.
(Gênesis 7, 11).

“No ano seiscentos e um, no primeiro mês, no primeiro dia do mês, as águas
tinham secado sobre a terra. Noé descobriu o teto da arca, olhou e viu que a superfície
do solo estava seca. No segundo mês, no vigésimo sétimo dia do mês, a terra estava
seca”.
(Gênesis 8, 13-14).

Do início do dilúvio e até o dia em que a terra estava toda seca, passaram-se
1 ano e 10 dias (considerando-se o mês de 30 dias). Período confirmado pelo nascimento
de Canaã, neto de Noé, filho de Cam.

Observar que Noé descobriu o teto da arca, o que leva a crer que neste período
todo a arca estava completamente fechada, numa escuridão total. Como viveram os
que lá estavam, neste período todo, sem a luz do sol?

“Ora, Deus lembrou-se de Noé, e de todos os animais e de todos os animais
domésticos que estavam com ele na arca”
. (Gênesis 8, 1).

Ainda bem que Deus se lembrou, pois se isto não tivesse acontecido estaria chovendo
até hoje, assim as águas já teriam transbordado do planeta, atingindo o espaço sideral.

“E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas
as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar”.
(Gênesis
8, 20).

É incrível que depois de todo sacrifício para salvar os animais, queima-os ao
Senhor, o mesmo Deus que ordenara a Noé salvar os animais.

“O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: ‘Doravante,
não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem – porque os pensamentos do seu
coração são maus desde a sua juventude -, e não ferirei mais todos os seres vivos,
como o fiz’”.
(Gênesis 8, 21).

Os animais sendo oferecidos em sacrifício, queimando no altar, e Deus respirando
o cheiro “agradável” de carne queimada. Aqui, novamente, Deus é de carne e osso,
pois até respira e sente cheiro. Na fala entendemos que Deus, finalmente, por compreender
que o homem tinha os pensamentos maus desde a juventude se arrepende de o ter eliminado,
então promete não mais ferir os seres vivos.

“Vós sereis objeto de terror e espanto para todo o animal da terra, toda a
ave do céu, tudo que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles vos
são entregues nas mãos”.
(Gênesis 9, 2).

Bom, deve ter havido algum engano, pois se estiver em nossa frente um leão faminto
ele não vai tremer por estarmos diante dele, com certeza, depois de nos almoçar,
vai deitar e roncar feliz da vida.

“Deus disse:” Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres
vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras. Ponho o meu arco nas nuvens,
para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto
o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei
da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda a espécie e as águas não
causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Dirigindo a Noé, Deus acrescentou:
“Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na
terra”.
(Gênesis 9, 12-15, 17).

Como quase esqueceu que Noé estava na arca durante o dilúvio, e para não correr
o risco de esquecer-se da aliança que agora fazia com Noé, resolve colocar um arco
nas nuvens, assim como nós que amarramos fitinha nos dedos para não esquecermos
de algo que não podemos deixar de fazer.

Afinal, sabe que arco é esse? Não? Então vamos ver o que é na Bíblia Sagrada,
Editora Vozes Ltda., 8ª Edição, em Gênesis 9, 14, 16: “Quando cobrir de nuvens
a terra, aparecerá o arco-íris. Quando o arco-íris estiver nas nuvens eu o olharei
como recordação da aliança eterna entre Deus e todos os seres vivos, com todas as
criaturas que existem sobre a terra”.
É isto mesmo, o famoso arco-íris que aparece
no céu após uma chuva como fenômeno natural, os raios do sol refletindo nas águas
das nuvens se decompõem em 7 cores principais. Processo também obtido com um prisma
de cristal. Mas Deus ainda não tinha conhecimento disto, não é mesmo?

“Noé viveu ainda depois do dilúvio trezentos e cinqüenta anos; a duração total
da vida de Noé foi de novecentos e cinqüenta anos, e morreu”.
(Gênesis 9, 28-29).

Entre outros de longa vida, temos Noé com 950 anos, frontalmente contra os argumentos
dos cientistas que colocam a vida humana bem abaixo disto, com um tempo próximo
desta narrativa: “O Senhor então disse: ‘ Meu espírito não permanecerá para sempre
no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será só de cento e vinte
anos’”.
(Gênesis 6, 3) É de se perguntar, será que Deus não se lembrou de Noé
e ele conseguiu ultrapassar a duração da vida que Ele tinha fixado em 120 anos?

Como conclusão, podemos verificar que existem fatos na Bíblia que fogem ao censo
lógico e científico. Não deixando de citar as adulterações efetuadas (como no caso
do arco-íris, que não consta da Bíblia editada pela Editora Ave Maria), sabe-se
lá porque motivos. Assim podemos aceitar que a história de Noé como relatada é fantasiosa,
entretanto como a questão do dilúvio parece constar da cultura de outros povos,
poderemos até aceitar, mas somente se ele tiver sido algo localizado e não sobre
a terra toda.

E para confirmar que a história de Noé, não passa de uma lenda, vamos ver o que
consta da Revista Galileu, Fevereiro/2001, nº 115:

As raízes de Noé

Lendas sobre grandes dilúvios estão espalhadas entre diferentes culturas.
Estima-se que cerca de 300 histórias desse tipo já tenham sido registradas. A de
Noé, no entanto, é a mais famosa na civilização ocidental.

Estudiosos apontam que o Dilúvio, parte do livro do Gênesis, tenha sido escrito
entre 550 a.C. e 450 a.C., período em que os judeus mais influentes de Jerusalém
foram aprisionados na Babilônia. “O Gênesis cumpria o papel de reforçar a identidade
desse povo”, explica Fernando Altemeyer, professor de teologia da PUC. Inspirado
na literatura babilônica, o livro mostrava que os judeus tinham uma história e um
passado respeitável e deveriam buscar seu futuro a partir daqueles ensinamentos
de seus antepassados.

A história de Noé tem muito em comum com um poema babilônico escrito por volta
de 1600 a.C., que faz parte do Épico de Gilgamesh. O poema trata de um rei
mítico chamado Atrahasis, que é avisado a tempo pelos deuses de que um dilúvio está
prestes a destruir a humanidade. Atrahasis constrói então uma enorme embarcação,
e nela coloca sua família, seus pertences e alguns animais. As semelhanças entre
o Gênesis e Gilgamesh são muitas. A lenda babilônica, por sua vez, também não é
original, mas baseada em uma história suméria cerca de mil anos mais antiga, provavelmente
assimilada pelos babilônicos durante a conquista da região.

A versão babilônica não influenciou somente o Antigo Testamento. Entre os
gregos, a lenda era muito popular, pois eles mesmos já tinham presenciado a fúria
das águas devido à erupção de um vulcão no século 15 a.C. Dos gregos, a história
passou aos romanos, e dessa vez, quem assume a autoria do dilúvio é o deus Júpiter,
enfurecido com a má conduta humana.

Fev/2001.

Bibliografia:

  • Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria Ltda., 68ª edição;
  • Bíblia Sagrada, Editora Vozes, 8ª Edição.
  • A História da Bíblia, Hendrik Willem Van Loon, tradução de Monteiro Lobato,
    Editora Cultrix, São Paulo, 1981.
  • Revista Galileu, fevereiro/2001, Ano 10, nº 115, Editora Globo.