A Doutrina Espírita Consoladora
É com muito acerto que ao Espiritismo chamamos “O Consolador”. Há, mesmo sob esse título, um livro ditado por Emmanuel ao médium Francisco Cândido Xavier.
Efetivamente, e a concepção filosófica e religiosa mais consoladora de quantas se apresentam com foros de legítima revelação. Consoladora, lógica, inteligível. Tudo explica sem circunlóquios e sem hermetismo, à compreensão dos mais humildes e dos menos cultos. Sem interpretação forçada de textos sagrados. Sem dogmas impostos como ultimato, mas sim com base em fatos irrefutáveis e sob os influxos de sadia dialética e do veredicto da Ciência.
O Espírito não é mais uma abstração. As comunicações com o outro mundo, de tão constantes e evidenciadas, já ninguém se atreve a negá-las ou atribuí-las a prestidigitações ou artes diabólicas. Os mensageiros do Alto dissipam dúvidas seculares, nos apontam o roteiro seguro. Sobretudo fazem-nos cônscios de nossos deveres e de nossa destinação.
Insuflam-nos alento e esperança. Conduzem-nos a fé raciocinada, não mera crendice, mas convicção plena, a um passo da certeza absoluta.
Segundo a Doutrina Espírita, o Criador, suprema perfeição, age por suas leis, por si mesmas justas e misericordiosas, sem exercer vinganças, sem distribuir privilégios, sem condenar seus filhos a suplícios eternos. O seu a seu dono. O devedor a resgatar sua dívida. Ao bom e diligente obreiro, o justo salário. Nunca ninguém a arcar com alheias responsabilidades – o que é inconcebível até pela nossa precaríssima justiça humana.
A lei da Reencarnação é a autêntica lei de Ação e Reação. Como é notório, a toda causa sobrevém, facilmente, um efeito. Acaso é palavra vã.
Por que tanta dessemelhança de dotes intelectuais, de situações sociais e financeiras, de modalidades de provações? Porque cada caso é um caso. Efeitos diferentes de causas diferentes.
Embora filhos dos mesmos pais, podem coexistir num mesmo lar dois irmãos completamente desiguais: um, sadio, forte, inteligente, para quem a vida sorri, o futuro é todo promessas; o outro, coitado! franzino, enfermiço, débil mental, fisicamente deformado um monstrengo, fadado a curtir, indefeso, o fel duma “sina” madrasta. Negação da tão decantada lei da hereditariedade. Pois não provieram do mesmo tronco, da mesma natureza de cromossomos, de iguais condições genéticas?
E por que Deus, que é Amor, Bondade e Justiça, permitiu tamanha disparidade na vida desses dois seres humanos? É que – ensina o Espiritismo – um deles reencarnou para prosseguimento de sua evolução e colhe os frutos duma existência anterior relativamente virtuosa e de labor construtivo. O outro, pelo contrário, em vida pregressa, desbaratou os talentos divinos, praticando toda sorte de indignidade. Purga, hoje, os desmandos de ontem.
Se o Espírito fosse criado no instante do nascimento do corpo e se a existência humana se limitasse a uma única e meteórica passagem pela Terra, onde a Misericórdia Divina que condenaria, assim, um ser recém-criado e, por conseguinte, isento de culpa, aos mais ingentes sofrimentos?
Infortúnio sem motivação? Predestinação para o gozo ou para a martirização?
Então, Deus seria parcial, agiria por capricho, não seria a suma perfeição. Mas ao sofredor resta o sublime consolo: o sofrimento é transitório. A vida e eterna, a evolução, fatal e infinita. Poderá ser lenta a depuração, mas carece ser feita integralmente. O culpado reencarnará tantas vezes quantas necessárias ao ressarcimento de suas culpas. Saldo o débito, irá galgando, progressivamente, mundos superiores, nos quais fruirá paz e felicidade crescentes. Sempre por mérito próprio, independentemente de “graças” ou protecionismo.
Consoladora doutrina, o Espiritismo. O Consolador prometido por Jesus.
Aureliano Alves Neto