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A Espiritologia e a Teoria Espírita dos Fenômenos Psíquicos

Paulo Toledo Machado

Parte I

A Ciência do Espírito tem por objetivo a Investigação e o estudo do Fenômeno Espírita

O Espiritismo, revelando a existência do mundo dos Espíritos, e, conseqüentemente, a pré-existência e a sobrevivência do Ser; que a morte não existe ou que esta é, simplesmente, a destruição do corpo material; a possibilidade da intercomunicabilidade entre o mundo material e o mundo espiritual, isto é, a comunicabilidade entre os chamados vivos e os chamados mortos, dimensionou o campo do Conhecimento.

A Epistemologia Espírita traz novas luzes. À noção imprecisa, vaga, pouco clara, que herdamos acerca da vida futura, e que nos deixava não poucas dúvidas, com o Espiritismo desapareceu. A vida futura, para nós, espíritas, hoje é uma realidade.

Identificando o Espírito como as individualidades dos seres extra-corpóreos, o Espiritismo no mostra “a vida da alma, o ser essencial, porque é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, estendendo-se indefinidamente pelo futuro, de tal sorte que a vida terrena, mesmo de um século, não passa de um ponto nesse longo percurso” (RE, ano 1862, EDICEL, p. 192) e demonstrou a existência do perispírito, envoltório semi-material e inseparável do Espírito, que dele se serve para transmissão do seu pensamento.

A Teoria Espírita dos Fenômenos Psíquicos se funda, pois, nos seguintes princípios: a existência do Espírito, sua preexistência e sobrevivência ao corpo físico, suas manifestações e a existência do perispírito.

E, sendo assim, é válido lembrarmos, porque, esta verdade, é conhecida de todos os espíritas – que não há, para o Espiritismo, fenômeno psíquico sem ALMA ou ESPÍRITO, melhor dizendo. E é, por essa razão, que fenômeno psíquico, no Espiritismo, é chamado FENÔMENO ESPÍRITA.

FENÔMENO ESPÍRITA é abrangente, global, porque ele é resultante das manifestações do Espírito, encarnado ou desencarnado. O estudo cuidadoso da obra espírita, que codifica os ensinos dos Espíritos, compendiada por Allan Kardec, não nos deixa dúvidas.

O Fenômeno Espírita

FENÔMENO ESPÍRITA, dissemos atrás, é abrangente, global e entendemos ser genéricoEle abrange os fenômenos que se produzem com a intervenção dos Espíritos, encarnados ou desencarnados. No primeiro caso, temos os fenômenos espíritas anímicos ou da emancipação da alma e, no segundo caso, os fenômenos espíritas da mediunidade ou mediúnicos. Em ambos os casos o Espírito é sempre o agente ou a causa.

É uma posição espírita e não psiquista. De fato, o nosso querido e sempre lembrado João Teixeira de Paula, muito escolástico, considerando o Fenômeno Psíquico genérico, considera o Fenômeno Espíritaespécie (Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, ed.Cultural Brasil Editora, Ltda., 1973, 3a. ed. V. 1, p. 117). Para ele o Fenômeno Psíquico abrange o Espírita ou Espirítico, assim como o Psicológico e o Anímico (ou Personismo).

Allan Kardec adicionou ao título da “La Revue Spirite” o subtítulo “Journal d’Études Psychologiques et de Spiritualisme Experimental“, porque o quadro que ela abrangeria compreenderia “tudo quanto se ligasse ao conhecimento da parte metafísica do homem, “pois estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem” (RE, ano 1858, EDICEL, p. 5).

A classificação que propomos poderá não ser pacífica nem entre os espíritas, em razão do cientificismo ou dogmatismo científico. Mas, se “a classificação dos fenômenos metapsíquicos depende, naturalmente, do ponto de vista em que nos colocamos, como nota “Flournoy” (Dr. Lobo VILELA, Revista de Metapsicologia, no. 4, ano 1951, p. 362) o nosso posicionamento, além de doutrinário, é espiriticamente didático.

Allan Kardec emprega sempre a denominação Fenômeno Espírita, defendendo e explicando a hipótese espírita.

Em “O Livro dos Médiuns“, o insigne Mestre nos dá a explicação teórica dos Fenômenos Espíritas. Ele não se refere a Fenômeno Psíquico. Isto é, Kardec não emprega esta denominação. Para classificar o Fenômeno Espírita, Kardec o divide quanto aos seus efeitos. Assim, o Fenômeno Espírita, segundo Kardec, pode ser de efeitos físicos e de efeitos intelectuais. A denominação Fenômeno Espírita é genérica. Efeitos físicos e efeitos inteligentes são espécies (O Livro dos Médiuns, FEB, 1904, 5a. ed. p. 36).

O Fenômeno Espírita de Efeitos Físicos são todos aqueles decorrentes de efeitos sensíveis, como os ruídos, o movimento e o deslocamento de corpos sólidos (o movimento circular das mesas conhecidas sob o nome de “mesas girantes”) e as pancadas.

O Fenômeno Espírita de Efeitos Inteligentes são todos aqueles que provam “qualquer ato livre e voluntário, exprimindo intenção, ou respondendo a um pensamento (ob. cit. p. 69). Mas, é importante observarmos, que Kardec estudou e aprofundou o seu trabalho com destaque para o Fenômeno Espírita da Mediunidade ou, se quiserem, o Fenômeno Espírita Mediúnico, que pode ser de efeitos físicos ou de, efeitos inteligentes, espontâneos ou provocados. O próprio título da obra O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns ou dos Evocadores, e o conteúdo dela relativamente ao “ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicar com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se encontram na prática do Espiritismo” (aqui cabe observar que Espiritismo é expressão usada em lugar de Mediunismo), situa o seu interesse, pelo menos o mais imediato.

Mas, não temos dúvidas, que o trabalho de Kardec e o interesse dos Espíritos Codificadores, necessariamente, tinha que ser voltado para o Fenômeno Espírita da Mediunidade. E, também, não foi outra a preocupação de tantos cientistas que pesquisaram o Fenômeno Espírita. O Dr. Schrenck-Notzing escreveu uma obra com o título “Les Phénomènes Pshysiques de Ia Médiumnité” , Edição Payot, Paris, 1925, com prefácio do Professor Charles Richet, que se soma a tantos outros trabalhos, tornando numerosa e rica a bibliografia espírita acerca dos Fenômenos Espíritas da Mediunidade.

Não obstante, não podemos deixar de considerar, segundo o próprio Codificador, que o Espiritismo compreendendo, além da parte Filosófica, relativa às manifestações inteligentes, compreende uma parte Experimental, e que ela é relativa às manifestações em geral. E esta parte Experimental, no que diz respeito aos Fenômenos Espíritas Anímicos ou da Emancipação da Alma, reclama dos espíritas estudiosos dos nossos dias um interesse maior objetivando uma metodologia de pesquisa e uma sistematização de estudo, com base na alma encarnada, para explicação dos fenômenos psicológicos. E, sobretudo, para que o Espiritismo reconquiste as áreas invadidas pela Metapsíquica, Metagnomia, Metapsicologia, Parapsicologia, Psicotrônica, Metapsicofísica, Biopsíquica, Parafísica, e outras, e, como ciência espiritologia, dê claridades à Psicologia, fazendo dela uma verdadeira Espiritologia.

O Espírito

“L’ AME, l’être immaterial et individuel qui reside em nous et qui survit au corpg” (Le Livre des Esprits, par Allan Kardec, Paris, E. Dentu, Librairie, 1857, p. 2), traduzindo, “a alma é o ser imaterial e individual que reside em nós e que sobrevive ao corpo” e que nós, espíritas, denominamos Espírito.

Aliás, para ficar mais claro, devemos dizer que foram os próprios Espíritos que assim se declaram: “L’être mysterieux qui repondait ainsi, interrogué sur sa nature, declara qu’il était esprit ou génie, se donna um nom, et fournit divers renseignements surson compte”(ob. cit. p. 6) (O ser misterioso que respondia, interrogado sobre sua natureza, declarou que era Espírito ou Genio, deu seu nome e forneceu ainda diversas informações a seu respeito).

O ser misterioso foi interrogado acerca de sua natureza, porque era desconhecida a natureza da causa dos fenômenos, das manifestações, que, então, se produziam.

Assim, se identificou, para nós, espíritas, a causa e por que não dizermos o agente dos fenômenos psíquicos, e “comme ayant appartenu, pour quelques-uns du moins, aux hommes qui ont vécu sur Ia terre” (ob. cit. p. 9) (e se apresentam como havendo pertencido, alguns deles pelo menos, a homens que viveram anteriormente na Terra).

No entanto, como o propósito maior deste nosso trabalho é despertar o interesse dos estudiosos e pesquisadores espíritas com relação aos fenômenos espíritas anímicos ou de emancipação da alma, a questão da existência dos Espíritos se torna secundária, pois ela não constitui o ponto de partida.

Sendo os Espíritos as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida, está na existência da alma“. (O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, FEB, 1904, 5a. ed. p. 22).

A Alma

A Alma“, para nós espíritas, e segundo os Espíritos Codificadores, “é um Espírito encarnado” (Resposta à questão 81, de “Le Livre des Esprits”, parAllan Kardec, Paris, E. Dentu, Librairie, p. 53).

Parece-nos que, hoje, não se discute a existência da Alma e que o estudo dos caracteres antagônicos de Alma e do corpo, resolve a questão da distinção entre um e outro.

Mas, não é pacífica a idéia que filósofos e cientistas, desde tempos atrás até hoje, conceberam e concebem.

Alma, para os espiritualistas, é uma substância imaterial, distinta do corpo e capaz de existir por si só; para os materialistas, é uma simples função do organismo, do qual faz parte integrante e sem o qual não pode subsistir” (Noções de Psicologia, de lago Pimentel, Melhoramentos, S. Paulo, 1953, p. 7).

Para os materialistas, a Alma é efeito; para os espiritualistas, a Alma é causa.

Wilhelm Wundt, filósofo, psicólogo e fisiologista alemão (1832-1920), não concorda com o conceito substancialista da Alma. Ele propõe um conceito atualista: “a Alma é a diversidade de acontecimentos enlaçados entre si” (“La Psicologia Contemporânea” , de J. Vicente Viqueira, Barcelona, Editorial Labor, S/A, 1937, 2a. ed., p. 34).

Para o fenomenismo a Alma é uma série de fenômenos, como sejam emoções, idéias, etc.

O que se chama Alma“, diz Littré (Maximiliano Paulo Emílio Littré, filólogo e filósofo francês, discípulo de Augusto Conte, 1801-1881) é, na realidade, o conjunto das funções do cérebro e da medula espinal. É o materialismo negando o substancialismo.

Como se vê, não é fácil, para os não espíritas, definirem ou conceituarem a Alma. É vasta a imaginação. A existência da Alma para eles é, necessariamente, uma admissão, sem a qual os fatos da vida psíquica se tornam inexplicáveis. Está aqui, é óbvio, uma outra razão para que o Espiritismo, desenvolvendo o seu estudo e a sua pesquisa, posicione o seu ponto de vista acerca dos fenômenos psicológicos, sejam os chamados orgânicos -extensos e quantitativos, ou psíquicos – inextensos e qualitativos. E esse posicionamento demonstrará que esses fenômenos, embora de naturezas aparentemente diversas e irredutíveis, provêm de uma mesma “substância“: a Alma ou Espírito encarnado, considerado o corpo etéreo ou perispiritual de que se reveste.

O Fenômeno Psíquico

O emaranhado vocabularismo da fenomenologia psíquica e a complexidade da classificação de sua nomenclatura constituem um sério problema.

No campo das pesquisas psicológicas são enormes as divergências em torno das hipóteses formuladas. Nunca se formulou uma hipótese satisfatória.

Os estudantes do Hipnotismo estão, como sempre estiveram, desde os dias de Mesmer, divididos. A teoria das emanações fluídicas de Mesmer, por ele chamada de “magnetismo animal” é contraditada por uns e aceita por outros.

A teoria elétrica de Bove e Dods – pulmões positivos e sangue negativo – teve seus adeptos (A Lei dos Fenômenos Psíquicos, por Thonson Jay Hudson, traduzida por D. Santos, São Paulo, Livraria Liberdade, 1926, p. 5).

A explicação fisiológica de Braid, de certas classes de fenômenos, “satisfaz aqueles que acreditam que no homem não existe coisa alguma que não possa ser pesada na balança ou dissecada com o escalpelo”.

A Escola de Salpetrière sustentou que o hipnotismo era uma moléstia do sistema nervoso, e que seus fenômenos era explicáveis pelos princípios fisiológicos.

A Escola de Nancy sustentou que a sugestão era o fator ultra potente na produção de todos os fenômenos hipnóticos.

Braid, a Escola de Salpetrière e a Escola de Nancy, contrariando antigos hipnotistas, negam a possibilidade de se produzirem “os altos fenômenos de hipnotismo, conhecidos como clarividência, transmissão de pensamento ou leitura mental’ (ob. cit. p. 5).

No entanto, o Fenômeno Psíquico (do gr. phainómenon, aparição; e psykhikós, alma), considerando-o genérico, é qualquer manifestação de ordem psíquica, ou fenômenos da Psique ou da Alma.

Assim, simplificando diremos que a fenomenologia psíquica é dividida em FENÔMENOS NORMAIS e FENÔMENOS ANORMAIS. A primeira classe, que são habituais, entra nos quadros da Psicologia e muitas vezes nos da Psiquiatria. A segunda classe, de fenômenos inabituais, toma diversos nomes, como “o de Investigação Psíquica, Metapsíquica, Metapsicologia, Parapsíquica, Sexto Sentido, Percepção Extrasensorial, Metagnomia, Paranormal, ou Extra-normal e outros aplicáveis unicamente a determinados ramos, como Telepatia, Psicometria, Clarividência, Psicografia, etc.” (Dicionário Esotérico, por Zaniah, Buenos Aires, Editorial Kier, 1962, p. 103).

 

Parte II

Conclusão do artigo iniciado no Boletim 456

A PSICOLOGIA

Psicologia, ou, por primeiro, a Pneumatologia, segundo Leibnitz (Nouveaux Essais, 1704, IV, cap. XXI), que se definia como a parte da Filosofia que estuda a alma, tinha por objeto, desde os tempos da civilização grega até o século passado, a existência da alma, sua essência e natureza, e, posteriormente, o estudo da percepção, da memória, das paixões, etc.

Sob a influência de outras ciências, como a Física, a Biologia, e outras, os psicólogos passaram a estudar os fenômenos da consciência, deixando de se preocupar com a Alma, que, “não tendo existência física, não podia ser estudada em termos científicos” (Psicologia Geral, de Afro do Amaral Fontoura, Rio de Janeiro, Gr. Aurora, 1966, 12a. ed. p. 25).

Mas não parou aí o objetivo da Psicologia. Ele evoluiu do Estudo da Alma para o Estudo da Consciência, como acima nos referimos, e do Estudo da Consciência para o Estudo do Comportamento e deste para o Estudo da Conduta, considerando-se neste o conjunto de fenômenos mentais como causa da conduta.

Daí, muitos definirem, hoje, a Psicologia como a ciência que estuda a conduta.

É enorme o número de definições, e a idéia da Alma difere, de um psicólogo para outro, dada a divergência entre eles, quanto à natureza da Alma.

Harald HOFFDING, filósofo dinamarquês, nascido em Copenhague, em 1863, na sua obra PSYCHOLOGIE (ed. 1900, p. 1), diz que a Psicologia não está obrigada a explicar o que é a Alma, porque a Física não está obrigada a começar explicando o que é a matéria.

Os filósofos do passado objetivaram no estudo da Psicologia os fatos internos do homem.

Sócrates considerava que é preciso que nós nos conheçamos a nós mesmos para chegarmos à sabedoria, que se identifica com o conhecimento de Deus. Ele distinguia, partindo desse princípio, o mundo interno do mundo externo.

Aristóteles no seu tratado sobre a Alma, no qual divide a Filosofia em quatro partes: Lógica, Ética, Física e Metafísica, não incluiu a Psicologia porque, para ele, esta fazia parte de todas as disciplinas filosóficas. Por sua vez, Renato DESCARTES, filósofo e matemático francês (1596-1650), entendia que a Psicologia era uma parte distinta da Filosofia.

Hobbes (Thomaz), filósofo inglês (1588?1679), partidário do materialismo, e Baruch Espinosa, filósofo holandês (1830-1677), apoiam-se no princípio da concomitância dos processos orgânicos e psíquicos. E, dessa forma, é invocada a lei de associação para reduzir a complexidade da vida espiritual aos seus elementos componentes. O associanismo, como doutrina psicológica, explica, então, os fenômenos psíquicos por meio da associação, rejeitando a doutrina da faculdade.

Os positivistas do século XIV, por sua vez, consideram a Psicologia como uma ciência experimental, independente da Filosofia e sem relações especiais com a Metafísica, a Lógica e a Moral.

Não se pode negar que a Psicologia Experimental, como ciência autônoma, é uma conquista dos tempos modernos, dado o impulso que a Psicofísica ou Psicofisiologia, a Psicocronometria e outras lhe trouxeram.

Como decorrência das muitas maneiras pelas quais os fenômenos psíquicos têm sido estudados, surgiram muitas outras disciplinas psicológicas, dando maior amplitude ao problema psicológico.

Apenas para referir citamos a Psicodinâmica, que estuda os efeitos dinâmicos dos fenômenos psíquicos; a Psicofísica, que, segundo Fechner, é o ramo da Psicologia que estuda, experimentalmente, as relações entre os fenômenos psíquicos e os fenômenos fisiológicos (o que hoje é denominado de Psicologia Experimental), a Psicogênese, que estuda a origem e o desenvolvimento da psique (termo usado como sinônimo de Alma ou Espírito) no indivíduo ou na espécie (esta dita Psicogênese Filética); a Psicografia, que, conforme Ampère, é a parte da Psicologia que descreve os fenômenos da consciência, sem explicá-los. E, assim, seguem-se outros ramos, como a Psicologia Coletiva ou Social; Psicologia Comparada; Psicologia Etnográfica; Psicologia Pedagógica; Psicologia Segmental: Psicologia Zoológica; Psicometria; Psicocronometria; Psicoestática; Psicopatologia; Psicoanálise (doutrina de Freud, aceita especialmente pelos nevrologistas) e mais outros.

Resumindo, a Psicologia estuda a Alma em suas manifestações ou fenômenos e em sua natureza essencial. Assim, no primeiro caso, temos a Psicologia Experimental e, no segundo, a Psicologia Racional. Para os materialistas a Psicologia é um ramo das ciências naturais e, para os espiritualistas, um ramo das ciências do Espírito.

É claro que compreendemos que esse volume de correntes e escolas psicológicas são decorrentes das variadas intensidades dos fachos luminosos que atingem este ou aquele filósofo ou psicólogo.

Mas, compreendemos, também, que não alcançando a Psicologia uma definição mais uniforme e uma conceituação mais unitária, bem pouco ela pode nos dizer acerca da Alma, entendida esta como Espírito reencarnado, e a respeito de suas manifestações ou fenômenos e mesmo em sua natureza essencial, não considerando as suas vidas anteriores e experiências pregressas, que repercutem no seu avatar presente, e desconhecendo a existência do seu perispírito ou corpo fluídico, de que é revestido, e que se faz “intermediário de todas as sensações que o Espírito recebe, e por meio do qual transmite a vontade externamente e atua sobre os órgãos” (“O Livro dos Médiuns”, por Allan Kardec, Rio de Janeiro, FEB, 1904, 5a. ed. p. 60) “e a que se não dá muita atenção nos fenômenos fisiológicos e patológicos” (ob. e p. cit.) e que constitui “uma causa incessante de ação” (ob e p. cit.).

À Psicologia, se bem examinarmos, poderemos propor que seja parte da Espiritologia. O que me parece não podemos pensar é em uma Psicologia Espírita, por entendermos que descabe o vocábulo espírita como adjetivação. E bem considerando, também nos parece ser impossível fazermos da Psicologia, tão segmentada e conflitante, uma verdadeira Espiritologia, fundada numa doutrina, que é o Espiritismo, oriundo de um processo sintético de conhecimento, com uma concepção nova e de natureza global para o estudo dos problemas humanos, como bem se refere o nosso nunca esquecido companheiro de tantas jornadas espíritas Herculano Pires, “in” “Parapsicologia e suas perspectivas” ; obra de cuja primeira edição tivemos a honra de ser “padrinho”.

OS PROCESSOS CIENTÍFICOS OU DISCIPLINAS CIENTÍFICAS QUE INVESTIGAM OS FENÔMENOS PARANORMAIS

Dissemos atrás que, simplificando, a fenomenologia psíquica é divida em FENÔMENOS NORMAIS, os que entram nos quadros da Psicologia e muitas vezes nos da Psiquiatria, e FENÔMENOS ANORMAIS, os que são objetos da investigação por inúmeros processos ou disciplinas científicas.

Esclareçamos agora que FENÔMENOS ANORMAIS não quer dizer que sejam “aqueles que possam ser contrários às leis naturais, mas aqueles que se nos apresentam de uma maneira inusitada e inexplicável’ (Dicionário Enciclopédico Ilustrado. – Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, de João Teixeira de Paula, Editora Bels, S.A. ?1976, 3a. ed. p. 166).

Digamos, também, que ANORMAL “é o mesmo que Abnormal, Hiperfísico, Hipernormal, Hiperpsíqulco, Metanormal, Metapsicofísico, Metapsicológico, Metapsíquico, Parafísico, Paranormal, Parapsi-cológico, e seguem muitas outras denominações.

No II Congresso Internacional de Pesquisas Psíquicas, realizado em Varsóvia, Polônia, em 1923, em homenagem a J. Ochorowicz, foi aprovado que a expressão CIÊNCIAS PSÍQUICAS devia aplicar-se aos fenômenos que em França se conheciam por METAPSÍQUICOS e na Alemanha por PARAPSICOFÍSICOS.

As ciências psíquicas avolumaram-se com o surgimento da METAGNOMIA, METAPSICOLOGIA, PARAPSICOLOGIA, PSICOTRÔNICA, BIOPSÍQUICA, PARAFÍSICA e outras.

Ora, como as ciências psíquicas se conceituaram com base nos fundamentos, sustentados por Eugéne OSTY, médico e investigador metapsíquico (1874-1938) e na decisão do precitado Congresso, objetivando o conjunto dos fenômenos extranormais, que são tributários do espírito humano, conquanto pareça irem eles além das possibilidades fisiológicas do cérebro, excluíram os fenômenos espiríticos. E, dessa forma, os fenômenos espiríticos ficaram no espaço (isto sem qualquer alusão ao fato de os fenômenos espíriticos serem compreendidos no meio científico geral como fenômenos das almas dos mortos e por isso mesmo não aceitos).

Mas o nosso saudoso João Teixeira de Paula estrilou contra essa exclusão: “Aí repousa a nossa discordância, porque, ao nos referirmos a Ciências Psíquicas, incluímos nela não só o conceito de OSTY e o do Congresso, mas também o dos fenômenos espiríticos” (ob. cit. p. 21).

O Dr. Hernani Guimarães Andrade, também um querido amigo que muito admiramos, se fez também lamurioso: “lamentavelmente, é tendência da Metapsíquica negar a manifestação dos Espíritos, atribuindo ao médium as faculdades necessárias e suficientes para desencadear todos os fenômenos” (“A Teoria Corpuscular do Espírito”, por Hernani Guimarães Andrade, São Paulo, 1958, 1a. ed.).

No entanto, nós, como os caríssimos confrades que nos lêem, bem podem ter percebido, não partilhamos dos lamentos, porque, também, não partilhamos da idéia desses grandes e respeitáveis companheiros de que o Fenômeno Espírita seja parte integrante do Fenômeno Psíquico. Para nós, como nos referimos, o Fenômeno Espírita é gênero e não espécie, ele é global e não segmento, e é com base nesta posição que entendemos que nós espíritas temos que articular a Espiritologia, a ciência do Espírito.

Não podemos nos distender mais neste capítulo. Assim, aqueles que quiserem conhecer a Metapsíquica de Charles RICHET, a Metagnomia de Emile BOIRAC, a Metapsicologia, proposta com restrições pelo Congresso Internacional de Pesquisas Psíquicas, realizado em Varsóvia em 1923, a Metapneumática, de MIRVILLE, a Parapsicologia de J. B. RHINE, a Psicobiofísica, a que tanto se liga Hernani Guimarães ANDRADE, e outras, respeitosamente sugiro que lancem mão das respectivas bibliografias.

A ESPIRITOLOGIA

O LIVRO DOS ESPÍRITOS todos sabem que se compôs, definitivamente, com a sua reimpressão em 1860. Ele contém quatro livros ou quatro partes:

    • LIVRO PRIMEIRO
      • As Causas Primárias
    • LIVRO SEGUNDO
      • O Mundo Espírita ou dos Espíritos
    • LIVRO TERCEIRO
      • As Leis Morais
  • LIVRO QUARTO
    • Esperanças E Consolações.

Pois bem, o LIVRO SEGUNDO contém, para nós, a doutrina da ESPIRITOLOGIA ou melhor a ESPIRITOLOGIA RACIONAL OU TEÓRICA, e, em O LIVRO DOS MÉDIUNS, que trata do Espiritismo Experimental, nós encontramos as teorias de todos os gêneros de manifestações, que podem embasar a ESPIRITOLOGIA EXPERIMENTAL.

Portanto, para nós, a Espiritologia é a ciência do Espírito que tem por objeto o estudo do Fenômeno Espírita. Ela se divide em Espiritologia Racional ou Teórica e em Espiritologia Experimental ou Prática. A primeira se ocupa do Espírito como ser ou individualidade. A segunda se desdobra na investigação dos fenômenos espíritas anímicos ou da emancipação da alma e dos fenômenos espíritas da mediunidade ou mediúnicos.

A classificação dos fenômenos espiritológicos, que abrangem os anímicos, os mediúnicos, os físicos extra-somáticos, os físicos-somáticos, os mentais, os personísticos e os telepáticos, a sua definição e a sua conceituação, constituirão, sem dúvida, um excelente programa de trabalho.

Como todas as demais ciências a Espiritologia também se relaciona com outras ciências ou disciplinas científicas, dentre as quais a Biologia, a Fisiologia, a Física, a Química e outras como oportunamente veremos.

Quanto ao Perispírito, que tem cerca de 70 outras denominações, entre elas as de Aerossoma, Corpo Fluídico, Corpo ódico, Corpo Pneumático, Duplo Fluídico, Ka, Psicossoma, e que presumem se desdobrar no corpo bioplásmico, que alguns chamam de “modelo organizador biológico“, temos que aprofundar o seu estudo para avaliá-lo como “o molde fundamental da existência para o homem” (“Roteiro”, Francisco Cândido Xavier, FEB, Rio de Janeiro, Cap. VI, p. 29).

E quanto ao vocábulo ESPIRITOLOGIA, formado de espírito mais logia, significa Ciência, tratado de Espiritismo (Dicionário Enciclopédico Ilustrado – Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, de João Teixeira de Paula, Editora Bels., 1976, 3a. ed. p. 85).

AZEVEDO SILVA, na sua obra FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS DO ESPIRITISMO, editada em 1941, publicou a tese que apresentou ao ” 1 °: Congresso Brasileiro de Jornalista Espíritas, que funcionou de 15 a 24 de Novembro de 1939, no salão da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Nesta sua tese, ele nos reservou valiosa contribuição acerca da classificação das ciências. Nós vamos, com a máxima vênia, reproduzi-Ia:

Assim, estudando a natureza e relação das ciências, dividiu-as Spencer (Classification des Sciences, par Herbert Spencer, Paris, Ancienne Librairie Germer Baillière et Cie., 1893, p. 6) em duas categorias:ciências que têm por objeto as relações abstratas, pelas quais os fenõmenos se apresentam, e ciências concretas, que têm por objeto os próprios fenômenos“:

Desse critério resultou esta classificação:

  • CIÊNCIAS ABSTRATAS
    • Lógica
    • Matemática
  • CIÊNCIAS ABSTRATO/CONCRETAS
    • Mecânica
    • Física Química
  • CIÊNCIAS CONCRETAS
    • Astronomia
    • Psicologia
    • Sociologia

Não nos parece lógica esta classificação do notável pensador e filósofo inglês, pois Mecânica não é ciência-tronco, é uma derivação da Matemática; não deve, pois figurar na relação. Psicologia e Sociologia, igualmente, não são duas, uma é derivada da outra: Sociologia da Psicologia. Ciência-mater seria, pois, esta última, de vez que não pode haver sociedade sem que haja o comércio das almas.

Nesta classificação Spencer procurou retificar a de Augusto Comte, que assim as desdobrou:

  • MATEMÁTICA
  • FÍSICA
  • QUÍMICA
  • ASTRONOMIA
  • BIOLOGIA
  • SOCIOLOGIA
  • MORAL

Esta classificação carece, realmente, de ser retificada, não só porque o Mestre do Positivismo se esqueceu de sua própria ciência – a Lógica, como porque a Sociologia e Moral, tal como Psicologia e Sociologia, diferenciadas por Spencer, também não são duas, mas uma só ciência, pois que a Sociologia descansa na Moral, como base do Direito.

(Publicado no Boletim GEAE Número 457 de 10 de junho de 2003)