Raul Franzolin Neto
Não há dúvida alguma de que a característica comportamental do ser humano, a humildade, influi de maneira decisiva nos rumos da vida em sociedade. Desde os tempos mais longínquos de vida na Terra, em que a natureza obrigava o homem a empregar grandes esforços na sua luta pela sobrevivência em um mundo hostil, é de se esperar que a união em harmonia e equilíbrio promova melhores resultados do que a sociedade onde impera a vaidade, o orgulho, o individualismo e a falta de humildade em atos e ações.
Nos dias modernos, com o avanço científico e tecnológico, onde a transformação de bens materiais brutos em componentes imprescindíveis à vida do homem moderno, cada vez mais a competitividade na geração do trabalho pessoal e coletivo torna-se maior e mais forte, sendo o fator humildade o grande diferencial para o sucesso de uma reencarnação produtiva e mais feliz.
Assim, estudarmos a humildade como componente do comportamento humano, visando melhor desempenho da sociedade, é fundamental a fim de promover as reestruturações e adaptações no novo mundo regenerado.
Analisar a humildade do ponto de vista de bens materiais é o mesmo que analisar uma pedra como fator responsável pela morte de uma criatura atirada para tal finalidade. É necessário, portanto, avaliar a humildade como característica intrínseca do indivíduo, herdada desde a criação do Espírito, como centelha componente do amor Divino e sujeita a todas as leis da evolução humana, rumo à perfeição.
É muito comum definir como sinônimo de humildade, a pobreza, ou seja, o homem com deficiência ou ausência de bens materiais os quais não podem promover o conforto de uma vida saudável e tranqüila para ele em nosso planeta. Assim, quanto mais miserável for a pessoa, mais ausente de bens materiais, mais humilde ela seria. Essa análise é absolutamente materialista e improcedente, pois se a característica é intrínseca ao Espírito, ela não pode ser extremamente materialista.
Devemos sim, respeitar todas as formas de crenças e aqueles que se julgam com necessidade de estar entre a miséria para aproximar-se da humildade devem mesmo seguir a ordem natural das coisas. Aliás, muitas dessas pessoas estão de fato no caminho da verdadeira humildade espiritual, levando uma vida de simplicidade, de amor a natureza com desprendimento material. Mas o que é uma vida ligada à matéria e o que é o significado de desprendimento material?
Caso o conceito de humildade signifique a pobreza, a miséria, seria lógico raciocinar de duas, uma. Ou a humildade não significa nada na evolução do homem, ou a pobreza, miséria, riqueza não estão totalmente ou parcialmente ligada a ela. Como já dissemos que a humildade é de fato importantíssima na evolução da humanidade, ela se exterioriza nos atos e ações do espírito e não nas situações de posição social a que ele se encontra no momento.
Evidentemente, como o espírito caminha em evolução eterna no seu aprimoramento pessoal, na sua passagem pela matéria terrestre, os bens materiais não devem ser importantes para a sua evolução espiritual. Cabe ressaltar que o conhecido ditado popular – “a pessoa não leva nada dos bens adquiridos aqui depois da morte” não é correto, pois mantém as atitudes e gostos vivenciados quando reencarnada, após o seu desencarne. Na sua nova jornada, no plano espiritual, continua normalmente a luta em seu aprimoramento pessoal.
A forma e não o fundo é o diferencial importante. Por exemplo, um indivíduo adquire um carro bom, confortável, com boa segurança, necessário a sua atividade de vida e compra com recursos do seu próprio esforço. Para ele, o carro é um meio de vida, assim ele o vê e o usufrui. Outra pessoa, bem mais pobre, adquire um bom carro com a intenção de se sentir melhor do que os outros, mais poderosa, mesmo a duras penas, as aparências são mantidas. Neste caso, o carro satisfaz a sua vaidade, o seu orgulho, nada mais. Onde está o desenvolvimento mais aperfeiçoado da humildade? Certamente não é na posição social em questão. A forma é a visão que se tem do bem, o fundo é a visão que se tem do indivíduo com base na sua posição social. Um homem rico pode ser muito mais humilde que um pobre, pois a condição de riqueza e pobreza é uma condição que deve mesmo ser definida antes da reencarnação, sendo, portanto, temporária.
A verdadeira humildade está no espírito e não na condição reencarnatória. O espírito utiliza de todos os meios possíveis para sua evolução e assim, aliás deve experimentar as mais diversas formas de condições reencarnatórias, passando inclusive pela reencarnação em locais de miséria, pobreza, riqueza, diferentes culturas, raças, credos, na deficiência de meio intelectual, nos meios científicos e acadêmicos, etc. É dessa forma, que ele evolui mais rapidamente passando por muitos caminhos, e principalmente, naquele que mais se despreza, que mais odeia no momento. Nesse ponto, há a total desarmonia espiritual e somente através do sentimento real daquela situação, promove a oportunidade de luz para resgatar o seu equilíbrio pessoal. Por isso, veremos sempre pessoas de grande humildade vivendo momentaneamente entre os meios mais ricos, e certamente, aproveitam essa oportunidade com grande propriedade promovendo a verdadeira caridade, além da material, do seu exemplo de vida em favor do bem comum. Por outro lado, veremos também o inverso, a falta visível de humildade na pobreza, denotando vaidade, orgulho e sem o mínimo interesse pelo seu semelhante.
Numa reencarnação na condição de riqueza, há uma responsabilidade muito maior para a evolução do espírito, pois o meio é muito mais propício a ambição, vaidade, orgulho, etc.
Graças à doutrina espírita temos agora a nossa visão ampliada da humildade, pois observamos o indivíduo como um todo, com sentimentos, atos e ações adquiridos ao longo do tempo, quer no plano espiritual quer no plano terrestre. E tudo se confunde. Não é a simples visão da sua condição reencarnatória atual que deve ser apenas considerada. No plano espiritual, a visão se amplia, e muito.
“Vindo de dentro do ser humano, a humildade é característica daqueles que têm a caridade como meta na evolução do espírito.
Ser humilde não significa ser desprovido de bens materiais, mas ser capaz de aceitar a sua condição na escala evolutiva a que todos estamos sujeitos.
Ser humilde é ser capaz de aprender com pequenos gestos e estar sempre aberto a novos conhecimentos em prol da humanidade.
O maior bem que pode um ser humano almejar é a humildade, pois ela é capaz de construir caminhos que levam à luz, caminhos que permitem o companheirismo sem interesses e egoísmo.
Ser humilde é reconhecer no outro o seu valor. É elevar a auto-estima do amigo e pessoas de jornada evolutiva, através do seu exemplo de vida, sempre fundado na verdade e no bem.
Sede humilde e conseguirás a sabedoria, pois ela é a fonte da inspiração a que todos buscamos nessa jornada.
Estejas sempre atento às atitudes grotescas que destroem a harmonia do seu ambiente no lar, escola, trabalho, etc.
Estejas pronto a ajudar os menos favorecidos que você.
Sejas humilde o suficiente para ensinar aquilo que um dia alguém teve a paciência de transmitir a você. A felicidade depende dessa sua estada.
Quanto mais humilde, mais oportunidade de conhecimento terás e maior será a tua recompensa.
Ajude um amigo e sempre será ajudado quando precisares. Não que esse seja o objetivo da caridade, mas é a lei que rege todo o universo: quanto mais amor for dado, mais amado serás…”
(Mensagem psicografada em reunião familiar)
Muita Paz,
Raul Franzolin Neto
Editor GEAE
(Publicado no Boletim GEAE Número 475 de 18 de maio de 2004)