A Prática Mediúnica e a Exortação do Espírito de Verdade
De algum tempo a esta parte, tem havido na seara espírita, um extraordinário
surto de fatos relacionados com a fenomenologia mediúnica, ensejando a
oportunidade aos estudiosos de se posicionarem, doutrinariamente, perante os
problemas surgidos e decorrentes de tais fatos. Isto, todavia, ao invés de ser
um empecilho ao exercício da mediunidade, constitui estímulo ao seu melhor
conhecimento, através do estudo, da observação, da experiência mediúnica colhida
ao longo do tempo, objetivando a aquisição do discernimento necessário à
superação dos escolhos e à obtenção de proveitosas comunicações, com evidente
destaque e valorização da Mediunidade.
Além do mais, a prática mediúnica é rica, claras e satisfatórias são as
propostas que os Espíritos dão, na Codificação, às diferentes questões
suscitadas, atendendo os diversos níveis de inteligência e cultura dos
estudiosos do assunto.Daí ter razão Allan Kardec quando, em ” O Livros dos
Médiuns”, ressalta que as dificuldades e desilusões na prática espiritista
decorrem da ignorância dos princípios doutrinários e que tal obra objetiva
orientar as manifestações mediúnicas, apontando as dificuldades encontradas e
ensinando a maneira de os homens se comunicarem com os Espíritos, evitando a
zombaria e as críticas em razão das idéias falsas do Mundo Espiritual, cujas
leis, que governam as relações entre encarnados e desencarnados, somente agora
começam a ser conhecidas com a Mediunidade.
Essas considerações são a propósito de práticas mediúnicas exercidas, de
algum tempo a esta parte, no país.De saída, citemos as comunicações e curas do
Dr.Fritz, através de vários médiuns, após a desencarnação de Arigó, ensejando à
revista Veja considerações críticas desairosas sobre a autenticidade ou
não de tais comunicações, perguntando: Afinal quem é o verdadeiro, quais são os
impostores? tal fato deve levar os dirigentes e médiuns espíritas a usarem de
cautela e vigilância no trato da Mediunidade, atentos à advertência do apóstolo
João: “Não creais em todos os Espíritos, mas vede antes se são de Deus”.
Viria mais tarde, ainda, a eclosão de verdadeiros modismos, em nossas Casas
Espíritas, com as chamadas comunicações eletrônicas com os mortos, descartando a
Mediunidade no intercâmbio com o Plano Espiritual, portanto, sem apoio
doutrinário, as ” cirurgias psíquicas”, a cristalterapia, a cromoterapia, a
projeciologia, shows musicais mediúnicos e outras manifestações artísticas,
em que o fenômeno passa a ser fim e não meio, revelando tudo isso a ignorância
dos princípios doutrinários por colocar a tarefa prioritária da execução do
Evangelho de Jesus que visa ao adiantamento moral da criatura humana, em plano
secundário.
E mais recentemente, tivemos o caso Ayrton Senna, na área das
comunicações, quando uma médium paulista teria recebido, durante o velório
daquele piloto, uma mensagem dele, sendo tal comunicação contestada por
confrades nossos, também paulistas.E, ainda, com relação ao citado piloto, na
fase de sua subida ao “podium espiritual”, tivemos a infeliz matéria da revista
Contigo, que envolve o médium Francisco Cândido Xavier, por atribuir-lhe uma
mensagem dirigida à família de A.S., sem solicitação desta, tendo sido
desmentida, porque não seria crível que o nosso Chico desrespeitasse aquela
família que é protestante, ele que sempre respeitou todas as crenças!…
Também é bom lembrar, no caso de desencarnações recentes, as lições contidas
em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.Assim, se o tempo não
constitui impedimento para as manifestações, não podemos nos esquecer de que
cada pessoa é um caso, onde fatores diversos, ligados ao período de perturbação,
à natureza da desencarnação e sua posição evolutiva como Espírito ditam normas
para seu relacionamento com os encarnados, e isto sem esquecer a questão da
identificação e a credibilidade do médium, sendo certa, mais uma vez, a
afirmativa de Chico Xavier de que não devemos forçar as coisas, pois ” o
telefone deve tocar de lá para cá e não daqui para lá.
Nesse sentido, ainda, Leon Denis, em ” Depois da Morte”, teve oportunidade de
asseverar, também com muita propriedade, que “ o estudo do mundo invisível
exige muita prudência e perseverança”, exigindo – diríamos nós agora –
conhecimento doutrinário, o facho da Razão e a prática das virtudes evangélicas,
sendo oportuna e sublime a exortação do Espírito de Verdade, em o Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap.VI:
“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o
segundo.”
O Reformador, novembro de 1994.