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A respeito de Roustaing

Em relação à citação e dúvidas sobre a obra Os quatro Evangelhos de J.B.
Roustaing comentadas no Boletim nº311, gostaria de expressar minha opinião a
título de esclarecimento. No ano passado, em face dessa questão polêmica
divulgada nos principais jornais e livros espíritas do País, resolvi partir para
a leitura minuciosa e crítica dos quatro volumes, editados unicamente pela
Federação Espírita Brasileira – FEB, visando formar juízo de valor e me
posicionar dentro do movimento espírita. E após percorrer extensos trechos,
alguns prolixos e repetitivos, encontrei, além de sérias distorções
doutrinárias, várias elocubrações que destoavam dos critérios lógicos e
racionais que caracterizam e fortalecem a doutrina kardequiana. Apenas como
exemplo citarei algumas:

A reencarnação é considerada como um CASTIGO e aplicada somente às almas boas
que erram, reforçando o dogma da “queda dos anjos” tão ao gosto da ortodoxia
católica. E esse castigo, pasmem, seria a encarnação em um mundo primitivo na
forma de criptógamos carnudos, ou como se voltássemos como caranqueijos,
creditando a teoria da METEMPSICOSE, descartada na codificação . Por outro lado,
os espíritos que fossem bem aplicados teriam uma evolução em LINHA RETA, saindo
da infância da criação e chegando à perfeição sem passar pela carne, mesmo na
nobre tarefa de missionários. Daí, a tese do corpo fluídico de Jesus para
explicar sua passagem neste planeta de expiação e provas. Nesta situação, Jesus
foi obrigado a fingir que nasceu, mamou, comeu, bebeu, sofreu, falseando
inclusive sua morte, na frente de vários tolos-seguidores e algozes. O mestre
que representa o nosso modelo de ética, moral, caridade, resignação e
sacrifício, teria vindo como um mero farsante.

Quando à criação da essência espiritual do ser inteligente do Universo, o
Espírito, afirma que foi retirada por Deus do todo(fluido) universal,
confundindo espírito com matéria, e apregoando o puro PANTEíSMO. Só por aí,
pode-se avaliar o resto do conteúdo desta falaciosa obra, a qual teve a
pretensão de suplantar a Doutrina do Espíritos superiores, supervisionada pelo
Espírito da Verdade, e elaborada brilhantemente por Allan Kardec, o bom senso
encarnado, na citação de Flammarion.

Na época em que esses livros surgiram, por volta de 1863, o codificador já
havia lançado os três livros que balizam a doutrina: O Livro dos Espíritos, O
Livro do Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo; e setenta e duas edições
mensais da Revista Espírita, todas de grande aceitação na comunidade espírita do
mundo, e o Sr Roustaing com o apoio de uma única médium, por puro orgulho e
vaidade, tentou causar sensacionalismo com esse sistema que denominou ” A
Revelação da Revelação”, quando mais apropriado já foi se tem dito, seria A
MISTIFICAÇÃO DA MISTIFICAÇÃO.

Ao confrade Alexandre Costa, gostaria de esclarecer que quando os livros de
Roustaing aportaram no Brasil Imperial, e foram traduzidos para o vernáculo,
encontraram personalidades muito ligadas ao catolicismo e por isso essa teoria
de cunho místico e dogmático, teve alguma aceitação, paralelamente à obra
kardequiana. Na França, berço do lançamento, esses livros praticamente não
saíram das prateleiras, sendo descartados como integrantes da doutrina pelos
grandes pensadores que sucederam Kardec: Léon Denis, Gabriel Dellane, Camille
Flammarion, Ernesto Bozzano etc.

Desconheço também qualquer citação a Roustaing nas mensagens de iluminados
Espíritos como Emmanuel, André Luiz ou Bezerra de Menezes, na psicografia de
Chico Xavier. Passando em revista os livros de esclarecidos escritores como:
Carlos Imbassahy, Cairbar Schutel, Júlio Abreu Filho, José Herculano Pires,
Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Wilson Garcia e Nazareno Tourinho, não vemos uma
única referência a essa esdrúxula teoria, apoiando seus pensamentos e
interpretações e quando o fazem, é para alertar os companheiros e incautos do
caminho, quanto ao erro de sua adoção ao corpo doutrinário kardequiano.

Iglesia, com a sincera intenção de poupar-lhe o trabalho que tive em ler
esses quatro livros editados pela FEB, remeto-lhe às publicações “O corpo
fluídico” de Wilson Garcia e “Retalhos de um atalho” de Nazareno Tourinho. Fica
a sugestão, mas se resolver confirmar o veredito, então acenda a luz da mesa de
trabalho e boa viagem a terra da fantasia e da supertição e do misticismo.

Fraternais saudações,

Jorge Nelson Campos

(Publicado no Boletim GEAE Número 317 de 3 de novembro de 1998)

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