Crianças Nascem Sem AIDS – A AIDS, o Aborto e os Espíritas
Na história do NEU-Fundão encontramos que a primeira reunião ocorreu no DIP/HU
por interferência da Profa. Dra Susie A. Nogueira, em 29/10/1992. Naquele dia
foi acesa em diversos corações uma chama, a chama do desejo de servir. Era quase
utópico: uma “cabeça de ponte” espírita dentro do Hospital Universitário!
A Dra Susie ainda hoje, dentro da escassez de seu tempo, participa das
reuniões, do NEU-Fundão, de Estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo,
sexta-feira, 12 horas, na Capela Ecumênica do Hospital Universitário.
Coordenadora de Comunicação e Assistência, na primeira diretoria do NEU, foi
pessoa importante na abertura deste espaço para o estudo semanal do ESE na
Capela, no quinto andar.
A segunda notícia é uma entrevista dada pela Profa. Susie e que demonstra a
luta em favor da vida , no Jornal quinzenal da Seção Sindical dos Docentes da
UFRJ/Andes-SN, Ano VII 05 de Junho de 2000.
Reportagem com a entrevista da doutora Susie A. Nogueira
O Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva foi criado no
segundo semestre de 1995 com uma estrutura tipicamente multidisciplinar
integrando, entre outras unidades, o Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho (HUCFF), o Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG),
a Maternidade Escola, a Escola de Serviço Social e a Faculdade de Nutrição. Após
cinco anos de trabalho, a equipe do programa se caracterizou como um primeiro
local de assistência em medicina multiprofissional da universidade, acumulando
na bagagem índice invejável – só encontrado em países como os EUA, França e
Bélgica – de até 96% da taxa de redução de transmissão vertical (mãe-filho).
Segundo a coordenadora, Susie Nogueira, o projeto foi definido pela necessidade
de direcionar aspectos especiais que se relacionam às mulheres com HIV e AIDS,
De acordo com a professora e doutora do HUCFF, atualmente, a Assistência
Integral na UFRJ atende 254 gestantes, sendo que 120 delas já ultrapassaram o 6º
mês de gravidez, período a partir do qual é possível detectar a presença do
vírus no bebê. Somente em quatro gestantes foi detectada a contaminação
vertical. Isto significa que 116 bebês nascerão não portadores do vírus, salvo
qualquer problema no momento do parto.
Segundo Susie Nogueira, o programa recebe todo apoio ‘logístico’ da UFRJ e
dos dirigentes das unidades envolvidas. Mas é só. Os recursos financeiros e
técnicos para sustentar o programa são mantidos basicamente por organizações
internacionais não governamentais.
Instituições como a World AIDS Foundation e a Fogarty Internacional Training
Program, da Universidade de Maryland, já financiaram algumas versões dos manuais
educativos produzidos pela equipe do programa. “Os manuais são voltados para
médicos e profissionais da saúde que lidam com as mulheres infectadas e as
gestantes HIV positivas”, explica. A Fundação José Bonifácio (FUJB) também
colaborou, imprimindo metade da 2ª edição do “Manual para o Acompanhamento
Clínico da Mulher Infectada pelo HIV”, com tiragem de mil exemplares, e produziu
um vídeo. Segundo a professora, o Ministério da Saúde entra com a medicação,
“sem o que seria impossível manter o atendimento, já que a esmagadora maioria
das gestantes que chegam ao pré-natal, e são testadas, são de baixa renda”.
A professora-doutora Susie Nogueira fez questão de apresentar a equipe (na
UFRJ) que está à frente do Programa de Assistência Integral à Gestante HIV
Positiva: Tomáz Pinheiro da Costa – IPPMG; Thalita Fernandes de Abreu –IPPMG;
Ricardo Hugo de Oliveira – IPPMG; Márcia Bondarowisk – Maternidade Escola; Rita
Bósnia – Maternidade Escola; Mírian Peres Andrade – Maternidade Escola Elizabeth
Machado – HUCFF; Maria de Fátima Lago Garcia – Psicóloga; Iraina Fernandes –
Enfermeira Regina Mercadantes – Enfermeira Vale lembrar que nenhum dos membros
da equipe, docentes ou funcionários, recebem qualquer remuneração extra por sua
participação no programa.
Além deste tipo de material mais técnico, o programa investe na Jornada de
Prevenção Vertical do HIV. Docentes e pesquisadores realizam palestras nas
várias universidades e unidades de atendimento espalhadas pelo país. Levam
material didático que inclui os manuais, um vídeo e um kit de slides. A Jornada
já percorreu a grande maioria dos estados brasileiros. Aborda a questão do
acompanhamento clínico de gestantes HIV positivas e apresenta as propostas para
um atendimento global que visa à conseqüente redução da contaminação no período
da gravidez e durante o parto. O programa também produz material informativo
para as mulheres gestantes e seus familiares. “O trabalho da equipe médica é
decisivo na redução da contaminação vertical e o treinamento dos profissionais
de saúde e médicos é realizado através destes manuais, vídeos, seminários e
palestras”.
Assistência, ensino e pesquisa, juntos.
De acordo com Susie, primeiramente, o programa atendeu a uma necessidade
assistencial das unidades hospitalares da universidade, mas a partir do trabalho
multidisciplinar com as gestantes, as mães e seus filhos o programa fortaleceu
seu caráter de ensino e pesquisa. “Já percorremos diversos estados, cobrimos boa
parte das principais cidades do país, do norte ao sul e, com certeza, mudamos a
cultura dos profissionais de saúde em relação ao atendimento às gestantes soro
positivas. Na área da pesquisa, estamos verificando – como parte de um programa
multidisciplinar internacional vinculado a universidades americanas – a
receptividade nas pacientes do uso de mais um componente, a Niverapina, além do
AZT tradicional.”
Mesmo reconhecendo o apoio das direções das unidades envolvidas, a professora
comenta que até hoje o programa não conta com o apoio institucional da própria
UFRJ. “Temos dois projetos com a Universidade de Maryland em pesquisa e
educação, seria bom o apoio mais direto da nossa universidade para programas
deste tipo”. A UERJ e a Federal Fluminense também participam do programa, mas a
coordenação é da Federal do Rio.
Estudantes
De acordo com Susie, do ponto de vista do ensino, o programa é voltado para a
pós-graduação. “São poucos os alunos que se envolvem, mas os residentes
participam das atividades, sempre em nível de especialização ou mestrado”.
Envolvimento
O aspecto humanitário do projeto sobressai quando a professora se refere aos
filhos já nascidos das gestantes soro positivas. “A maioria das mulheres que são
encaminhadas ao programa não sabiam da existência da infecção antes dos exames
do pré-natal realizados nas unidades públicas. Dessas, 94% contraíram o vírus de
seus maridos ou companheiros regulares. Mas dói quando pedimos que a gestante
infectada traga seus outros filhos para uma testagem. De dois ou três, pelo
menos um, geralmente, já apresenta o vírus”.
Segundo Susie, o município do Rio de Janeiro é o campeão em número de
testagem de HIV no estado. Na rede pública, são realizados cem mil partos por
ano e 1% das gestantes é soro positivo. “Destas mil mulheres, somente cerca de
40% ou 50% são identificadas como soro positivas durante o pré-natal. Ou seja,
recebemos de 40 a 50 gestantes por ano para atendimento no programa, o que é
pouco se comparado ao universo de infectadas”.
O Futuro
Para a professora, este tipo de ação contribui para a redução da contaminação
de crianças durante a gravidez a níveis bastante otimistas em todo o país. Ela
lembra que o caráter epidêmico da AIDS no Brasil mudou muito nos últimos anos.
Em contraposição à conjuntura das primeiras fases de pesquisas sobre o vírus –
quando os homens, principalmente os homossexuais, eram maioria na relação de
infectados – a transmissão heterossexual do HIV é, atualmente, a mais
importante, com uma conseqüente e progressiva contaminação das mulheres e seus
filhos. “Por volta de 1985, a relação de infectados era de 35 homens para uma
mulher; hoje, são apenas 2 homens para cada mulher infectada, na grande maioria
das cidades brasileiras, na faixa dos 20 a 40 anos, justamente na fase
reprodutiva da mulher”.
Destaca que a esperança para os que participam do programa é que, a partir
deste trabalho de educação, assistência e pesquisa integrados, mais mulheres
sejam identificadas em tempo hábil pelo teste anti-HIV nas unidades de saúde que
oferecem atendimento pré-natal, maternidades e clínicas ginecológicas e de
doenças sexualmente transmissíveis. Assim, os filhos ainda não nascidos poderão
ser tratados com terapêuticas eficazes para que nunca desenvolvam o vírus. Na
Introdução de um dos manuais, assinado pelo Dr. John Lambert, do Institute of
Human Virology da Universidade de Maryland, constata-se que o programa de
atenção integral à gestante HIV positiva é a “prevenção da infecção pelo HIV na
criança pelo tratamento de suas mães na gravidez e a supressão a longo prazo do
HIV nos outros membros infectados da família (…) para que mães, pais e
crianças possam ter uma convivência mais duradoura e o termo “órfãos da AIDS”
seja uma coisa do passado”.
Solidariedade
As mães soro positivas não podem amamentar seus bebês, já que podem
transmitir o vírus a partir do aleitamento. Segundo Susie, os recursos
destinados para o programa não cobrem a nutrição dos filhos das mães infectadas,
em sua maioria de baixa, baixíssima renda. Para resolver o problema, a equipe e
alguns voluntários criaram a Associação dos Amigos do programa de Assistência
Integral à Gestante HIV Positiva, uma ONG destinada a levantar fundos para a
distribuição de leite em pó para os lactentes expostos.
O artigo da Revista Internacional de Espiritismo, acima mencionado, que fala
de doutores e de cegos de nascença, termina dizendo que o verdadeiro espírita
não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais. Usa, mas não
abusa de seus títulos acadêmicos ou “dos bens que lhe são concedidos, porque
sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial
emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões”. O
leitor deverá nos entender e perdoar, mas o NEU-Fundão não pode deixar de
registrar que se sente feliz em ter a Dra Susie A. Nogueira no nosso “Culto do
Evangelho no Hospital”.
Que Deus a proteja!