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Almas de aço

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Amilcar Del Chiaro

    Quem é a pessoa portadora de deficiências, ou com necessidades especiais? É um ser humano como todos os outros, com limitações em algum setor do seu organismo ou dos seus sentidos, mas capaz de desenvolver outros sentidos e outras habilidades que compensem as deficiências. O ideal da “eugenia” persegue a humanidade desde épocas remotas. O culto ao corpo e à inteligência, faz com que os que não se enquadram no modelo, sejam rejeitados, ou no mínimo, exerçam um papel secundário.  No entanto, o ser humano é muito mais do que o corpo pelo qual se manifesta. Tanto os espiritualistas que aceitam a existência de algo em si, que sobrevive à morte do corpo, e para muitos preexiste ao nascimento, tanto quanto para o materialista, que aceita que o homem tem em si a inteligência que o faz superior aos animais, a vida é um direito fundamental.Contudo, viver não é apenas respirar, ter os batimentos cardíacos e as ondas cerebrais registradas por um “eletroencefalógrafo”. Vida requer também qualidade. Qualidade de vida para todos, é o que move os nossos ideais. Esta qualidade de vida tem sido negada a muitas pessoas, criando a exclusão social pela pobreza, pela ignorância e pelas deficiências físicas e mentais, genéticas ou adquiridas. É preciso que a sociedade compreenda que os portadores de deficiências não são seres inferiores, nem estão sendo punidos pelos seus pecados. São, na verdade, seres em evolução, cursando classes difíceis, dolorosas mesmo, mas capazes de levá-los a um patamar mais alto da vida. Um grande número de portadores de deficiências físicas já provaram que são capazes de vencer as mais duras provas, e realizar tarefas que muitos, considerados sadios, não conseguem. Por tanto, não pedimos piedade ou favores especiais da sociedade e dos governantes, e sim, oportunidades justas.       Muitos podem pensar que uma pensão mensal resolveria os problemas da sobrevivência dos deficientes, mas não resolve.           Além de ser pequena, incapaz de suprir as necessidades do beneficiado, tira-lhe o estímulo para a luta. Ganhar o próprio sustento dá dignidade à vida. O que precisamos, é de oportunidades, inclusão social, profissional, escolar em todos os níveis. Precisamos de bolsas de estudos, treinamento profissional, escolas nos moldes do SENAI e SENAC. Lutamos por empregos, por acessibilidade. Precisamos de incentivos fiscais, patrocínio para os nossos esportistas, facilidades para adquirir veículos adaptados, condução coletiva especial, mas sobretudo de amizade, carinho, compreensão, aceitação da família e da sociedade. Nós os convidamos a lutar ao nosso lado. Não por nós, mas, junto a nós. Não somos diferentes porque não temos um membro, ou estamos paralisados, não falamos, não ouvimos ou não enxergamos. Não somos diferentes por usar bengalas, muletas, ou cadeira de rodas. Não somos diferentes porque temos a mente obnubilada. Somos seres humanos, e temos potenciais infinitos a serem desenvolvidos. Precisamos, somente, de oportunidades. Logicamente os deficientes mentais precisam de que lutemos por eles, pelos seus direitos, tão sagrados quanto os de todas as outras pessoas. Por favor! Quando cruzarem com portadores de deficiências nas ruas ou prédios, não nos olhem como se fôssemos “Extraterrestres” ou coitadinhos. Não somos nenhuma coisa nem outra. As deformidades, as doenças as mutilações, as paralisias, nos temperaram como o bom aço. Somos almas feitas de aço na resistência, contudo, sabemos portar-nos como a rama frágil que se curva ante a tempestade, para se reerguer logo que cesse a ventania, porque, conforme diz Herculano Pires, não somos feitos do barro da terra, mas da luz das estrelas.

Amílcar Del Chiaro