Amor à Vida
Há uma beleza infinita na vida que as vezes demoramos a perceber, algo que
nos prende ao ato de viver, facilitando a vigência do instinto de conservação.
Não raro, só percebemos isso ao ter a nossa vida ameaçada, ou sofrer a
desencarnação de algum ente querido, quando então apegamo-nos ao viver, ou à
esperança, do reencontro, mesmo que ela seja tão fina como o fio de uma teia de
aranha.
Ao passarmos pela experiência da proximidade da morte valorizamos o
conhecimento da Doutrina Espírita, que de forma clara nos mostra a imortalidade
racional, objetiva, porém carregada de emoções.
Poderia a morte romper a delicada tecitura do amor que compõe a vida? De
forma alguma! Existe algo entre o céu e a Terra que pode romper os liames do
amor ou esgarçá-los? — Também não —. Por que então existe a morte?
Talvez a maioria das religiões e filosofias não possam responder esta
pergunta, mas o Espiritismo pode e responde com muita clareza: a morte existe
para a renovação da vida. O que morre é a forma física, o revestimento material,
porque o ser espiritual é imortal. A forma material morre para renovar a vida,
para que a essência espiritual continue a evoluir, crescer, aperfeiçoar-se
através das vidas sucessivas.
Neste mundo relativamente atrasado, ainda muito sensorial, a ausência física
do ser amado causa muita dor, pois, não podendo senti-lo, vê-lo, tocá-lo,
desesperamo-nos, e o coração fica angustiado pela ausência. Queremos ver a
figura amada, ouvir a sua voz, e as lembranças como fotos e filmes, ou mesmo
objetos, aumentam a tristeza, e há os que se desesperam. É neste ponto que o
Espiritismo enche o nosso coração de consolações e esperanças.
Insistimos na primeira indagação: Poderia a morte romper a tecitura do amor?
Afirmamos novamente que não. Mesmo que a vida não fosse imortal o amor
sobreviveria. No entanto a vida é permanente e ela só pode ser definida pela
palavra amor.
Se existe uma diferença vibratória entre o mundo que vivemos e o dos
espíritos, ligando-os, há uma ponte construída com um material que se chama
amor. É através desta ponte que os espíritos que se amam transitam, e pela
mediunidade se comunicam, quer ostensiva e objetivamente, quer de modo sutil,
pelo pensamento ou pelos sonhos.
Ver um berço vazio onde até há pouco tempo havia uma presença querida, é uma
experiência muito dolorosa para uma mãe, como também é doloroso entregar de
volta as jóias que Deus confiou aos nossos cuidados, mas é confortador saber que
a separação não é definitiva, e sim transitória. Por isso insistimos que o
Espiritismo é um cântico de amor à Vida.
Talvez o ouvinte possa julgar que estamos divagando. Quem ainda não entregou
alguém amado ao mundo espiritual, não pôde sentir ainda a força total desta
experiência. Se ela é altamente dolorosa, é ao mesmo tempo rica, permitindo-nos
acompanhar pelo coração a entrada do ser amado nesse mundo que não é misterioso,
nem escuro, pois o Espiritismo que poetisa a vida, também ilumina a morte.
É muito significativo que há dois mil anos, quando retiraram a pedra que
fechava um certo túmulo de um moço carpinteiro, que usava cabelos longos de
Nazareno, e que foi crucificado por causa da sua doutrina de amor, igualdade,
perdão e bondade, encontraram-no vazio.