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As harmonias

“Hoje falaremos não do instrumento extraterrestre, como dizíamos, mas da
maneira como o espírito desencarnado pode afastar-se da Terra e penetrar em
esferas etéreas onde as harmonias do espaço se tornarão mais suscetíveis para
ele. Tomemos, por exemplo, um ser desencarnado de educação espiritual média
resultante de seus trabalhos anteriores e de seu grau de fé.

“No início de sua vida no espaço o ser desencarnado deverá se familiarizar
com seu novo estado, e chegará a despertar em si a recordação das harmonias que
percebeu em suas existências anteriores. Ele experimentará o desejo de se
envolver de novo nesses fluidos harmoniosos; porém, do ponto de vista latente,
ele não pode saber de imediato quais são os meios para chegar à esfera para onde
seu espírito aspira subir. Seus guias, mais elevados do que ele o “intuirão” e
farão seu perispírito vibrar de maneira gradual a fim de que ele não se
perturbe.

“Assim se estabelecerá o que chamamos de acorde, e qualquer dissonância
desaparecerá entre ele e a esfera musical onde quer penetrar. Quando na Terra
vocês ouvem um instrumento imperfeito, se ele não está afinado, seus pobres
órgãos ficam aturdidos; o mesmo ocorre na vida do além. Os guias impressionam o
perispírito do desencarnado a fim de que ele obtenha uma adaptação mais
completa.

“Eis então nosso sujet preparado para receber ondas musicais.

À medida que suas próprias radiações melhor se ligam aos feixes harmônicos do
espaço, seu desejo de elevar-se ainda mais alto, em direção à fonte de beleza
eterna, aumenta. Desembaraçado de qualquer influência grosseira, ele vai subir
com seus guias às regiões superiores, celebrando com estes a glória do alto.

“Os fluidos materiais volatilizam-se, o perispírito torna-se mais luminoso,
as radiações mais intensas, mais sutis, e sua evolução é facilitada. O espírito
subirá como os balões sobem em nosso globo.

“Penetrando nas altas regiões do espaço, o ser espiritual experimenta
primeiramente uma sensação de serenidade, uma espécie de dilatação, de deleite;
em seguida as emanações fluídicas que se desprendem do perispírito entram em
contato com outros feixes de emanações, e daí ocorre uma espécie de ajuste
fluídico entre dois feixes de sutileza, mais ou menos igual, porém de natureza
diversa. Vocês não podem imaginar a impressão experimentada pelo ser fluídico:
não se trata mais de sensações de bem-estar, de contentamento, mas de uma
espécie de acalanto, de ondulação, acompanhados de uma sensação especial que
determina um estado emotivo, uma espécie de êxtase. As vibrações sentidas nesse
estado formam o que vocês chamam de tonalidades; elas são produzidas por atritos
de camada fluídica entre si.

“Mais acima dessas esferas harmônicas, há outras regiões que não podemos
ainda alcançar e onde residem seres superiores, criadores de uma música sublime
que para nós é transmitida por especiais correntes fluídicas. Não percebemos os
seres que a produzem, entretanto ela chega até nós através de correntes
condutoras de natureza sutil. Um guia me diz que os seres que produzem as ondas
dessa música celeste são quase perfeitos e possuem uma parcela do gênio divino.”

Massenet

(do capítulo 6 do livro O espiritismo na arte)