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Caridade – Uma meditação prática

Caridade – Uma meditação prática

A busca do homem por conhecer-se não é de hoje. Durante centenas de anos
temos registrado inúmeros pensadores tentando equacionar meios eficazes de
interiorização e transformação. Entretanto, de todos os gênios que poderíamos
relacionar, dois nos chamam a atenção: Jesus e Kardec.

Enquanto diversas doutrinas pregavam o recolhimento contemplativo, o
isolamento social completo na busca do self, Jesus preferiu caminhar por
entre a multidão, consolando uns, amparando outros, estabelecendo sua doutrina
não por meio de palavras vazias ou técnicas absurdas, mas fundamentando-a na
prática ativa. Conclamou as criaturas a imitarem o samaritano que auxiliou seu
próximo na estrada de Jericó, incentivou o perdão sem limites como forma de
merecer o perdão de Deus, apontou a caridade como tábua de salvação quando
solicitou que vestíssemos os nus, visitássemos os prisioneiros, déssemos pão aos
famintos, água aos sedentos, cuidássemos dos enfermos… Tão eloquentes foram seus
exemplos que mesmo Saulo, após a sua conversão escreveria que de todas as
virtudes a mais excelente era a caridade.

Aproximadamente dois milênios depois, quando a humanidade mergulhava no
racionalismo cartesiano, poderíamos imaginar maiores revelações e novidades no
tocante a esse princípio moral traçado pelo Mestre de Nazaré. No entanto, a
Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec repetiria a mensagem do Cristo em
nova edição, sedimentando-a na mais pura ciência e filosofia como suporte
cognitivo ao seu maior objetivo: a transformação e moralização da humanidade. A
existência de Deus, a preexistência e sobrevivência dos Espíritos, a
reencarnação, o intercâmbio entre o mundo invisível e o corpóreo, a
multiplicidade de mundos habitados são princípios filosóficos e científicos que
desembocam necessariamente na necessidade de revolução interior do ser.

Kardec, seguindo Jesus, também não se isola numa atitude contemplativa; sua
meditação é a prática da Doutrina Espírita por meio da caridade, na medida em
que consolou inúmeros companheiros nas suas dificuldades, incentivou donativos a
desabrigados através da Revista Espírita e junto a sua esposa fez visitas a
famílias em franca decomposição social. Exatamente por sentir essa necessidade o
gênio de Lyon produziu O Evangelho Segundo o Espiritismo, obra que se tornou
indispensável ao entendimento do sofrimento humano, bem como da finalidade de
nossa existência terrena, ensinando-nos que a caridade é o melhor caminho a dar
sentido e significado à nossa presença no mundo. Aqueles que não conseguem se
transformar com base nessa obra não podem apontá-la como ineficaz. A sua clareza
é tão meridiana que pesa sobre eles mesmos a incapacidade de abandonarem seus
vícios.

Chico Xavier entendeu bem essa dimensão de Jesus a Kardec, uma vez que
poderia ter ficado embevecido, em êxtase, maravilhado ou fascinado com as
imagens do mundo espiritual, porém, seguindo a orientação dos próprios espíritos
se dedicou a amar o próximo de uma forma extraordinária.

Levando em conta tais exemplos que nos calam muitos sofismas e argumentos de
poeira, precisamos priorizar a caridade. Meditar é importante, mas desde que o
tempo que lhe seja dedicado não enferruje nossas mãos, nem nos faça abandonar os
princípios do Evangelho no Espiritismo, uma vez que eles são a rota segura de
uma meditação produtiva, que não nos entorpece com técnicas que centram atenções
prioritárias muito mais em nós que nos outros, até por que Jesus nos conclamava
a amar os outros como a nós mesmos e não o contrário, ou seja, todo o amor,
satisfação, alegria que desejamos para nós, devemos em situação de igualdade aos
nossos semelhantes.