Virtudes – Diferenças e semelhanças à Luz da Doutrina Espírita
Um doutor da lei vem até Jesus e pergunta: “Mestre qual é o grande mandamento?”
Disse-lhe Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda
a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o máximo e o primeiro mandamento.
E o segundo semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos depende toda a Lei e os Profetas” – Mt, cap. XXII – 34-40.
Se o amor e a caridade são de tamanha excelência, é de imediata necessidade que
se faça a aquisição de tais virtudes e se, com certeza, alguma chama já brilha no
coração, que se faça o aprimoramento.
A questão chave é que o aprimoramento de virtudes só se dá no exercício, na vivência.
Com relação a ele, só acontece quando se pensa, analisa-se e se busca a excelência
para que o exercício seja de qualidade.
É neste sentido que, então, já aprimorando esta chama viva que é a necessidade
interna que muitos têm de algo fazer para o seu semelhante se reflete a respeito
do que é assistencial de do que é promocional.
Vemos a nossa volta favelas se reproduzindo, crianças desamparadas e abandonadas,
a violência crescendo.
Parece que este é o momento peculiar, especial de se pensar na educação do Espírito.
O alimento para o corpo é necessário, porém é imediatista. O alimento pra o Espírito,
este sim, é que é transformador.
Em Léon Denis (Depois da Morte, 1987), há ocasião para pensarmos a respeito do
tema: “Ouvem-se diariamente recriminações sobre as grosserias e as paixões brutais
das classes mais pobres. Reflete-se justamente com estas constatações sobre a educação
recebida, sobre os maus exemplos que os rodeiam desde a infância, sobre a carestia
da vida, a falta de oportunidades, de esclarecimento para a sua inteligência? São-lhes
desconhecidas as doçuras do estudo, o gozo da arte. Que sabem eles sobre as leis
morais, sobre o seu próprio destino?… poucos raios ensolarados se projetam nestas
trevas.
Há a caridade material e moral. Porém, as duas não precisam estar apartadas,
como muitas vezes se vê nos programas assistenciais. Com certeza a maior virtude
está em oferecer oportunidades de esclarecimento ao Espírito, estimular a vontade
muitas vezes embotada, verificar as potencialidades, que são luzes, por vezes apagadas,
inerentes àquela individualidade. Dar o que comer é meritório; esclarecer e promover
é grandioso.
Pode-se perguntar a cada vez: destas pessoas, a quem muitas vezes, por anos,
damos o que comer, quantas sem um profundo empenho em lhes esclarecer a consciência
(se é que houve) percebeu-se capaz, fortificou-se, desenvolveu a vontade e buscou
uma nova fórmula, um caminho melhor. A quantas pessoas, a quantas famílias, a ação
assistencial levou à promoção social.
Estamos na era do Espírito mas ainda é preciso cuidar do corpo ligado ao engrandecimento
do Espírito. Para tal, não mais a esmola é suficiente, mas sim, a benevolência,
isto é, disposições favoráveis, complacentes, benigna, do companheiro que vê no
outro, no necessitado, alguém igual, que por um momento, precisa da ajuda, que não
inferioriza, não humilha, mas pelo carinho e respeito demonstrados na sinceridade
até das vibrações, anima, contagia, exalta o outro, despertando-lhe o desejo de
prosseguir. Neste trabalho de Amor, é que se levará o outro a valorizar-se, se entendendo,
se descobrindo como um filho de Deus que desperta para fazer renascer em si um homem
novo.
(Jornal Verdade e Luz Nº 188 de Setembro de 2001)