O Centro Espírita – Realidade e Ideal – O Trabalho por Fazer
Na seqüência dos raciocínios anteriores, em torno das características do
Centro Espírita ideal, destaca-se a assistência àqueles que se encontram em
dificuldades materiais. Na casa espírita, significa o desenvolvimento da
mentalidade social cristã em nosso mundo. Famílias, lares, mensalmente recebem
cuidados, alimentos, providências, encaminhamentos, na visita fraterna e amiga
dos companheiros, que ouvem, conversam sobre a vida, falam de esperanças,
consolam e diminuem a fome, na cesta básica de que se fazem acompanhar, na roupa
que veste, na coberta que aquece.
Esse trabalho também se faz cercar de cuidados? O “Simpósio Centro Sulino”,
realizado em Curitiba, contém importantes conclusões, e dentre estas, ressalta:
“(…) l – Considerando que a missão precípua do Espiritismo visa a
transformação da Humanidade pela melhoria das massas, por meio do gradual
aperfeiçoamento dos indivíduos, todo auxílio feito ao próximo deve ser acionado
dentro de um programa que tenha por objetivo o reequilíbrio moral, a
reintegração social e a evolução espiritual dos assistidos.”
Decorre que toda ajuda precisa estar dentro de um programa reeducativo do
indivíduo em desajuste. À luz da Doutrina Espírita, a prática assistencial não
pode perder de vista a condição espiritual do ser, sua projeção além do túmulo.
Trabalhar portanto a fase que a família está vivendo, tendo viva a idéia de que
não existem pontos isolados ou finais, mas circunstâncias do momento.
Desse modo, a assistência espiritual trabalhará preventiva, ostensiva e
construtivamente, sem esquecer que temos necessidades, cujas raízes se perdem no
tempo e se exteriorizam no hoje, buscando preparo a liberações futuras.
Sem esse entender, pode o trabalhador envolver-se em aflições, frustrando-se
por não conseguir resolver ou tirar pessoas de situações tão aflitivas. No ideal
de respeito a esse entendimento, a proposta da visita abre-se no ensinamento do
despertar a que se trabalhem situações sob todas as formas possíveis de
auto-crescimento e providências.
Outro cuidado o Centro Espírita ideal terá no uso de recibo. É este um
documento que se emite ou recebe para comprovar determinada operação realizada.
Normalmente, na casa, serve para legalizar o recebimento de donativos e
mensalidades. Seu uso tem caráter moral, onde o valor emitido deve obedecer à
realidade da operação e nunca a interesses menos dignos. Isso quer dizer: o
valor do recibo deverá exatamente corresponder ao valor do donativo recebido. Se
o doador condicionar sua dádiva a recibo de valor superior (seja para uso frente
à Receita Federal ou qualquer outro), a proposta espírita recusa.
Como o assunto é dinheiro, retorna a abordagem das rifas, bingos, sorteios,
jogos de sorte ou azar, não compatíveis com os ensinamentos de Jesus. Se, nesses
cento e quarenta e um anos de Doutrina Espírita, procurarmos, em nenhum momento
encontraremos em Allan Kardec, portanto na Codificação ou em qualquer encarnado
ou desencarnado adeso ao pensamento libertador de Jesus, estímulo a essas
práticas que comprometem seus adeptos pelo fato de despertar no outro o desejo
de ganhar, a cobiça, a inveja, a revolta, uma vez que não se compram rifas, não
se joga, pensando em perder. Reflita-se ainda que tais práticas representam
desrespeito ao dinheiro do outro, dinheiro esse que tem preço, que não é compra
do sonho, do engodo que nada trás em troca ou no valor dele.
Há outros meios da instituição ajudar-se, sendo o mais comum deles as
promoções. Quando existirem, deverão oferecer a melhor qualidade, e que a pizza,
o almoço, o lanche, os artigos do bazar, tenham preços inferiores ao de mercado.
O que o Centro Espírita não pode, em nome da Doutrina Espírita, é transformar
a instituição em mercado, onde o ganho pode estar associado a contravenção ou
outros comportamentos lesadores a uma sociedade que desejamos ser melhor.
Jogo, bingo, rifa é contravenção. Mesmo que não o fosse, mesmo que se alegue
ter recebido licença deste ou daquele órgão, ainda assim, por acirrar emoções e
sentimentos, por não ser moral, a Casa Espírita não deve usar.
Os mesmos cuidados e análise estendem-se a todos os trabalhos realizados:
Biblioteca, Mocidade, Evangelização infantil, em programações planejadas, com
objetivos, conteúdos, integrando os Evangelizadores de infância e mocidade com a
Casa Espírita, de modo que esses não se constituam núcleos isolados, verdadeiros
apêndices desvinculados, à parte do Centro Espírita.
Como adquirir ou ter todo o trabalho num conjunto equilibrado, harmônico?
A Diretoria unida, coesa, firme, estudiosa, que dialoga, analisa, busca
soluções junta, entendendo-se como aprendiz da arte de servir. Na humildade que
gera, sustenta o amor ao próximo, firme no entendimento da proposta espírita,
onde a compreensão advinda do estudo oferece os frutos do equilíbrio na
autenticidade e firmeza das decisões.
Essa Diretoria terá bem clara a compreensão de que os vários trabalhos da
casa não podem sofrer solução de continuidade, isto é, o Centro Espírita não se
rege por feriados ou férias, não fecha sob as justificativas de que é carnaval,
finados, natal, férias, o presidente morreu, etc., etc.
Recorde-se que, seja qual for o tempo, o ideal do Centro Espírita seria um
núcleo de amor aberto as vinte e quatro horas do dia, apto, preparado a
agasalhar tantos quantos dele precisassem. Como tal ainda não nos é possível,
não usar as justificativas acima para fechar as portas, sob a alegação de que
nesses dias, mais que em outros, a casa pode ser tomada por Espíritos infelizes
que prejudicariam atividades. Centro em que apenas se faz presente a seriedade,
a abnegação, estruturado em Jesus, na Codificação Espírita, está por atração
dessa mesma diretoria envolto em defesas, que são mantidas pelos dirigentes
encarnados, quando voltados ao amor, à caridade, ao desinteresse, ao desejo de
acertar, à seriedade.
Mas, os trabalhadores encarnados não descansam, não têm direito a férias?
É natural que tal se dê, que aconteçam os períodos de refazimento e lazer,
mas não como férias coletivas e, conseqüentemente, fechamento do Centro. Que
dizer-se de tal mentalidade aplicada aos serviços emergenciais? (hospitais,
bombeiro, segurança e limpeza pública, etc., etc.). Do mesmo modo, a Casa
Espírita – é ela farol a clarear as trevas, ponto de socorro permanente para
encarnados e desencarnados onde a infinidade dos trabalhos que aí se realizam
transcendem àqueles que são efetivados na esfera física. Qualquer interrupção de
tarefas, no plano dos encarnados, acarretará situações delicadas e evidencia
despreparo da equipe terrena.
Manoel Philomeno de Miranda, em “Nas Fronteiras da Loucura”, reflete a
respeito: “alguns afirmam a necessidade de cerrarem-se as portas das Sociedades
Espíritas nos primeiros meses do ano, sob a alegação de férias coletivas,
palavras que aqui não têm nenhum sentido positivo ou útil, já que o trabalho
para nós tem primazia no próprio conceito do Mestre, quando afirma: Meu Pai até
hoje trabalha e eu trabalho também”.
Como fazer então?
“Sendo o repouso uma necessidade, se faz normal que muitos companheiros, por
motivos óbvios, procurem esse refazimento nas férias. Haverá, porém, aqueles que
permanecerão respondendo pelas atividades, sustentando os trabalhos da Casa,
oferecendo ajuda e esclarecimento, despertando almas pela divulgação dos
princípios e conceitos doutrinários, com vivência da Caridade.”
Recorde-se que esses posicionamentos, entendimento e posturas demonstrarão,
nas atividades da Casa, o nível de conhecimento e vivência doutrinária na sua
maior ou menor pureza.
Daí a grande importância de que o público tome conhecimento do que é o Centro
Espírita, para que serve, qual o seu objetivo a fim de que também perceba,
desperte e entenda que a função do Centro Espírita não é curar corpos, resolver
problemas, afastar Espíritos, mas, algo muito mais abrangente – despertar almas
para que estruturem as mudanças morais saneadoras, restauradoras, capazes de,
renovando o Espírito, entender problemas, buscando soluções, atraindo amigos
espirituais, transformando a existência no processo da Vida em ponto de luz, do
futuro de amor que almejamos.
Jogo, bingo, rifa é contravenção; mesmo que se
alegue ter recebido licença deste ou daquele órgão, ainda assim, por não ser
moral, a Casa Espírita não deve usar.
Extraído do jornal Verdade e Luz – julho de 1998
(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998)