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Chico Xavier: O Homem Futuro II

Chico Xavier: O Homem Futuro II

Continuação do Boletim anterior

Face a face com Chico Xavier

O contato pessoal com Chico Xavier nos dá a medida do homem-psi. Estamos em Uberaba,
face a face com Chico Xavier. Na­da encontramos de impressionante, de surpreendente.
Temos pela frente um homem aparentemente comum, vestido com simplicidade, de corpo
e estatura medianos, doente dos olhos, e que impede de realizar leituras e estudos
que lhe atribuem os que não o conhecem. Chico fala com naturalidade e fluência.
Antonio Zago comenta esse fato e o médium sorri, lembrando-nos seus tempos de menino,
de adolescente, de jovem, quando gostava de aplicar nas conversas pa­lavras estranhas
que ouvia dos outros, achava bonitas mas não sabia o que significavam. “Foi então
– diz ele – que Emmanuel começou a me chamar a atenção e corrigir-me.”

Para quem não conhece a vida real desse homem, a miséria que enfrentou desde
criança, a doença da vista que o perseguiu sem cessar, isso poderia parecer desculpa,
encenação. Mas a verdade brota espontânea do seu falar mineiro, de sua gesticulação
natural. Perguntamos se a percepção dos espíritos ao seu redor, o contato permanente
com o mundo dos mortos não o perturba. “No principio – responde ele – eu pensava
que era visitado ocasionalmente pelos espíritos e me sentia até incomodado. Com
o tempo fui compreendendo que aquilo fazia parte de minha vida.”

Os repórteres sempre o enfrentaram com desconfiança. Cada reportagem sobre as
suas atividades e cada entrevista com ele estão marcadas de suspeitas a ironias.
Em Pedro Leopoldo, a cidadezinha em que nasceu a viveu longos anos, trabalhando
em serviços pesados para sustentar-se e ajudar a família numerosa, foi vitima de
agressões e chantagens. Certa vez o obrigaram a ajoelhar-se num banheiro para
fotografá-lo
em atitude ridícula. Não obstante, foi nessa época que produziu as obras psicográficas
mais significativas. Os espíritos o assistiam, suprindo a falta de assistência humana.
Dois repórteres famosos o maltrataram e o subjugaram. Apresentaram-se como estrangeiros,
dando-lhe nomes supostos. Quando iam se retirar, Emmanuel lhe disse que os presenteasse
com livros psicografados. Chico autografou os livros a os repórteres partiram apressada­mente.
Ao chegarem ao Rio, tiveram a surpresa de verificar que Chico autografara os volumes
com os seus nomes verdadeiros. Um deles hoje é espírita e seu admirador.

O saudoso escritor Osório Borba escrevia um livro contra Chico Xavier. O autor
de A Comédia Literária desejava provar que Chico não passava de pasticheiro. Encontrou-se
comigo e Cid Franco em Belo Horizonte. Íamos a Pedro Leopoldo, visitar o médium.
Osório não nos revelou o que estava fazendo mas pediu para acompanhar-nos. Quando
voltamos para Belo Horizonte e fomos a um bar, Osório se abriu: “Vou pro­var que
o Chico é um pasticheiro, seja consciente ou inconsciente. Ele me impressionou bem,
mas tenho de provar isso. Meu livro está quase pronto”. Discutimos a respeito e
entre os vários casos que vieram à baila citei-lhe Augusto dos Anjos. Osório, para
meu assombro, me disse: “Está aí um ponto curioso. Chico o pasticha bem, mas cometeu
em Parnaso de Além-Túmulo um engano imperdoável: atribuiu a Antero de Quental o
soneto Número Infinito, que pastichou para Augusto”. Protestei e mostrei-­lhe que
esse soneto era um réplica admirável do próprio Augusto dos Anjos ao soneto Último
Número que ele tinha escrito em vida. Osório enfureceu-se, protestou, agitou o bar.
Prometeu que chegando ao Rio verificaria isso a me escreveria. Nunca me escreveu
a respeito e nunca, também, publicou o livro contra Chico.

Lembro-me disso face a face com Chico e lhe pergunto: “Por que foi que esse maravilhoso
soneto de Augusto dos Anjos, verdadeira ficha de identidade do poeta, não figurou
na nona edição do Parnaso, comemorativa do 40° anos de sua publicação?” Chico baixou
os olhos e respondeu: “Não sei. Desde a quinta edição do Parnaso que eles tiraram
esse soneto”. E desviou o assunto. Eles são os seus editores da FEB, a cujo departamento
editorial Chico cedeu gratuitamente uns oitenta livros. Nem sequer para a sua obra
psicografada este homem que deu sua vida ao trabalho mediúnico pode exigir o respeito
que ela merece.

Soubemos depois de outras alterações nesse e em outros livros. Mas Chico Xavier
não reclama porque sua missão é unir e não dividir. Perguntamos a Chico se o fato
de estar sempre mediunizado não o perturba. Chico lembra que na infância e na adolescência
isso o perturbava. E acrescenta: “Vivemos sempre com o retrato que fazem de nós
e com a nossa própria realidade interior. Te­mos de nos ajustar a uma e a outra.
Aceito o mundo a os homens como eles são, a continuo eu mesmo. Só o tempo me deu
esse equilíbrio. E isso não é fruto de santidade, como pensam alguns, nem de perfeição,
co­mo dizem outros – é fruto de experiência”.

Este é um dos pontos que nos dão a prova da autenticidade de Chico Xavier: não
se faz de santo, nem de perfeito, nem de mestre. Quando o dr. Ranieri publicou um
livro com o título de Chico Xavier, o Santo dos Nossos Dias, o médium se aborreceu
como se o tivessem ofendido. Não quer que façam dele uma imagem irreal. Sabe que
as faculdades paranormais são naturais e que todos as possuem em menor ou maior
grau. Está convicto de que todos evoluímos para Deus através da experiência que
desenvolve nossas potencialidades espirituais. Não se julga superior a ninguém,
pois se considera um semovente do espiritismo, lembrando o dia em que teve de inventariar
os bens da fazenda em que trabalhava e descobriu essa palavra: ”Foi então que descobri
também o meu lugar”.

Quando Chico passou a usar peruca para cobrir a calva e a vestir-se melhor para
se apresentar em público, muita gente o acusou de vaidade. Ainda há pouco alguns
repórteres se referiram a isso. Mas Chico pergunta se lhe assiste o direito ou a
qualquer outra pessoa, de ferir a sensibilidade alheia e desrespeitar auditórios
e assembléias a pretexto da humildade.

”Devemos cuidar da nossa aparência física, como cuidamos da espiritual. Não temos
o direito de chocar os outros e enfear o mundo com as nossas deficiências”. Poderão
pensar que isso é uma boa desculpa, mas quem conhece Chico Xavier de perto sabe
que essa é realmente a sua atitude. “Não posso ser vaidoso de mim mesmo, pois tudo
o que fiz não foi feito por mim mas pelos espíritos, devo a Emmanuel tudo o que
sou”.

A última de Chico é esta: sua atual reencarnação foi desapropriada pelos espíritos.
“Agora estou tranqüilo. Não me pertenço mais. Estou nas mãos deles para o que eles
determinarem. O primeiro plano de Emmanuel foi de trinta livros, que cumpri ate
1947; o segundo foi de 60, cumprido ate 1958; de 59 para cá não me compete saber
dos seus planos, mas apenas obedecer. É o que estou fazendo e não sei a quantos
livros chegaremos.”

Psicografia e automatismo

A obra psicográfica de Chico Xavier se impõe não só pelo valor moral e espiritual,
mas também pela autenticidade estilística e temática dos escritores comunicantes.
Há uma série de romances romanos transmiti­da por Emmanuel – Há Dois Mil Anos, 50
Anos Depois, Paulo a Estevão, Ave Cristo e Renuncia – que constituem verdadeiro
desafio aos que pretendem explicar a psicografia de Chico Xavier pelo pasticho ou
pelo automatismo. Roberto Macedo elaborou um Vocabulário Histórico-Geográfico dos
Romances de Emmanuel que foi publicado pelo Departamento Editorial da FEB (Federação
Espírita Cristã Brasileira) e que mostra a complexidade de dados de que o autor
teve de ser­vir-se para escrevê-los. Acontece que o médium nunca possuiu cultura
suficiente para tanto nem dispôs de material de consulta ou mesmo de tempo para
usá-lo.

Como Chico Xavier recebeu esses romances? Sentado a mesa do Centro Espírita Luis
Gonzaga ou numa sala de arquivo da fazenda em que trabalhava em Pedro Leopoldo e
dispondo apenas de lápis e papel.

A técnica de transmissão paranormal por ele descrita concorda plenamente com
a verificada pelas pesquisas parapsicológicas atuais em casos diversos, particularmente
nos casos de visões a aparições. Emmanuel não se limitava a ditar os romances por
efeitos auditivos ou intuitivos ou ainda a escrevê-los pela psicografia automática.
No caso de Paulo e Estevão, por exemplo, essa técnica era iniciada por projeções
dos episódios do romance numa tela psíquica (implicando um caso típico de retrocognição
ou visão do passado) só de­pois dessa projeção é que  médium passava a escrever,
sob impulso da entidade espiritual, que lhe movia a mão em processo semi-mecânico.
Quem estiver habituado a leituras parapsicológicas deve lembrar-se do livro de Tyrrel,
Aparições ou do livro Os Canais Ocultos da Mente da sra. Louise Rhine, em que esse
processo é descrito e analisado. A ocorrência desse fenômeno com Chico Xavier não
se limita aos casos de psicografia, o que vale por confirmação das suas declarações
a respeito. A flexibilidade mediúnica de Chico é extraordinária e os testemunhos
insuspeitos das mais variadas formas de ocorrências são numerosos. A escrita automática,
como se sabe, muito antes dos estudos de Pierre Janet e outros, já era conhecida
dos espíritas. O automatismo psicomotor que a produz resulta da passagem para a
mente de correntes de idéias do inconsciente do médium em estado de transe hipnótico
ou mediúnico. Esse automatismo é o instrumento, o mecanismo de que se servem os
espíritos na produção da psicografia.

É grande a variedade de tipos de manifestação psicográfica, não só entre vários
médiuns como na atividade de um mesmo médium. A psicografia pode ser apenas intuitiva
(o médium captando mentalmente o fluxo de idéias da entidade comunicante) ou intuitivo-mecânica
(o que vale dizer semi-mecânica) pois nesse caso o médium recebe o fluxo de idéias
no mesmo tempo em que a sua mão é impulsionada a escrever com grande rapidez. Pode
ser também auditiva (o médium ouve o ditado oral da entidade e escreve) ou auditivo-mecânica.
E pode ser simplesmente mecânica. Com Chico Xavier a forma mais freqüente, ao que
parece, e a intuitivo-mecânica.

Além da serie de romances romanos, suficiente para provocar o interesse dos pesquisadores
mais categorizados, Chico Xavier possui na sua obra vários volumes de estudos científicos
como Pensamento e Vida, Mecanismos da Mediunidade, Nos Domínios da Mediunidade,
Evolução em Dois Mundos, em que a soma de conhecimentos e dados é simplesmente atordoante.
Não há possibilidade de se explicar a produção de um só desses livros sem a intervenção
de outras mentes na atividade do médium. A pesquisa dos fenômenos theta e o pronunciamento
favorável de eminentes parapsicólogos. A permuta de pensamentos entre mentes extra-somáticas
e mentes humanas autoriza a aceitação da tese espírita admitida pelo médium.

O livro Evolução em Dois Mundos originou-se de um processo de parceria mediúnica
a distancia. Chico Xavier, que então residia em Pedro Leopoldo, recebia naquela
cidade os capítulos impares, e Waldo Vieira, que residia em Uberaba, recebia os
capítulos pares. A distância entre as duas cidades é de setecentos e poucos quilômetros.
A seqüência do livro e o próprio estilo dos capítulos são perfeitos, demonstrando
a origem única do trabalho psicográfica dos dois médiuns.

Certamente se pode perguntar o que distingue a psicografia da escrita-automática.
A distinção é feita através dos dados objetivos da escrita. Se ela se revela pelo
conteúdo e pela forma (as idéias, a temática e o estilo), pela caligrafia e a assinatura,
por da­dos pessoai inconfundíveis da entidade comunicante; só o preconceito pode
levar um investigador a atribui-la ao animismo (segundo a terminologia espírita)
ou ao automatismo psíquico inconsciente (segundo a linguagem psicológica). As duvidas
levantadas por meio de hipóteses fantasiosas, co­mo a da captação pelo médium de
conteúdos de mentes de pessoas distantes ou de captação num possível inconsciente
coletivo, estão fora de moda. A pesquisa intensiva mostrou o absurdo dessas hipóteses.

Continua no próximo Boletim

(Publicado no Boletim GEAE Número 470 de 10 de fevereiro de 2004)

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