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Cigarro e hipocrisia

Um intensa campanha vem sendo feita nos países desenvolvidos para banir da
sociedade o vício de fumar. No Brasil já se vê alguns movimentos nesse sentido.
Mas, democraticamente, alguns viciados têm fundado associações para defenderem
seu direito de envenenarem-se. Mal sabem da responsabilidade que estão tomando
sobre si. Mais tarde, terão de prestar contas perante a Providência Divina pelos
malefícios que fizeram a eles e a outros que lhes deram ouvidos. O fumo deveria
ser banido da sociedade. Democracia não quer dizer liberdade de matar-se. Se
fosse feito um “referendum” popular para saber a opinião da população sobre o
vício de fumar, é certo que seria extirpado da comunidade. E tudo conforme as
leis. Só é direito aquilo que faz bem à saúde e à vida moral das pessoas. Tudo o
mais precisa ser combatido. Pena não haver interesse dos governantes nesse
sentido.

No Movimento Espírita o problema do cigarro é um acinte ao bom-senso. Como
vivemos num clima onde os erros e enganos são vistos com aquela complacência
recomendada pela “unificação” e pelos ensinamentos das “colônias”, cada um faz o
que quer. É muito comum trabalhadores e dirigentes espíritas fumarem e
defenderem o hábito com naturalidade. Alguns expositores não percebem o ridículo
a que se prestam. Fumantes inveterados, tentam defender publicamente o vício,
dizendo que cigarro não tem nada a ver com as condições morais de quem o usa.
Artifício interessante, nascido de fatos bem conhecidos: alguns figurões
espíritas (eleitos pela parentela e pelos amigos como “mestres”), eram fumantes.
Daí, para não mancharem o nome “honrado” que conquistaram entre os homens, seus
admiradores seguem enganando pessoas, dizendo que o fumo não tem a ver com
moral.

A Revista Planeta Extra (já extinta), em seu número 17, apresenta uma
entrevista com o médium Francisco Cândido Xavier. E, numa das questões, Chico
defende abertamente a idéia de que o fumo não impede o indivíduo de cumprir uma
missão relevante. Vejamos o que diz:

Pergunta: Você teria alcançado condições de desempenho de seu mandato
mediúnico, ao longo de mais de meio século de trabalho incessante, se fosse um
dependente de nicotina?

Resposta: “Creio que não, com referência ao tempo de trabalho, de vez que a
ingestão de nicotina agravaria as doenças de que sou portador, mas não quanto a
supostas qualidades espirituais para o mandato referido, de vez que considero o
hábito de cultivar pensamentos infelizes uma condição pior que o uso ou abuso da
nicotina e, sinceramente, do hábito de cultivar pensamentos infelizes ainda não
me livrei.”

Chico tinha razão. Acabava de manifestar um pensamento extremamente infeliz e
de conseqüências graves. Partindo dele, o “ensinamento” seria um poderoso
argumento para os fumantes continuarem fumando. E foi o que aconteceu! Talvez,
por conta disso, corra no movimento a história de que é melhor um fumante
trabalhar na casa espírita fazendo alguma caridade, do que fumar e não fazer
coisa alguma. Filosofia linda, mas contrária ao mais elementar bom senso e regra
de progresso moral de todos os que se dizem espíritas. Se o fumante e o não
fumante estão no mesmo padrão moral na casa espírita, então por que não fumar?
Seria a extinção da virtude.

Tem uma outra história (no movimento existem muitas): Dizem que o fumante, ao
chegar nas “colônias” espirituais, vai receber cigarros dos Benfeitores
diariamente e de maneira decrescente, até que se desabitue do vício de fumar.
Isso seria mesmo verdade? Bem, se for, daí se pode aplicar o mesmo princípio à
bebida alcoólica, à cocaína, à heroína, à maconha etc. O vício, em vez de ser
moral, seria do corpo físico. Como poderia o sujeito ter culpa se o seu corpo é
quem viciou? E teríamos uma aberração doutrinária que contraria os princípios
elementares do Espiritismo. Será que alguém se preocupa com isso? No Movimento
Espírita aceita-se tudo. Basta que a idéia venha pela cabeça de uma pessoa
famosa.

Já está mais que na hora de nós, que somos espíritas professos, levarmos as
coisas a sério. O viciado em cigarros é um Espírito em desequilíbrio. Se procura
a casa espírita, seu vício deve ser tratado como uma enfermidade a ser tratada
com apoio médico e espiritual. Se trabalha na casa espírita, ele poderá
participar das atividades de instrução e de assistência, mas não se envolverá
nas atividades de cunho mediúnico, onde as energias humanas são utilizadas para
curar e restabelecer o desequilíbrio obsessivo. Um médium fumante está
contaminado pelas emanações da droga que usa e pelas energias do seu psiquismo
alterado. Os dirigentes espíritas tem o dever de esclarecer seu público a
respeito da nocividade desse hábito. Claro, sem deixar de promover também a
edificação moral em todos os sentidos.

Quanto à morte, saibam os caros fumantes que, como os outros dependentes
químicos no mundo espiritual, eles serão tratados como doentes. E poderão ficar
sofrendo nas regiões umbralinas por tempo mais ou menos longo, até que ofereçam
condições de serem socorridos. Os que fumam e fazem caridade (para aliviar sua
culpa) que se cuidem. Martin Lutero, o reformador protestante, dizia o seguinte:
“Não são as boas obras que fazem o homem de bem, mas o homem de bem que faz as
boas obras”. Ensinava que o dever primeiro do seguidor do Cristo é reformar-se
interiormente e que não pode fazer a verdadeira caridade, aquele que está
dominado pelos vícios. É assunto para se pensar! Se estiver certo, as coisas não
serão tão simples como imaginam.