Ciúme e Inveja
Esses dois sentimentos são destruidores da paz que se deve buscar para a harmonia
da convivência. Apegos, medos e especialmente a insegurança pessoal, aliados ao
egoísmo são seus geradores. Além da presença nos lares, nos relacionamentos, eles
também comparecem com toda força nas instituições inspiradas pelo Espiritismo, pois
que provenientes da imperfeição do caráter humano, ainda necessitado de correções
morais. Como destaca Allan Kardec em O Livro dos Médiuns1,
item 336, referindo-se aos inimigos do Espiritismo, “(…) os mais perigosos não
são os que o atacam abertamente, mas os que agem nas sombras; estes, o acariciam
com uma mão e o difamam com a outra. (…) graças aos surdos enredos que passam
desapercebidos, semeiam a dúvida, a desconfiança e a desafeição; sob a aparência
de um hipócrita interesse pela coisa, criticam tudo, formam conciliábulos e rodas
que cedo rompem a harmonia do conjunto (…) Esse estado de coisas, deplorável em
todas as sociedades, o é mais ainda nas sociedades espíritas, porque se não levam
a uma ruptura, causa uma preocupação incompatível com o recolhimento e a atenção”.
São severos inimigos da boa convivência. Filhos do orgulho, comparecem na seara
doutrinária do Espiritismo com os sintomas da animosidade crônica. Diríamos que
como uma estranha rivalidade com alguém ou um fechamento intencional do afeto, que
coagula as emoções na frieza disfarçada. Tais sentimentos não aceitam a felicidade,
o êxito alheio ou perfis psicológicos diferentes dos quesitos pessoais do próprio
invejoso ou ciumento. E formam os sutis detetives da conduta alheia. Na verdade
significam apego e apropriação de espaços de trabalho, em cargos ou atividades,
e mesmo ainda em autênticas disputas mentais que o invejoso trava entre si e aquele
que julga como oponente, em razão muitas vezes, da desenvoltura do imaginário adversário.
A Revista Espírita2 traz abordagens sobre tais temas. O Espírito
São Luiz abordou a questão da inveja, respondendo a um questionamento: “(…) seu
Espírito está inquieto, sua felicidade terrestre está no auge; ele inveja o ouro,
o luxo, a felicidade aparente ou fictícia de seu semelhante; seu coração está destroçado,
sua alma surdamente consumida por essa luta incessante do orgulho, da vaidade não
satisfeita; ele carrega consigo, em todos os instantes de sua miserável existência,
uma serpente que ele reaquece, que lhe sugere, sem cessar, os mais fatais pensamentos:
‘Terei essa volúpia, essa felicidade?’ (…) E se debate sob sua impotência, vítima
dos horríveis suplícios da inveja. (…)” E conclui: “(…) Fazei vossa felicidade
e vosso verdadeiro tesouro sobre a Terra as obras de caridade e de submissão, as
únicas que devem contribuir para serdes admitidos no seio de Deus; essas obras do
bem farão vossa alegria e vossa felicidade eternas; a inveja é uma das mais feias
e das mais tristes misérias do vosso globo; a caridade e a constante emissão da
fé farão desaparecer todos esses males (…)”
A outra referência, sobre o ciúme2, está assinado por O
Espírito protetor do médium e trata-se de mensagem recebida na presença do Codificador.
Pondera o autor: “(…) O ciúme é o companheiro do orgulho e da inveja; ele vos
leva a desejar tudo o que os outros possuem, sem vos dar conta se, invejando a sua
posição, não pedis senão que se vos faça presente uma víbora que aquecereis em vosso
seio. (…)” Claro que esse comentário pode ser estendido a todas as demais conquistas
daquele que sofre a ação do ciúme e não se circunscreve aos patrimônios materiais.
Em ambos os casos, porém, a clara indicação do aprimoramento interior no combate
a esses sentimentos, frutos do orgulho. Ambos são tolos e causam enorme perda de
tempo, tranqüilidade e progresso. E já que a finalidade da presença do Espiritismo
no planeta é a melhora moral dos seres humanos, iniciemos desde já uma análise interior
para avaliar a presença desses indesejáveis sentimentos e seu expurgo, mesmo que
a longo prazo, para que possamos desfrutar da incomparável experiência de viver
buscando o progresso que a vida destina a todos nós.
129a edição IDE, novembro de 1993, tradução de Salvador
Gentille.
2Em Julho de 1858 sobre A inveja e Outubro de 1861, sobre
O ciúme. Edições do IDE, respectivamente páginas 177/178 e 315, tradução
de Salvador Gentille.