“Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu:
Não vem o reino de Deus com aparências exteriores”
(Lucas, 17:20)
Não se pode negar o grande progresso da ciência e da tecnologia (esta como conseqüência
daquela). Esse progresso superou, e muito, os inventores e idealistas de algumas
décadas atrás, que sonhavam conseguir meios de comunicação e de transportes mais
eficientes, e mais rápidos para todos. O automóvel, o avião, as viagens espaciais,
em tempo relativamente pequeno, realizaram feitos muito além do que sonhavam os
mais otimistas dos seus idealizadores. Nas diversas outras áreas da atividade humana,
como na medicina, os inventos de máquinas e utensílios para o trabalho doméstico,
na indústria, e nas atividades rurais, também experimentaram o mesmo progresso.
Entretanto, apesar de todos esses avanços e descobertas, o ser humano da atualidade
parece não viver mais feliz, nem melhor, do que o seu antepassado. Como entender
o fenômeno?
No Livro dos Espíritos, questão 793, Allan Kardec pergunta: “Por que sinal se
pode reconhecer uma civilização completa?” Resposta: “Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento
moral, Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e
invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os
vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados
quando houverdes banido da vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes
a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais
do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização”.
Allan Kardec em comentário à resposta citada considera que “a civilização tem os
seus graus, como todas as coisas, Uma civilização incompleta é um estado de transição
que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso
deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio
para aqueles males. A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar
alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral”.
A resposta esclarece bem a questão. Progredimos em determinados aspectos, mas
ainda não realizamos o mesmo progresso no que se refere ao conhecimento sobre nós
mesmos, e como nos relacionar uns com os outros. Ainda não nos conscientizamos que
somos todos irmãos, filhos de um mesmo Pai, e que para sermos verdadeiramente civilizados
e felizes precisamos nos respeitar mutuamente, cooperarmos pelo bem comum, destruindo
o egoísmo e o orgulho que ainda nos dominam. Somos, pois, uma civilização incompleta.
Evoluímos em parte, mas ainda não compreendemos que o mais importante é o próprio
ser humano, Espírito imortal, temporariamente no plano físico em busca do seu próprio
desenvolvimento. Como, disse alguém, o homem conhece mais o átomo do que a si próprio.
O Espiritismo considera de fundamental importância, para o progresso moral da
humanidade, resgatar os ensinos de Jesus, em sua pureza e simplicidade primitivas.
“Durante os dois mil anos que se seguiram à morte do Mestre e ao Cristianismo Primitivo,
a Igreja procedeu, através de sínodos e concílios, a acréscimos de tal magnitude,
que acabaram por desfigurar a doutrina original. Ela incorporou ritos, símbolos
e idéias provindos do paganismo romano, do Zoroastrismo e do Mitraísmo (culto de
Mitra, divindade solar persa, um dos gênios do Masdeísmo)”.1 E o essencial
para a nossa educação, para o desenvolvimento das potencialidades do Espírito, foi
relegado a plano secundário, ou mesmo esquecido. Um exemplo disso é a lei de causa
e efeito. Há várias passagens nos ensinos de Jesus, tratando desse tema: “A cada
um segundo suas obras”; “Guarda a tua espada, pois todos os que pegaram na espada,
da espada morrerão”; “Com a medida que medirdes os outros, sereis medidos”. O apóstolo
Paulo diz algo semelhante na Epístola aos Gálatas: “Não vos enganeis; Deus não se
deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará”.
Entretanto, para bem compreendermos a lei de causa e efeito, precisamos admitir
e estudar outra lei importante – a reencarnação, pois só numa existência não conseguimos
entender o mecanismo da lei. Daí a importância do estudo dos ensinos de Jesus, à
luz da Doutrina Espírita, que nos permite melhor compreender a finalidade da vida,
e o que fazer para edificação do reino de Deus em nosso íntimo.
1 – A Missão Maior do Movimento Espírita – Reformador, fevereiro/2001,
pág. 24
(Jornal Verdade e Luz Nº 185 de Junho de 2001)