Wellington Balbo – Salvador BA. Matéria original publicada no Jornal Momento Espírita, do Centro Espírita Amor e Caridade – Bauru SP.
Fundamental ampliar a consciência da imortalidade em nós, pois ela leva-nos a compreender que estamos todos de passagem uns pela vida dos outros. Aprendemos, então, a amar sem apego, pois o apego é fonte de constante sofrimento. Portanto, com o desapego, o que não quer dizer desamor, aprendemos a aceitar de forma mais leve e tranquila quando um afeto tem de nos deixar para seguir seu caminho por outros recantos deste universo.
Tipos de desencarnes e as dores.
Há desencarnes violentos, abruptos, inesperados, como há desencarnes provenientes de doença de longo curso, suicídios e etc. Além, é claro, dos desencarnes de forma natural, como uma vela que vai, paulatinamente, apagando-se. Allan Kardec ensina que é como uma lâmpada que se apaga por falta de energia.
No entanto, qual o pior ou o melhor desencarne?
Isso depende muito de como o desencarnante e seus familiares encaram a morte.
Em realidade, é muito mais relevante a forma com que se viveu aqui na Terra do que a maneira como ocorreu o desencarne.
O suicídio é um capítulo à parte. Se por um lado o Espírito compromete-se sobremaneira perante as leis da vida, por outro lado existe a misericórdia de Deus que jamais fecha a porta aos seus filhos.
Aos familiares daqueles que se atiraram pelas portas enganosas do suicídio, orienta-se orar em benefício do afeto, porquanto a oração é genuíno bálsamo que o auxilia na recuperação de seu equilíbrio. Fundamental não se revoltar nem rememorar os momentos dolorosos envolvendo o Espírito que se suicida, a fim de não fazê-lo reviver com mais intensidade os seus dramas. Eis, também, uma das razões pelas quais deve-se orar com intenso fervor em benefício dos afetos que se precipitaram.
Há pessoas que não gostam nem de cogitar da morte, renegam a reflexão referente a grande certeza da vida e, por isso, sentem maiores dificuldades em superar a temporária separação quando ela ocorre.
Entretanto, há muita gente que vem trabalhando em si e nos familiares uma visão mais leve, encarando a morte como uma transição de um plano ao outro e não destruição plena da vida, dos sonhos e amores. Quem assim pensa conserva serenidade diante dos rumos tomados pela vida. Por conta do seu nível de espiritualização, naturalmente que ficam tristes, contudo libertos da revolta que costuma caracterizar aqueles que não se prepararam para a inevitável separação.
É comum nos preocuparmos se o nosso afeto sofreu ou não no momento derradeiro de sua vida. Ficamos a pensar:
Como foi o instante do desencarne? Sentiu dores? Sofreu? Chorou?
O Espiritismo responde essas questões e apazigua o seu coração. Dizem os sábios invisíveis que no momento derradeiro da existência não há sofrimento, e que o indivíduo sofre mais durante a vida do que no instante de seu desencarne. Para alguns, aliás, o desencarne é um júbilo, pois vê chegar o final de seu exílio no corpo físico.
Muita gente fica impressionada com o tipo de morte de seu afeto, principalmente quando é violenta. Compreensível que o contexto da morte cause maior ou menor comoção. Uma coisa é ver seu afeto partir após doença de longo curso. Outra coisa é vê-lo deixar esta vida de forma brutal, assassinado por exemplo.
A propósito, na obra que tive o prazer de escrever Pérolas devolvidas – publicada pela Editora CEAC, que aborda o tema partida de entes queridos, conto o caso de uma senhora que viu seu filho ser btutalmente assassinado. Indagada se havia perdoado o assassino, respondeu de forma inesquecível:
– Perdoar em meu caso não é uma escolha, mas necessidade. Se conviver com a ausência de meu filho está difícil, com ódio seria insuportável.
Uma sábia mulher que, apesar da dor, concedeu para si mesma o presente do perdão. Vive em paz, não obstante a saudade que faz sangrar seu coração materno, segue sua vida de forma digna e confia em Deus de que um dia, cedo ou tarde, reencontrará seu filho.
E a alma, fica presa ao corpo depois de sua morte? Como funciona isso?
Informam os Espíritos que não há uma separação abrupta entre alma e corpo, e isto efetua-se de forma gradativa. Os laços que mantinham ligados Espírito e corpo físico por meio do perípirito (corpo espiritual), vão paulatinamente rompendo-se até ocorrer a separação definitiva. Naturalmente que o tempo de desprendimento entre corpo e alma é variável de pessoa para pessoa.
Quanto mais ligada a matéria for o indivíduo maior é o tempo em que permanecerá de alguma forma ligado ao seu corpo físico.
Eis porque a necessidade de irmos nesta existência dando-nos conta de que estamos, realmente, apenas de passagem, cultivando, pois, os valores além da matéria. Se cuidar do corpo é importante e, aliás, ressaltamos esta importância, cuidar do Espírito, buscando autoconhecer-se e praticar o bem no limite das forças é fundamental, pois, como bem sabemos, não somos o corpo, mas, sim, um Espírito que está temporariamente morando no corpo físico.
E após o desencarne, para onde vamos, para onde vão nossos amores?
Pergunta muito comum de natural curiosidade. Afinal, já que a vida não se encerra no túmulo, para onde iremos nós e nossos amores?
O Espiritismo ensina que Céu e Inferno não são locais geográficos, mas estados de consciência. Portanto, nossa consciência que ditará os locais onde estaremos. Se conscientes de que somos Espíritos imortais, cumpridores de nossos deveres e entendedores de que necessitamos domar nossas más inclinações, naturalmente que iremos para um local no plano espiritual que faz jus as nossas aspirações, realizações, necessidades e desejos. Logo, tanto encarnados como desencarnados viveremos onde mais tivermos afinidades de vibração, formando comunidades espirituais. É por essa afinidade de vibrações que se formam as colônias espirituais, como, por exemplo, a chamada Nosso Lar, conhecida pelas narrações de André Luiz ao médium Chico Xavier. Se gosto de futebol procurarei lugares onde as pessoas falam de futebol e não de voleibol. Então, por analogia, entendo que aqui ou no além procurarei habitar regiões em que tenho afinidades.
No dia de finados posso visitar meu afeto no cemitério?
Em palestras pelo interior do estado de São Paulo no mês de outubro, fui indagado justamente sobre isso. Uma jovem perguntou se podia visitar sua mãe no cemitério e levar flores?
Claro que pode ir ao cemitério, foi nossa resposta, entretanto, considere que no cemitério estão apenas os despojos carnais de sua mãe. Seu Espírito, bem provável, não esteja por lá. Indaguei-lhe qual o local da casa que a mãe mais gostava. Ela disse, feliz, como se sentisse a presença da mãe ao seu lado: Na cozinha! Mamãe adorava a cozinha. Então, disse-lhe, que tal colocar as flores na cozinha e conversar lá com a sua mãe, atraindo-a pelo pensamento ao local onde ela apreciava na casa. Certamente que sua mãe sentirá suas vibrações de amor e, a depender de sua situação no mundo dos Espíritos e da permissão de Deus, poderá comparecer para uma visita. Penso que ela ficará muito mais a vontade em estar na cozinha de sua casa do que no cemitério, certo? Ela, sorrindo, fez que entendeu a mensagem e despediu-se.
Apenas morre o corpo!
Tenhamos a certeza de que apenas o corpo morre, mas a essência permanece viva, nosso Espírito vivem pela eternidade afora.
A separação é apenas temporária. Ademais, a morte do corpo não mata os bons momentos vividos, não sepulta as ternas recordações, não destrói uma vida digna de exemplos edificantes.
Muitos dizem sentir saudades. Ah, quão abençoada é a saudade, pois representa o amor que fica.
Celebremos nossos amores em nosso coração, elevando nosso pensamento a Deus em forma de gratidão por termos convivido e aprendido com eles.
O Espiritismo matou a morte tétrica, trágica, fúnebre ao informar:
Eles vivem… eles vivem…
E se eles vivem, um dia nos reencontraremos…
Quem viver, verá…