Crises
“Pai, salva-me desta hora; mas para isto vem a esta hora” – Jesus
(João, 12:27)
Todos temos os momentos de crises, as fases mais difíceis. A vida vai
seguindo seu curso, tudo correndo normalmente, até que chega um momento em que
os problemas aumentam. A dificuldade se intensifica, acontecem surpresas
desagradáveis: é a hora da crise. Pode ser uma doença grave, reveses
financeiros, dificuldades de relacionamento, perda de entes queridos, seja pela
desencarnação, ou por abandono de uma das partes, o lar desfeito, etc. Quem vive
tranqüilamente, sem maiores dificuldades, deve se preparar para os momentos
difíceis, que certamente chegarão. Sim, porque todos passamos ou passaremos por
eles. Até mesmo aquele que parece indene a tais dificuldades, da morte do corpo,
ou seja, da desencarnação, ninguém escapa. E o momento da passagem para o outro
plano da vida certamente se constitui num momento difícil, num teste sério.
A crise é como a prova que o estudante faz para ser promovido a um estágio
superior. Durante o ano letivo, o estudante trabalha com as matérias do
programa, recebe a orientação dos professores, tem todas as oportunidades para
se preparar para o dia da prova. Realiza exercícios, participa das aulas, faz
pesquisas, enfim tem toda a liberdade e apoio para realizar o aprendizado.
Porém, no momento do teste, deverá demonstrar o que aprendeu. Não poderá valer
da ajuda de colegas, nem recorrer a fontes de consulta, nem a apontamentos.
As crises da vida são assim como a prova referida, como esse teste a que o
estudante se submete. E vale notar que assim como o teste na escola, ou uma
prova num concurso, é realizado para uma promoção, para o bem do candidato;
assim também os testes da vida ocorrem para o bem, para o progresso da criatura.
Sua finalidade é o aperfeiçoamento do Espírito, fazer com que ele ganhe mais
confiança em si mesmo e em Deus; conquiste uma situação melhor.
E como reagimos a esses testes, às crises da vida? O candidato que se submete
a um concurso para obter um emprego, e o estudante que faz a prova com vistas a
“passar de ano”, fazem-no de bom grado, ciente de que é para o seu bem. Tais
provas não são realizadas para sacrificar, simplesmente, o candidato, e sim
visando aferir sua capacidade, para uma promoção. Desta maneira devemos
enfrentar as crises da vida, os momentos de dificuldade, que acontecem não para
massacrar, mas para nos promover. Vê-los como um desafio é uma atitude de
sabedoria.
Há três formas de reação, nessas ocasiões. 1.°) há os que se revoltam. “Por
que Deus fez isto comigo?” – dizem. Como se Deus os estivesse punindo,
caprichosamente. E chegam, mesmo, a “brigar” com Deus, afastam da religião,
dizem que perderam a fé. (Será que possuíam fé?). São os revoltados. Esses, ao
que tudo indica, não passaram no teste. Terão que repetir a lição. Acrescentam
dores desnecessárias ao processo evolutivo. 2.°) Há os que se deixam abater.
Passam a se considerar derrotados, vencidos, apassivados diante de outras
situações. Tornam-se pessimistas, amargurados. Também não lograram êxito no
teste. 3.°) Finalmente há aqueles que, conforme diz a letra da música popular,
“levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima”. São os regenerados, os que
recebem a crise, a dificuldade, aceitam-na sem se acomodarem. Reúnem suas
forças, recorrem à oração, e com confiança em Deus e em si próprios vão
superando as dificuldades. Aproveitam plenamente o benefício da experiência. A
crise, a dor forte, revela-lhes a coragem, a fé fortalecida, e a capacidade de
luta.
Emmanuel, analisando o versículo de João, citado de início, considera: “Ia o
Mestre provar o abandono dos entes amados, a ingratidão de beneficiários da
véspera, a ironia da multidão, o apodo na vida pública, o suplício e a cruz, mas
sabia que ali se encontrava para isto, consoante os desígnios do Eterno. Pede a
proteção do Pai e submete-se na condição do filho fiel”. E mais adiante acentua:
“Todos os seres e coisas se preparam, considerando as crises que virão. É a
crise que decide o futuro. A terra aguarda a charrua. O minério será submetido
ao cadinho. A árvore sofrerá a poda. O verme será submetido à luz solar. A ave
defrontará com a tormenta. A ovelha esperará a tosquia. O homem será conduzido à
luta. O cristão conhecerá testemunhos sucessivos” 1
No livro “A voz do Monte”, lição intitulada “Quando a dor redime”, Richard
Simonetti afirma: “Oferecendo o ensejo de despertamento e resgate, as dores da
existência representam o preço nunca demasiadamente alto que pagamos para o
ingresso nas bem-aventuranças celestes. Seja a dor física, que depura, seja a
dor moral, que amadurece, temos em suas manifestações o cuidado de um mestre
inflexível que nos disciplina e orienta, preparando-nos para assumir a condição
de filhos de Deus e herdeiros da Criação”.
1 – Vinha de Luz, cap. 58 – Emmanuel/Francisco C. Xavier
(Jornal Verdade e Luz Nº 175 de Agosto de 2000)