Kardec definira o Espiritismo como uma ciência que trata da natureza, da
origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações com o mundo corporal. É ao
mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência
prática, consiste nas relações que se pode estabelecer com os Espíritos; como
filosofia, abrange todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Delanne escreveu que o Espiritismo, que tem por principal objetivo nos
demonstrar a existência da alma após a morte, nos dá as indicações precisas
sobre a vida futura, nos permite compreender a bondade e a justiça de Deus, nos
fornece a explicação de nossa existência sobre a terra. Em uma palavra, é a
ciência da alma e de seus destinos.
Nem todos os médiuns são espíritas: os médiuns receberam de Deus um dom
gratuito, o de serem os intérpretes dos Espíritos para instrução dos homens, e
não para lhes venderem as palavras que não lhes pertencem. Porque elas não são
um produto de sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu trabalho pessoal.
A mediunidade não é um privilégio; ela é uma faculdade dada para o bem, que se
encontra em toda parte. Os bons Espíritos se afastam de qualquer um que pretenda
deles fazer um patamar para fins pessoais, enquanto que os Espíritos levianos
são menos escrupulosos, e procuram sempre ocasiões para se divertirem às nossas
custas.
O Espiritismo não é mais solidário com aqueles que procuram alguma vantagem
em se dizer espíritas, do que a medicina o é com os charlatões que a exploram,
como a sã religião não o é com os abusos ou mesmo com os crimes cometidos em seu
nome. Não reconhece como seus adeptos senão aqueles que põem em prática seus
ensinamentos, isto é que trabalham para sua própria melhora moral, esforçando-se
para vencer suas más inclinações, em ser menos egoístas e orgulhosos, mais
doces, mais humildes, mais pacientes, mais benevolentes, mais caridosos com seu
próximo, mais moderados em todas as coisas, porque este é um sinal
característico do verdadeiro espírita.
Se é espírita apenas por simpatizar-se com os princípios da filosofia
espírita, e com eles ajustar a sua conduta.
Kardec tinha distinguido quatro classes de espíritas:
1ª Aqueles que se limitam às manifestações; nós os chamaremos de
Espíritas experimentadores.
2ª Aqueles que não vêem outra coisa senão os fatos; não compreendem a parte
filosófica; admitem a moral que deles depreendem, mas não a praticam; Estes são
os Espíritas imperfeitos.
3ª Aqueles que não se contentam em admirar a moral espírita, mas que a
praticam e aceitam suas conseqüências. Estes são os verdadeiros Espíritas.
4ª Há enfim os Espíritas exaltados. O exagero em tudo é prejudicial; no
Espiritismo, produz uma confiança cega e freqüentemente pueril nas coisas do
mundo espiritual e faz aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que, pela
reflexão e pelo exame, teria demonstrado a sua absurdidade ou impossibilidade.
Esta sorte de adeptos é mais prejudicial que útil à causa do Espiritismo.
Para saber mais:
- Que o Espiritismo ? Allan Kardec. (Introdução) e também p.135-136
- O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec. (cap. XXVI, A
mediunidade gratuita) - Obras Póstumas Allan Kardec (2ª parte, O que é o Espiritismo)
- O Evangelho segundo o Espiritismo Allan Kardec. (cap. XVII, Os bons
espíritos) - O Livro dos Médiuns Allan Kardec. (1ª parte, cap. III, três classes de
espíritas) - O Livro dos Médiuns Allan Kardec. (2ª parte, cap. XXVIII, Médiuns
interesseiros) - Revista Espírita 1991 – n° 7, p.23 e n°8, p.8 (As incoerências
doutrinais de G…)