Edson Falcão
Este assunto sempre surge entre os iniciantes na doutrina, e mesmo entre os mais antigos. Diversas respostas apaixonantes já foram dadas, mas é difícil chegar a um termo.
Aqui compilamos um interessante conjunto de mensagens da lista Espiritismo Brasil veiculados entre 14 e 27 de Julho. Cada um que tire a sua própria conclusão.
Para dar apoio a este estudo, a seguir apresentamos alguns artigos relacionados:
Tríplice aspecto da Doutrina:
“O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe a necessidade de fazer o bm e não fazer o mal. É uma ciência de observação que tem conseqüências morais e essas conseqüências são a conformação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, são deixadas à consciência de cada um” – ALLAN KARDEC
Porém, o próprio Kardec, segundo estudos de Carlos Imbassahy no livro “RELIGIÃO”, verifica a relação íntima que há entre o Espiritismo e as idéias religiosas, que desenvolve nos homens, fortificando-as naqueles que as tem incertas.
Allan Kardec, conforme relatos de Imbassahy, realmente nunca chamou a doutrina espírita de Religião, propriamente dita. Ele procurava evitar que o Espiritismo se transformasse numa religião com os defeitos, erros e os vícios que tanto tem contribuído para afugentar da alma humana de preceitos morais, o sentimento divino, o nome do Criador.
Vale a pena ler o referido livro.
Vladimir Alexei Rocha <[email protected]>
O Espiritismo é Religião?
O Espiritismo é Seita?
Gosto deste assunto! Tenho observado discussões ferrenhas entre Confrades que já estão na Doutrina há muitos anos. Até parece “papo” de torcedor de futebol! Irmãos amadurecidos e calcinados no cadinho das religiões durante milênios, e que, diante do Espiritismo, continuam querendo uma religião! Ainda não aprenderam a usar o raciocínio lógico, ainda não deixaram que a Doutrina penetrasse neles, ainda não se desapegaram dos rituais!
Sou Presidente da Federação Espírita Paraense, uma Instituição com seis anos de existência e com 43 Instituições membros. Apesar dos nossos esforços no sentido de que os Dirigentes de Centros Espíritas entendam e vivam a Doutrina dos Espíritos, é comum encontrarmos Presidentes de Centros Espíritas nos dias de estudo do ESDE, ao iniciarem os trabalhos, fazerem uma prece e, ao final, fazerem o “sinal da cruz” e encerrarem a prece com uma frase célebre: “em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo e de nossa Mãe Maria Santíssima”…! Há alguns mesmo, que usam um rosário no pescoço. Conheço um Centro, membro desta Federação, que as pessoas ao passarem diante da mesa da direção dos trabalhos, se ajoelham com um só joelho e se benzem! Não estou falando mal de ninguém. Estou falando de uma situação constrangedora que me pertence!
Espiritismo é religião ou seita?
No nosso pequeno entendimento, Espiritismo não é nem uma coisa nem outra. Observem que as Religiões se caracterizam por um volume de procedimentos do tipo “macro” ou corporativista. Possuem um Chefe Infalível; uma hierarquia rigorosa; sacramentos; rituais diversos. As religiões têm um gerenciamento centralizado na pessoa do “Chefe Infalível”! – As seitas, por outro lado, não são tão bem organizadas gerencialmente. Não possuem um número de rituais sempre crescente num misto de ritual e crendice; uma série de “isso pode” e “isso não pode”, isto é, uma série de proibições de cunho empírico, sem fundamentos filosóficos ou científicos. Os dirigentes de seitas fogem da organização gerencial, temendo muitas vezes, serem colocados pelos seus concorrentes, “em cheque”, quanto aos ensinamentos que eles divulgam.
Se vocês observarem, o Espiritismo não tem qualquer dos itens acima citados. Logo, por um raciocínio lógico, não se enquadra nem como religião, nem como seita.
O que é, então, o Espiritismo?
O Espiritismo é uma Doutrina. – Doutrina de cunho Científico, Filosófico e MORAL. – Por que MORAL? – Porque não está atrelada a nenhuma religião! – Ela veio diretamente da orientação espiritual sem qualquer vinculação com segmentos religiosos. Kardec era uma cientista, não um religioso. A Doutrina dos Espíritos foi lançada em ambiente neutro, visto que foi codificada por uma pessoa completamente neutra das interferências religiosas.
Aí você me pergunta: – E onde fica o sentimento cristão? – Eu lhe respondo: – Por acaso Cristo era algum religioso? – Que Igreja ele fundou? – O sentimento Cristão, o sentimento de Gandhi, o sentimento de Yogananda, de Babaji, de Zaratrusta, … não importa. O que importa é o EXEMPLO que esses Avatares nos deixaram! – Exemplos completamente despidos de religiosidades, de fanatismo corporativo, de rituais ou vestimentas características.
A palavra chave é o EXEMPLO MORAL que esses expoentes nos deixaram, e não, o exemplo religioso, mesmo porque eles nunca empunharam a bandeira de nenhuma religião. – Se você buscar a história universal, vai se esclarecer dessa realidade!
Depois de tudo isso, você me pergunta: – E como ficam as Federações?
Meu Irmão: – Não confunda Movimento Espírita com Doutrina Espírita. – Os dois são distintos e até independentes na sua essência. Caminham paralelos, mas podem existir sozinhos!
Oscar Ferreira da Rocha
Presidente da Federação Espírita Paraense <[email protected]>
Ciência, Filosofia e Religião
Vou tentar explicar-lhe a MINHA opinião, já que é um assunto que ainda requer muito debate, nos bem poucos anos que tento estudar a doutrina espírita, observei dentre vários conceitos sobre a mesma, que esta tinha um tríplice aspecto, Ciência, Filosofia e Religião.
Mas, como pode alguma doutrina ter a pretensão de unir metodologias classicamente colocadas em terrenos distintos?
Vamos ver aonde chegamos:
O Espiritismo é Ciência:
Porque estuda os fenômenos espirituais, especialmente os mediúnicos, fenômenos naturais e universais, que apresentam , como todos os fatos científicos, as características de generalidade e independência.
Porque seu estudo não repele, antes de amolda perfeitamente, às exigências do método cientifico, submetendo seus fatos mediúnicos à observação, formulação de hipóteses explicativas e à sua verificação pela experimentação.
Porque mesmo nos pontos de Doutrina, passou as revelações pelo controle da universalidade do ensino, isto e, estudo comparativa das informações dadas através de diferentes médiuns e por diferentes espíritos.
O Espiritismo é Filosofia:
Porque vai além do estudo do fato em si (emissão de um juízo de realidade), passando em seguida à interpretação deste fato, como objeto de inquirição filosófica, da busca dos porquês, quando emite então um juízo de valor.
Porque ilumina, aclara e soluciona problemas transcendentais, antes superficial e erroneamente tratados, como Deus, a origem e o destino dos Homens, as causas das misérias humanas etc.
Porque propõe uma postura racional (a fé raciocinada) inquiridora, desbravadora da própria existência, da vida, da natureza das coisas e do ser, sintonizando-se perfeitamente com a mais fundamentas das definições de filosofia.
Por ser um conjunto de conhecimentos definidos, ordenados em harmoniosa síntese lógica, formando um corpo de doutrina.
O Espiritismo é Religião:
Porque ainda não se exaure em seus aspectos cientifico e filosófico, tirando conseqüências dos fatos, como objeto de reflexão ética que levam ao progresso moral.
Porque admite, alem das perquirições racional e experimental, a via da revelação, que se da pelas comunicações mediúnicas, com a diferença de não tomá-las como inquestionáveis ou absolutas.
Porque tem ainda como função complementar o ensino do evangelho, no sentido de desenvolver e explicar, como uma chave para a compreensão mais exata e profunda dos ensinamentos de Jesus.
Assim, no dizer de Emmanuel, os três aspectos da Doutrina Espírita formam um triangulo de forcas espirituais, onde ciência e filosofia se apresentam na base e a religião , no topo, o ” ângulo divino” unindo tudo às cogitações de ordem superior, direcionando, catalisando todo conhecimento e toda energia para as finalidades fundamentais e intrínsecas dos seres e do universo.
Vale lembrar que NA ACEPÇÃO PRÓPRIA DA PALAVRA, Espiritismo NÃO É RELIGIÃO, pois não possui rituais, não possui postos de destaques, amuletos, velas etc…
Espero ter conseguido me explicar bem e não complicar ainda mais o amigo, mas se caso alguém discordar de alguma das idéias, por favor discutam..
Felipe Schubert <[email protected]>
(Base do texto extraído do Curso Fundamental Espiritismo AECS – BH)
Questão Controversa
A questão do tríplice aspecto do Espiritismo (ciência, filosofia e religião) e colocada como controversa, segundo muitos estudiosos da doutrina. Em nenhum momento Kardec teria utilizado, ou mesmo os Espíritos Superiores da Codificação esta expressão.
Quem usou esta expressão foi Emmanuel, o mentor do Chico Xavier. Foi no livro “O que e o Espiritismo” que Kardec traçou a definição mais clara que já vi a este respeito:
“O Espiritismo e ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência pratica, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações. “O Espiritismo e um ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.”
Na Revista Espirita (dezembro de 1868), na sessão anual comemorativa dos mortos, Kardec discursa com o tema “O Espiritismo e uma religião?”. Em um determinado ponto ele afirma:
“Porque, então, declaramos que o Espiritismo não e uma religião? Porque não ha uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião e inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o publico não veria ai senão uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião publica.
“Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, nao podia nem devia enfeitar-se de com um titulo sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral”
Fernando Porto <[email protected]>
Surpresa
Sabem o que mais me surpreende na sua pergunta? É como o ser humano ainda tem necessidade de classificar as coisas dentro dos seus critérios muitas vezes limitados e imperfeitos.
Desde Kardec essa questão é discutida e, no entanto, ninguém conseguiu esgotá-la definitivamente. Paralelamente a isso, os benefícios que o Espiritismo tem trazido para a humanidade em termos de conhecimento de si mesmo e dos vários aspectos da vida são incontestáveis. Isso sem falar no conteúdo moral desta doutrina, que nos ensina a viver em sociedade de forma saudável e produtiva.
Para mim, a Doutrina Espírita é um princípio de vida, muito mais que qualquer outra coisa.
Maisa Intelisano <[email protected]>
Questão Controversa
Caro Fernando, Realmente a definição trazida por você é a mais acertada no que tange a definição do conteúdo doutrinário.
Trouxemos o livro do Imabassahy por ser muito rico em informações e estudos auxiliares que nos proporcionam melhor compreensão do que realmente seja a doutrina.
Percebemos com os comentários de Kardec, trazidos por você que a doutrina é científica em sua sustentação, o que oferece legitimação dos estudos e das conclusões obtidas. É o uso da razão através dos métodos de pesquisa que proporcionaram o enveredar por estes caminhos, em conformidade com as orientações dos Espíritos.
O sentido da palavra religião é o de ligação (religare) com o Pai e não o que estamos dogmaticamente acostumados.
Tentando simplificar ou desmistificar certos parâmetros, vemos a reforma de conceitos pessoais com base na Codificação como sendo algo que nos “liga” ao Pai, pois a reforma é o nosso propósito na doutrina.
Por isso, vejo como coerente afirmarmos o tríplice aspecto doutrinário.
Vladimir Alexei Rocha <[email protected]>
Minha Religião
Ao me ser perguntada qual a minha religião, também respondo: Espírita.
O Espiritismo, no meu entender e salvo melhor estudo, é considerado uma religião filosófica, além dos outros aspectos, pelas suas conseqüências morais, sendo de foro íntimo, sem ritualismo ou quaisquer outras características das religiões tradicionais.
Kardec, na Revista Espírita de dezembro de 1868, afirma ser o Espiritismo uma religião, mas num conceito diferente da tradicional, pois que uma religião filosófica, como doutrina que fundamenta os laços de fraternidade e de comunhão sobre bases sólidas das leis naturais.
Conforme os ensinos, entretanto, o Espiritismo não é religião no sentido de culto, de práticas exteriores.
Kardec teve muito cuidado em usar a palavra “religião”, mas no meu entendimento, baseados em estudos, também não afirmou o contrário, pelo contrário apenas diferenciou o sentido Religião daquelas já existentes, sem dogmas, sem cultos etc. etc.
No livro “O Consolador” Emmanuel, sob a psicografia de Francisco C Xavier, assim se expressa:
“Religião é sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia operaram o trabalho da experimentação e do raciocínio, a Religião edifica e ilumina os sentimentos. As primeiras se irmanam na sabedoria, a segunda personifica o amor, as duas asas divinas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da Espiritualidade.”
Hannah Maria Helena <[email protected]>
É Religião
“Assim como um árvore tem um único tronco, mas muitos galhos e folhas, existe somente uma Verdade e Religião perfeitas, que se transformam em muitas religiões à medida que passa pelo meio humano. A única religião está além de todas as palavras; homens imperfeitos a colocam em uma linguagem que lhes permita comandar e as suas palavras são, então, interpretadas por outros homens igualmente imperfeitos. Por essa razão, existe a necessidade de tolerância, que não significa indiferença com o nosso credo, mas um amor mais inteligente e puro para com ele. O conhecimento verdadeiro da Religião rompe as barreiras entre os credos”. – Mahatma Gandhi
O Espiritismo também é religião, que busca o aperfeiçoamento como as demais. Existem vários caminhos que nos levam para frente, uns mais demorados, outros mais sofríveis, outros mais fáceis. Só que esta dificuldade ou facilidade depende muito mais do peregrino (do que do próprio caminho). Para mim o Espiritismo é o caminho mais fácil, para muitos conhecidos meus é considerado o mais difícil.
Marcelo Ferreira de Souza <[email protected]>
Não é Religião
Prezado Irmão Felipe
Embora concordando totalmente com você no seu comentário quanto aos aspectos científico e filosófico do Espiritismo, insisto em esclarecer meu entendimento quanto ao aspecto dito religioso.
Veja bem.
Os Espíritos Superiores que colaboraram na Codificação, em momento algum se referiram como partidários desta ou daquela Religião; em momento algum, sugeriram que os profitentes do Espiritismo fizessem uma adequação da Doutrina dos Espíritos a qualquer característica religiosa, o que, implicaria na descaracterização da essência estrutural dessa Doutrina que eles acabavam de revelar aos homens. As referências Evangélicas atribuídas ao Cristo, poderiam ter sido feitas também a outros Avatares do nosso Planeta, tais como Babaji, Yogananda, Vivekananda, etc. Nenhum deles – inclusive o Cristo – era religioso ou seguidor de alguma religião. Eles surgiram no seio da Comunidade da sua época e se expandiram nessa mesma Comunidade, como revolucionários dos costumes vigentes. Traziam uma mensagem estrutural na sua essência, o que contrariava frontalmente os conceitos sociais da época. O Cristo foi citado no ESE, porque era o Avatar conhecido do povo residente na parte ocidental do Planeta. Se a revelação da Codificação tivesse ocorrido no Oriente, com certeza o Cristo teria sido ignorado e as referências teriam sido feitas a Krishna ou Lao Tse. Logo, dada a ausência de características formalmente religiosas nesses Grandes Vultos, resta-nos seguir e viver a essência dos seus ensinamentos morais, despojados de
qualquer característica religiosa. Verifiquemos, que cada Religião se atribui como “verdadeira guardiã” dos ensinamentos do Cristo. Constatamos também, a existência de divergências enormes dentre os próprios seguidores
de uma mesma religião. Dessa forma, temos uma legião de fanáticos e pouquíssimos realmente livres da ignorância, realmente unos com a Divindade sem religiosidade!
Oscar Rocha
Federação Espírita Paraense <[email protected]>
Unificação
Agradeço a todos que se manifestaram sobre este assunto que, infelizmente, ainda gera divisões no Movimento Espirita. Estou grato pelas posições serenas, conscientes. Mediante este tempo para fazer minhas reflexões cheguei a uma conclusão, vejam se concordam ou não comigo:
O Espiritismo e a síntese de um processo histórico. Ciência, filosofia e religião são instrumentos criados pelo homem para chegar a verdade, pois este e o seu anseio.
O Espiritismo e uma doutrina integrada, que abrange todos os ramos do conhecimento e, portanto, qualquer definição que se imponha como definitiva tende a limitar a sua compreensão.
Neste sentido concordo com Bezerra quando diz em sua mensagem “Unificação” (para mim, a mais perfeita recomendação ao Movimento Espírita já produzida) pela mediunidade do Chico:
“A Doutrina Espírita possui os seus aspectos essenciais em configuração tríplice. Que ninguém seja cerceado em seus anseios de construção e produção. Quem se afeiçoe a ciência que a cultive em sua dignidade, quem se devote a filosofia que lhe engrandeça os postulados e quem se consagre a religião que lhe divinize as aspirações, mas que a base Kardequiana permaneça em tudo e todos, para que não venhamos a perder o equilíbrio sobre os alicerces em que se nos levanta a organização.”
Em outra oportunidade, para quem não conheça a mensagem completa, eu enviarei para um estudo aprofundado nesta lista, caso se mostrem interessados.
Fernando Porto <[email protected]>
A evolução dos conceitos
A própria palavra Religião hoje tem um significado bastante diferente do que na época de Kardec. Todos estão cientes da significação do vocábulo dada por alguns autores que pretendem venha de “religare” = ligar-se com Deus.
Vejamos o Aurélio:
Do lat. religione.] S. f.
- Crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do Universo, e que como tal deve(m) ser adorada(s) e obedecida(s).
- A manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios, que envolvem, em geral, preceitos éticos.
- Virtude do homem que presta a Deus o culto que lhe é devido.
- Reverência às coisas sagradas.
- Crença fervorosa; devoção, piedade.
- Crença numa religião [ v. religião (1 e 2)] determinada; fé, culto: 2
- Vida religiosa: 2
- Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma posição filosófica, ética, metafísica, etc.
- Modo de pensar ou de agir; princípios: 2
O item 8 acima se aplica bem ao Espiritismo, não? Mas o Espiritismo é uma crença? Quem diz é Kardec:
O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse (1) até uma religião, por que se não teria a liberdade de se dizer espírita, como se tem a de se dizer católico, protestante, ou judeu, adepto de tal ou qual doutrina filosófica, de tal ou qual sistema econômico? Essa crença é falsa, ou é verdadeira, se é falsa, cairá por si mesma, visto que o erro não pode prevalecer contra a verdade, quando se faz luz nas inteligências. Se é verdadeira, não haverá perseguição que a torne falsa.
(1) Ver “Reformador” de 1946, pág. 253; “Revue Spirite”, de dezembro de 1868; “Allan Kardec”, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, vol. III, pág. 100. Nota da Editora da FEB
O Que é o Espiritismo? ALLAN KARDEC, pág. 126:
“Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os espíritas que a buscavam, forçou-os a retroceder; pela natureza e violência dos seus ataques ela ampliou a discussão e conduziu-a para um terreno novo. O Espiritismo era apenas uma simples doutrina filosófica; foi a Igreja quem lhe deu maiores proporções, apresentando-o como inimigo formidável; foi ela, enfim, quem o proclamou nova religião. Foi um passo errado, mas a paixão não raciocina melhor.”
pag.78:
“O Espiritismo é uma questão de crença pessoal que não pode depender do voto de uma assembléia, porque esse voto, embora lhe fosse favorável, não tem o poder de forçar convicções.”
***
OBRAS PÓSTUMAS – DISCURSO PRONUNCIADO JUNTO AO TÚMULO DE ALLAN KARDEC por Camille Flammarion Pág. 25:
(…) “Conforme o seu próprio organizador previu, esse estudo, que foi lento e difícil, tem que entrar agora num período científico. Os fenômenos físicos, sobre os quais a princípio não se insistia, hão de tornar-se objeto da crítica experimental, a que devemos a glória dos progressos modernos e as maravilhas da eletricidade e do vapor. Esse método tem de tomar os fenômenos de ordem misteriosa a que assistimos para os dissecar, medir e definir.
Porque, meus Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o a, b, c. Passou o tempo dos dogmas. A Natureza abrange o Universo, e o próprio Deus, feito outrora à imagem do homem, a moderna Metafísica não o pode considerar senão como um espírito na Natureza. O sobrenatural não existe. As manifestações obtidas com o auxílio dos médiuns, como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural e devem ser severamente submetidas à verificação da experiência. Não há milagres. Assistimos ao alvorecer de uma ciência desconhecida. Quem poderá prever a que conseqüências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo desta nova psicologia? Doravante, o mundo é regido pela ciência e, Senhores, não virá fora de propósito, neste discurso fúnebre, assinalar-lhe a obra atual e as induções novas que ela nos patenteia, precisamente do ponto de vista das nossas pesquisas.” (…)
pág. 299: 15 de abril de 1860, (Marselha; médium: Sr. Jorge Genouillat) (Comunicação transmitida pelo Sr. Brion Dorgeval) Futuro do Espiritismo
“O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão freqüentemente contrária às leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar. Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo, aos quais alguns homens foram levados pelos incessantes abusos dos que se dizem ministros de Deus, pregam a caridade com uma espada em cada mão, sacrificam às suas ambições e ao espírito de dominação os mais sagrados direitos da Humanidade.”
Um Espírito
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A importância da integração dos aspectos científico, filosófico e religioso do Espiritismo – por Sérgio Thiesen – Reformador de Junho de 2000.
(…) É ciência, porque investiga, experimenta, comprova, sistematiza e conceitua leis, fatos, forças e fenômenos da vida, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos.
É filosofia porque cogita, induz e deduz idéias e fatos lógicos sobre as causas primeiras e seus efeitos naturais; generaliza e sintetiza, reflete, aprofunda e explica; estuda, discerne e define motivos e conseqüências, comos e porquês de fenômenos, relativos à vida e à morte.
É religião porque de suas constatações científicas e de suas conclusões filosóficas resulta o conhecimento humano da Paternidade Divina e da irmandade universal de todos os seres da Criação, estabelecendo, desse modo,
o culto natural do amor a Deus e ao próximo.
Por ter característica tríplice, por conter a essência do Conhecimento – tudo o que interessa à criatura humana encarnada (e desencarnada) do que lhe é decisivo para a evolução – sua influência será cada vez mais ampla, em todos os setores da atividade humana, inspirando novos rumos, idéias, motivações e promovendo o progresso real da Humanidade.
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Extraído do artigo Cinqüentenário do Pacto Áureo publicado no Reformador de Outubro de 1999.
Ismael (o Anjo do Senhor) ensaia a organização dos primeiros núcleos doutrinários no Brasil, agrupando, em 1873, no Rio, valorosos pioneiros para a fundação do “Grupo Confúcio”, base sobre a qual se asseguraria a união fraterna, a unidade doutrinária, numa palavra unificação:
“A missão dos espíritas no Brasil é divulgar o Evangelho, em espírito e verdade. Os que quiserem bem cumprir o dever a que se obrigaram antes de nascer deverão, pois, reunir-se debaixo deste pálio trinitário: Deus, Cristo e Caridade. Onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, Ismael.”
Abreu Canuto. Bezerra de Menezes (subsídios para a História do Espiritismo no Brasil) FEESP, 1987.
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Portanto Espiritismo não é uma religião no sentido que a opinião geral lhe dá, qual seja a de que a palavra religião é inseparável da de culto, rituais, hierarquias, cerimônias e privilégios. Mas é uma religião no acepção dos autores modernos, de fazer voltar o homem para Deus e para a moral pregada por Jesus.
Me parece, embora não tenha vivido nessa época, nem saiba nada sobre o assunto, que as palavras acima de Ismael vieram numa hora de divisão dos Espíritas em torno de uma discussão sobre se o Espiritismo deveria ser científico ou evangélico. Mesmo hoje ainda ouvimos ecos dessa discussão que talvez tenha se iniciado com o discurso do Cammille Flammarion acima citado, ou já quando Kardec era vivo.
Na minha modesta opinião, não se deve escolher nenhum dos extremos. Os cientistas que assim o desejarem, estudem à vontade, cientificamente, os fatos Espíritas, e aqueles que tem interesse maior em ver crescer em si o amor e a caridade que o façam.
Mas não extremizem suas posições, pois isso Kardec nunca quis. Vejam estas linhas em Magnetismo e Espiritismo, na Revista Espírita Ano I, Vol 3, Março de 1858:
“Esperemos que os sectários do Magnetismo e do Espiritismo, melhor inspirados, não dêem ao mundo o escândalo de discussões muito pouco edificantes, e sempre fatais para a propagação da verdade, de qualquer lado que esteja. Pode-se ter sua opinião, sustentá-la, discuti-la; mas o meio de se esclarecer não é o de se dilacerar, procedimento pouco digno de homens sérios, e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo.”
Paulo Antonio Ferreira <[email protected]>
Ser ou não ser uma religião….
Acredito que junto com a questão Roustaing, este é o assunto mais polêmico existente hoje dentro do Movimento Espirita….
Vamos tentar ter uma visão o mais imparcial possível:
Na verdade, podemos dizer que ambas as formas de pensamento estão corretas, e tem suas razões.
Dependendo do ponto de vista, o Espiritismo não pode ser considerado uma religião, pois não possui as características inerentes à definição de “religião” tal qual conhecemos hoje. Contudo, se esta nos propicia os meios de conhecermos as verdades que nos levam ao Pai, que nos possibilitam os meios de evoluirmos espiritualmente, caminhando rumo ao estagio de espíritos puros unos a Ele, então esta sim, e´ uma religião, por cumprir sua premissa básica de “religar-nos” a um Ser superior, ao Pai.
Vamos procurar esclarecer estas abordagens mais detalhadamente:
Não podemos esquecer que, independentemente das inúmeras definições possíveis de religião, devemos sobretudo ter em conta aquilo que hoje se entende de maneira geral por religião, ou seja, aquilo que o homem comum assume como sendo o significado do termo, porque este é que será adotado como o seu significado pratico na realidade.
Dentro desta abordagem, devemos considerar que a palavra “religião” tem o significado comum de “uma crença no sobrenatural, um conjunto de rituais, de praticas relativas a coisas sagradas”.
Pois bem, sabemos todos que uma das primeiras coisas que o Espiritismo nos liberta são os atavismos. Para o Espiritismo, a divisão entre o natural e o sobrenatural perde seu sentido ao conhecermos toda (ou a parte que nos é cabível segundo nossas capacidades) a verdadeira realidade espiritual que nos cerca. Em palavras claras, desfiguram-se os milagres. Alem disso, todos sabemos que a valorização do “sagrado” tal como o conceito geral adotado no mundo não se aplica mais, nem mesmo a procedência de rituais e simbolismos, imagens.
Em vista disso tudo, poderíamos concluir que Espiritismo não é uma religião.
Correto.
Contudo, não podemos nos esquecer também da verdadeira etimologia da palavra “religião”, que vem do latim “religare”, e significa “ligar novamente”, o que nos traz a idéia de “religamento”, reencontro com Deus, com o Ser Primordial, com o Todo. Ela traduz, portanto, a “crença numa ordem superior de coisas”.
Isso nos leva a uma definição muito usado por nosso querido irmão Divaldo Franco, quando nos afirma que o Espiritismo é uma doutrina com um aspecto “moral de conseqüências religiosas”. Tal conseqüência religiosa seria exatamente a reforma moral que nos propicia a aproximação, ou melhor, reaproximação com nosso Pai. Dai podemos concluir que um ser só se integra ao Pai através do sentimento religioso, que este é o instrumento pelo qual o espírito se eleva, pelo qual a reforma intima se executa, em vista das cobranças morais existentes na essência desta.
Jesus não instituiu nenhuma religião. Nem nunca sequer implicitou nesta palavra. Contudo, em nosso presente estagio evolutivo (naquela época e ainda hoje), não éramos nem somos suficientemente desmaterializados, desligados de nossa necessidade de classificarmos, segmentarmos, agruparmos tudo e todos, e a única forma de conseguirmos nos ater aos ensinos do Mestre foi através da classificação dos mesmos num conjunto de normas de conduta, valores e posturas morais. Todo o resto que a isso se anexou, foi obra do tempo, sofrendo sempre os efeitos da historia da humanidade.
Para compreender esta questão de forma mais simples e imediata, basta lembrar que na espiritualidade, não existem religiões. Todos somos espíritos, e nossa religião, se existe, se chama Amor.
Portanto, se considerarmos que uma religião necessariamente possui rituais, simbolismos, dogmas, coisas “sagradas”, ações sobrenaturais inexplicáveis, o Espiritismo não pode se enquadrar dentro desta categoria. Contudo, se conseguirmos ter uma visão mais ampla, e considerarmos que religião nada mais é do que toda expressão humana que busca o religamento com Deus, tendo ou não rituais, dogmas, etc, etc, então não ha porque não aceitarmos esta denominação.
Kardec evitou ao máximo esta associação porque ele bem sabia que as generalizações seriam aplicadas, e o Espiritismo corria o risco de ser jogado dentro da charrua das abordagens dogmáticas e atavistas.
Mas o próprio Kardec, na Revista Espírita, nos fala que apos a fase cientifica do Espiritismo, viria sua fase religiosa. Fase esta que nosso irmão Emmanuel teve uma grande responsabilidade, como todos sabemos.
Desconsiderar esta questão, seria desconsiderar praticamente todas as comunicações de espíritos Superiores que hoje temos disponíveis na literatura espírita, pois de Miramez a Scheilla, passando por André Luiz a Joanna de Angelis, todos abordam em uma mensagem ou outra a importância de seguirmos as pegadas de nosso mestre Jesus, pegadas estas que acabam passando inegavelmente pelo aspecto religioso mais amplo.
Mas considere ou não o Espiritismo como uma religião, tenhamos sempre esta como uma questão menor, pois o importante são as obras, sejam elas classificadas como religiosas ou morais. Que os nossos espíritos se libertem dos laços do materialismo, independentemente de o fazermos por seguirmos uma religião ou uma doutrina moral.
Marcelo
M.A. <[email protected]>
Religare não convence
Meu Irmão FELIPE, Bom dia!
Gostei da sua resposta, mas aquela história do “religare” não me convenceu. – Veja bem: aceitamos pacificamente, que Deus é Infinito, não é verdade?
Logo: Se Deus é Infinito, nada existe fora dele, concordas?
Conclusão: Se nunca estivemos fora dele, nunca estivemos separados. Portanto, não precisamos nos religar, visto que sempre estivemos nele!
O que nos separa dele, é essa ignorância quanto ao que somos, de onde viemos, e para onde vamos!
Para finalizar, recordo o Mestre Jesus: – um dia “conhecereis a verdade, e ela vos libertará”, dessa ignorância, naturalmente!
Oscar Rocha
Federação Espírita Paraense <[email protected]>