O mês de julho começou com notícias alarmantes por parte do exterior – como se não bastassem os problemas brasileiros -, a queda de um avião de passageiros bombardeado por um míssil russo, vários outros aviões acidentados, e o perene conflito entre palestinos e judeus.
Quanto ao primeiro, ainda permanecem as investigações sobre o óbvio; quanto aos demais passageiros dos aviões acidentados, realmente parecem ter perecido por razões outras, sejam falhas técnicas ou humanas, causando imenso pesar às famílias envolvidas.
Contudo, o drama palestino ocupa a mídia internacional muito mais pelo genocídio e pelos crimes de guerra ali praticados cotidianamente do que pelo conflito em si, já que um acordo razoável e minimamente pacífico de ocupação entre dois povos antagônicos em um mesmo e pequeno espaço geográfico, compartilhado por Gaza, Israel e Cisjordânea parece impossível.
Quando de minha estada naquele país, pude sentir esse antagonismo, como uma tempestade que paira no ar, um repúdio mútuo entre israelenses e palestinos, um conflito latente alimentado por extremistas de ambas as partes e por países aliados e interessados em manter seu domínio na região. Quais as razões? As razões são históricas, religiosas, geopolíticas, etc., e nós, espíritas, sabemos reencarnatórias.
Contudo, o que mais nos causa estranheza é a propensão que o ser humano ainda tem – em qualquer a nacionalidade ou cultura – de ignorar, conscientemente, o drama alheio. Isto é histórico, as guerras mundiais e regionais que o digam.
Recentemente assistimos um programa de entrevistas numa grande rede de TV católica, onde uma representante do Ministério do Turismo de Israel, em São Paulo, convidava os telespectadores ao turismo na Terra Santa, afirmando e reafirmando a segurança que existe naquele país, apesar dos “tumultos” atuais.
E pensei comigo mesma: “de qual tumulto ela está falando?” Sim, porque se os crimes de guerra que estão sendo diariamente praticados naquela região, dada a desproporcionalidade dos antagonistas, forem “tumultos”, então qual o significado de “guerra” para esta cidadã israelense?
E prosseguiu a entrevista, com várias perguntas dos telespectadores sobre os melhores lugares históricos a serem visitados, restaurantes, hotéis e spas, especialmente na região do Mar Morto, e repassadas por uma entrevistadora sorridente e alegre, e pensei mais uma vez: será que estou ouvindo direito? Será que uma emissora católica, sob a indiscutível orientação do Vaticano conduzido por um Papa que recentemente reuniu os chefes de Estado de Israel e da Cisjordânea em seus jardins, numa proclamação pública e documental de paz entre seus povos, está realmente “ignorando” o que está acontecendo?
A omissão, cada vez mais frequente num mundo repleto de escapes psicológicos, e alimentada por parte da mídia, seja ela laica ou religiosa, tenta colocar-nos num patamar de cruel indiferença frente ao sofrimento de nosso semelhante, por mais evidente seja a sua dor.
Um novo Holocausto está ocorrendo no Oriente Médio, independente das razões proclamados por ambos os antagonistas, extremistas judeus e extremistas do Hamas, não no formato do episódio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, mas no idêntico conteúdo de sofrimento e martírio impostos à uma população indefesa, traumatizada, desesperada e enlouquecida de dor na região de Gaza.
Enquanto isto, a emissora de TV citada também divulga em seu site os melhores “passeios” na Terra “Santa”.
Um de meus orientadores em Jerusalém já nos informara que havia uma predisposição do governo israelense de descaracterizar a região como local de veneração das três grandes religiões monoteístas, enfatizando Israel como Estado judaico e portanto qualificando os locais chamados santos para cristãos e islamitas apenas como lugares de visitação turística.
Essa atitude visava descaracterizar Israel como a Terra Santa das três faces do monoteísmo – daí o adjetivo “santa” – para somente prevalecer a sacralidade do Judaísmo, como religião e como Estado.
O direito de defesa como argumento à guerra cai estrondosamente frente aos resultados obtidos. O único direito de defesa dado ao ser humano é o respeito à vida, seja ela como se manifeste – a guerra é um atestado da falência da própria natureza humana, fazendo-nos retornar ao estado de barbárie dos tempos primitivos, onde a força do mais poderoso se impõe ao mais fraco.
Somos semelhantes nas alegrias, nas dores, nas realizações, na utilização dos talentos que nos foram creditados por Deus e que estão mortos na consciência do bruto.
Resta-nos orar para que a nossa prece alcance as vítimas e amenize o ódio dos litigantes.
O restante, certamente caberá à Justiça Divina, tão misericordiosa quanto espúrio é o ódio humano.
Ps.: Os conceitos aqui emitidos não expressam necessariamente a filosofia FEAL, sendo de exclusiva responsabilidade de seus autores.