Wilson Garcia
No centro espírita onde impera a consciência doutrinária, as atividades assumem o aspecto da interdependência e do inter-relacionamento, de modo que todas adquirem sua importância relativa dentro do contexto maior
As discussões sobre as atividades mais importantes do centro espírita devem ser vistas com certa prudência. Não cabe mais discutir se o centro é escola, pronto socorro ou templo. O tempo demonstrou que o centro está acima dessas partes estanques. O centro segue, neste momento, na direção da casa prestadora de serviços, onde se utiliza e se pratica a cultura espírita. Do mesmo modo, perde sentido, dentro dessa visão ampla, a discussão se esta ou aquela atividade é mais importante do que aqueloutras.
Dirigentes criativos e com iniciativa própria procuram formas organizativas em que possam aplicar os princípios espíritas com maior aceno. Qualquer forma, no entanto, só poderá proporcionar um certo sucesso se estiver permeada de dois fatores: simplicidade e visão de conjunto. Só assim se conseguirá conduzir o centro espírita como um conjunto de atividades que, como dentes de uma engrenagem, são todas igualmente importantes e necessárias.
A direção do centro feita sob a ótica do conjunto procura dar a importância devida a cada atividade, sem jamais imaginar que uma independe da outra a ponto de poder ser desenvolvida isoladamente. Com isso, também fica sem sentido a idéia de que uma atividade pode ser mais importante do que a outra. No conjunto, uma, que funcione mal ou sequer funcione, estará prejudicando as demais.
Quando se afirma que o ensino é a mais importante atividade do centro, não se considerem as palavras por sua aparência. Entenda-se que a atividade de ensino do Espiritismo desponta como fundamental, no conjunto das demais, porém não dispensa nenhuma atividade, nem diminui o valor de qualquer outra. Por não perceberem essa verdade, alguns dirigentes assumem posturas excludentes, como se pudessem ensinar sem a prática correspondente.
A palavra centro corresponde magnificamente às propostas doutrinárias do Espiritismo. Mas, torna-se indispensável entendê-la como a expressão de um conjunto de atividades interdependentes e inter-relacionadas. O ensino da doutrina não dispensa a prática da mediunidade, nos seus múltiplos e variados aspectos, assim como não exclui outras atividades em que os princípios espíritas possam ser aplicados.
Nessa direção, a prática do passe, da desobsessão, da doutrinação de Espíritos, das atividades assistenciais, a recepção do público e todas as demais passam por um sentido de interligação, de tal maneira que aqueles que com elas estão envolvidos devem possuir noções gerais do centro espírita, para melhor desempenharem os seus trabalhos.
Isso não representa, é verdade, nenhuma novidade; nunca é demais, todavia, repetir a questão, especialmente para alcançar aqueles que estão se iniciando agora na direção de centros espíritas, além de também relembrar a questão para os mais antigos. Alguns núcleos atuais estão surgindo com propostas básicas de divulgação e ensino do Espiritismo. Outros estão recebendo novos ares diretivos, forçados pela natural renovação de valores. E há ainda aqueles que deixaram para trás qualquer oportunidade de adaptação aos tempos atuais.
Não há como ensinar doutrina sem experimentar os princípios. E experimentar não significa deixar que na vida diária o indivíduo aprenda, por sua conta e risco. Nesse particular, o centro deve ser o grande laboratório. Da mesma forma, não se pode pensar em ensinar o Espiritismo sem estudar tudo o que se relaciona com a mediunidade, porque não há um ponto doutrinário, sequer, onde não se tenha a mediunidade (bem como a reencarnação, as leis naturais etc.) como elemento presente. Basta lembrar que somos todos espíritos e médiuns.
É nesta mesma direção que se deve relembrar: na doutrina não há partes excludentes, da mesma forma que, quando nos referimos às partes não devemos excluir sub-partes. O exemplo disso é a própria mediunidade, princípio do qual alguns excluem as especialidades de que não têm interesse, sem perceber o prejuízo que causam. É, de certa forma, como falar de reencarnação sem mencionar a Lei de Causa e Efeito.
Por uma questão de planejamento, você pode dar prioridade a algumas atividades no centro espírita; a médio prazo, porém, o ideal é que você dê atenção a todas, entendendo sua importância no conjunto. E mesmo quando pensar em ensino, verifique que os fundamentos de cada princípio doutrinário terão seu correspondente na prática, sendo esta indispensável àqueles.
Assim, será preciso proporcionar ao aluno o campo da experiência, para que a teoria não vire outra coisa na prática.
Wilson Garcia – E-mail: wilgar@uol.com.br
(Dirigente Espírita – maio e junho de 1998)
(Jornal Mundo Espírita de Julho de 1998)