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A Educação Espírita

Definições Possíveis

Existem três perspectivas sob as quais se pode falar em Educação Espírita. E
certo que elas acabam se unificando num só conceito. Um aspecto deriva do outro
e formam uma visão única.

· Espiritismo como Educação. A essência do Espiritismo é a Educação. Ao
contrário de outras correntes religiosas, que têm um caráter salvacionista, a
Doutrina Espírita, com seu tríplice aspecto—cientifico, filosófico e religioso
—pretende promover a evolução do homem e esta evolução é um processo pedagógico.
A Educação do Espírito é o cerne da proposta espírita. Se o Espiritismo é uma
síntese cultural, abrangendo todas as áreas do conhecimento, seu ponto de
unificação é justamente a Pedagogia. Não foi à toa que Kardec tenha sido
educador e tenha recebido influência de Pestalozzi, um dos maiores educadores de
todos os tempos. Melhor compreende o Espiritismo quem o compreende
pedagogicamente.

Lendo Kardec com olhos pedagógicos, pode-se observar a sua insistência e a
dos Espíritos em comparações com imagens emprestadas do universo educacional. O
desenvolvimento do Espírito através das vidas sucessivas é visto como um curso
escolar, com seus anos letivos. A Terra é tratada como uma escola, em que as
almas se matriculam para o seu aperfeiçoamento. As imagens são recorrentes e não
são meros recursos literários. Há de fato uma identificação. Corroborando essa
leitura do Espiritismo, Herculano Pires, em Pedagogia Espírita, comenta que: “O
Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral oferecido à Humanidade para
a sua formação moral e espiritual na Escola da Terra”.

Ser espírita, pois, na acepção plena da palavra é engajar-se num processo de
auto-educação, cujo fim mal podemos entrever. E estar em processo de
auto-aperfeiçoamento, como já vimos, é o requisito básico do educador. Como o
Espiritismo não é uma doutrina individualista, no sentido de descomprometer o
ser humano de deveres para com o próximo—ao contrário, elege na caridade seu
princípio máximo—quem está em processo de melhorar a si mesmo tem o dever moral
de exercer uma tarefa pedagógica com todas as criaturas que o cercam. A caridade
máxima, portanto, que o espírita deve procurar realizar como ideal de vida, não
é o assistencialismo social, respeitável e necessário, mas limitado e
superficial, é sim a caridade da Educação. Elevar, transformar, despertar
consciências, contribuindo para a mudança interna dos homens—que redundará
também numa evolução externa—esta deve ser a meta de todo espírita.

· A Educação Segundo o Espiritismo. Se o Espiritismo é pedagógico, olhando a
questão do lado avesso, a área específica da Pedagogia humana pode se iluminar
com a perspectiva espírita. Neste sentido, a Educação espírita é a prática de
uma Pedagogia à luz do Espiritismo. É exatamente o que estamos teorizando nesta
obra. Muitas das idéias aqui expostas poderão ser partilhadas por adeptos de
outras correntes filosóficas ou religiosas. Mas para aplicá-las inteiras, para
aderir a uma formulação pedagógica completamente espírita, é preciso estar
convencido dos postulados básicos da doutrina de Kardec. O educador espírita,
porém, poderá e deverá exercer sua tarefa com quaisquer crianças e adultos. Se a
verdadeira Educação se dá quando se desperta um processo evolutivo no educando,
este processo poderá ser desencadeado em qualquer ser humano, tenha ele a
cultura que tiver, seja ele partidário da religião que for. A influência
benéfica de um educador, consciente de seu mandato, poderá se imprimir em
qualquer educando.

Assim, educar espiritamente não é necessariamente educar para o Espiritismo.
Kardec sempre enfatizou que os espíritas não deveriam fazer proselitismo e muito
menos violentar consciências. No relacionamento com pessoas não espíritas, o
educador espírita saberá exercer sua tarefa, sem impor suas convicções.

· O Ensino Espírita. O terceiro aspecto da Educação espírita é mais
específico, é o ensino propriamente da Doutrina Espírita. Mas se não houver, por
parte daqueles que estão promovendo este ensino, uma compreensão clara e uma
prática engajada da Pedagogia espírita, então o processo não passará de
catequese, um ensino formal, destituído de compromissos mais profundos. Na linha
conceitual que temos seguido aqui, é evidente que o ensino espírita não poderá
ser mera transmissão de conteúdos, mas o despertar de uma consciência
espiritual.

Cenários da Educação Espírita

· A Existência. Entender o Espiritismo como Educação é ser espírita
verdadeiramente. Por isso, quem é espírita de fato e pratica a caridade da
Educação em todas as dimensões possíveis, faz isso existencialmente, no seu meio
familiar, profissional, social, espiritual… É alguém engajado na própria
evolução e na evolução coletiva. O destino espiritual do próximo não lhe será
jamais indiferente. Não tomará, é claro, uma postura salvacionista, nem
pretenderá mudar o mundo sozinho. Mas levará até o sacrifício o compromisso de
exemplificar o bem, arrastando com isso outros seres ao contágio da virtude
Amará com intensidade seu próximo mais próximo, procurando estender sempre mais
seu amor ao próximo longínquo, significando esse amor justamente o empenho em
ajudar o outro a encontrar seu próprio caminho evolutivo.

Consolar, amparar, servir—todos esses verbos tão conjugados em mensagens e
orientações espirituais—são as atitudes fundamentais de quem ensina com a
sinceridade dos sentimentos e a força do exemplo. São a ponte de acesso ao
coração do próximo, não como fator de proselitismo, mas como centelha para
desencadear um processo de Educação. Quem presta um serviço, quem se dispõe a se
doar—se o faz com o influxo de vibrações autenticamente fraternas —pode
restaurar no outro a confiança existencial e a vontade de crescer. Nesta doação
fraternal, pode estar incluído um prato de comida, um passe, um agasalho… Mas
a caridade deve transcender tudo isto, porque deve tocar a alma do outro.

Há pessoas que entendem a prática da Doutrina apenas no exíguo espaço do
Centro Espírita. Quando estão no mundo, na profissão, na família, numa festa,
nas relações sociais, agem como se não fossem espíritas. Mas o compromisso
educativo existencial do adepto do Espiritismo é justamente ser em qualquer
lugar e a qualquer hora um elemento de influências positivas, um pólo de
transformação do ambiente. Sem prepotência, sem austeridade excessiva, sem
pretensão à verdade absoluta, sem autoritarismo, como quem passa e serve, o
espírita deve fazer brilhar seu empenho em ser melhor, sua fidelidade aos
princípios éticos fundamentais, sua sede intelectual. . . procurando partilhar
sua chama interior.

Irradiar otimismo, disposição, energia e serenidade—todas aquelas virtudes
que vimos como constitutivas do verdadeiro educador—deve ser uma conseqüência
natural da sua compreensão de mundo. Quem sabe que a vida é eterna, que toda
tragédia é passageira, que tudo caminha para a perfeição, que todos estão sob a
proteção de uma Providência misericordiosa e justa, será necessariamente uma
pessoa alegre e tranqüila, no controle de si mesma, podendo com isso servir de
edificação e apoio aos irmãos do caminho.

A missão pedagógica do espírita, porém, não se dá apenas no plano moral. Em
todos os setores de atividade, os espíritas devem também se esforçar pelo avanço
intelectual de si mesmos e da comunidade a que pertencem. Promover a cultura
elevada e proporcionar meios à instrução—isso faz parte integrante de seu
programa de ação. É nesse sentido que se deve abrir aqui uma crítica ao
movimento espírita brasileiro, que tem se preocupado muito mais com a caridade
material do que com a caridade pedagógica. Dar pão e agasalho é bem mais fácil
do que educar, mas educar é uma terapêutica global e uma solução social muito
mais eficaz.

Entenda-se que esse empenho pela Educação intelectual não pode significar
impregnar-se de materialismo, de sofismas niilistas e de especulações vazias,
que são hoje o tônus da maioria das correntes dominantes. A convicção espírita
firme e sincera não é, entretanto, empecilho para o diálogo, para a abertura
mental e para a tolerância ideológica.

· A Família Espírita. O mais forte impacto que o Espiritismo causa na relação
entre os membros de uma mesma família é a desierarquização de funções. É verdade
que os pais recebem a tarefa de educar os filhos e trata-se de tarefa de grande
responsabilidade moral. Mas pais e filhos, marido e mulher, avós e netos são
acima de tudo Espíritos irmãos, peregrinos da evolução humana, cada qual
carregando sua herança passada e sua missão presente, essencialmente iguais, e
dignos todos, moços e velhos, homens e mulheres, crianças e adultos, de respeito
e amor. Nesta perspectiva, o autoritarismo patriarcal do passado perde qualquer
fundamento. Espiritualmente, filhos podem até ser mais adiantados que pais.
Mesmo nesse caso, não ficam os pais eximidos de sua função de educar.

Outra explicação inédita que o Espiritismo nos aponta para o entendimento das
relações familiares é a lei da reencarnação. Como pai e filho, irmão e irmã, avô
e neto, podem nascer adversários ferrenhos do passado. E nesse caso, a
convivência cotidiana deve ser justamente a oportunidade de reconciliação e
ajuste. Quando o pai ou a mãe percebe num filho uma aversão inata, uma antipatia
inexplicável, podem estar certos de que a relação atual é preciosa ocasião para
reajuste de ódios anteriores. Cabe então ao adulto, na posse do conhecimento
espírita, procurar com mais afinco, dedicação e renúncia, conquistar o amor
daquele ser a quem talvez prejudicou em eras passadas. Se aquele que tem a
missão de educar permanecer com o coração endurecido e não fizer a sua parte
para a reconciliação espiritual, terá fracassado duplamente, como pai ou mãe e
como cristão, com o dever moral de perdoar e reconciliar-se com os adversários.

Assim, num clima não-hierárquico—onde todos se sintam acima de tudo irmãos
uns dos outros—de cultivo permanente de amor e respeito mútuo, a família
espírita é o cenário mais propicio e mais imediato para a Educação espírita.
Evidentemente, não se trata aqui de sermões esporádicos a respeito de postulados
doutrinários. Mas quando o Espiritismo está enraizado na alma, entranhado no
comportamento cotidiano, como explicação para os porquês da existência, como
parâmetro ético, como proposta vital—então a convicção espírita se impregna
naturalmente nas crianças, marcando-as para o resto da vida.

Então, nem sequer faz sentido a questão muito polemizada por certos adeptos:
se os pais devem ou não ensinar Espiritismo às crianças. Se os pais s de fato
espíritas, ensinarão nos mínimos gestos, nas relações familiares, na vi
profissional, e na própria prática pedagógica que adotarem com os filhos, o que
é ser espírita. Mas se o Espiritismo representar apenas uma freqüência rotineira
um Centro, sem que haja um engajamento existencial, então obrigar a criança ir a
cursos de evangelização, como se vai a um catecismo para fazer primeira comunhão
(quando os pais não são católicos praticantes) é transformar a Doutrina num
formalismo religioso, sem um sentido mais profundo. É evidente que tal atitude
não criará convicções; ao invés, despertará resistências.

Além da função pedagógica, específica dos pais, não se pode deixar de
mencionar que a família serve como cenário educativo para todos os seus membros,
desde que haja engajamento no processo de melhoria Intima. É na família que
podemos e devemos em primeiro lugar conquistar e exercitar virtudes
fundamentais, como altruísmo, paciência, amor ao próximo e ao mesmo tempo o
empenho de contribuirmos para o progresso do outro. Trata-se, pois, de um
cenário permanente e fecundo para a Educação do Espírito.

A Escola e a Universidade Espírita. É numa instituição de ensino primário,
secundário ou superior, que devemos também colocar em prática a Educação segundo
o Espiritismo. É preciso criar espaços institucionais, onde as crianças, os
adolescentes e os jovens possam receber uma Educação integral; serem amados e
observados como Espíritos imortais e reencarnados; serem estimulados a se
auto-educarem… Nem todos os alunos de uma escola ou de uma universidade
espírita deverão ser necessariamente adeptos do Espiritismo. Aprender o conteúdo
doutrinário pode ser uma opção de pais e alunos. Mas todos deverão se beneficiar
de uma visão espírita da Educação. Muitas das idéias que constituem o universo
da Pedagogia Espírita vêm de uma tradição que começa em Sócrates, passa por
Comenius, Rousseau, Pestalozzi e têm seu modelo máximo em Jesus. Desta forma,
crianças e jovens pertencentes a diferentes credos poderão usufruir de uma
Educação espiritualista, sem que suas consciências sejam violentadas por
imposições.

Salvo raras exceções, as escolas espíritas que fizeram história no Brasil e
outras que ainda estão atuantes, adotaram o sistema educacional vigente e apenas
acrescentaram uma aula de Espiritismo, opcional ou obrigatória. Quando muito,
apóiam-se numa filosofia vagamente humanista. Este não é o modelo de uma escola
verdadeiramente espírita. A Doutrina não pode se reduzir a um catecismo
periódico, divorciado da prática existencial. Trata-se sim de oferecer escolas
com uma proposta de Educação tão revolucionária, tão superior, tão mais
democrática e eficaz que as ofertas vigentes, que mesmo não-espíritas disputarão
suas vagas.

Manifesta-se aí o compromisso espírita de agir pedagogicamente, tanto no
sentido moral quanto intelectual e mesmo estético. E preciso abolir o conceito
ultrapassado de que a boa vontade supre todas as deficiências. Escolas
espíritas—sem necessidade de ostentação—devem ser modernas, com arquitetura
diferençada, em meio à natureza, bem equipadas e, sobretudo, com recursos
humanos qualificados. E para formar recursos humanos compatíveis, precisamos de
universidades espíritas. O círculo se fecha. É imprescindível criarmos um ciclo
educativo completo, pelo qual possamos educar pessoas pelo menos humanistas, que
se ponham na vanguarda espiritual da sociedade e espíritas mais conscientes, com
uma cosmovisão doutrinária mais integrada e fundamentada. Ao mesmo tempo em que
o Espiritismo pode contribuir para a melhoria da Educação, a Educação espírita
deve contribuir para o progresso do próprio Espiritismo.

Certamente, não deixarão de perguntar pelos recursos financeiros necessários
a tais empreendimentos. Os recursos existem. O movimento espírita não constrói
centros, asilos, hospitais, orfanatos, federações? Por que não aplicar parte
destes recursos para a construção de escolas e faculdades? O que falta é uma
mudança de mentalidade: é preferível, embora mais trabalhoso, aplicar dinheiro
em Educação do que em assistencialismo; aliás, o próprio assistencialismo
deveria ser pedagógico.

Os Centros e Instituições Espíritas. A primeira instituição espírita do mundo
foi a Sociedade de Estudos Psíquicos de Paris. Lá se pesquisavam os aspectos
cientifico, filosófico e moral do Espiritismo. Os participantes debatiam
questões existenciais, mensagens e fenômenos mediúnicos, temas do cotidiano e
notícias de jornais, teorias cientificas ou filosóficas à luz da Doutrina.
Intercambio entre os próprios encarnados—entre os membros da sociedade e outras
sociedades semelhantes na França e no estrangeiro—e entre encarnados e
desencarnados, alimentava o progresso do Espiritismo, sob a luminosa liderança
de Kardec que, apesar de sua incontestável autoridade espiritual, jamais se
arvorou em chefe do movimento. O aspecto acadêmico da Sociedade—no que a
academia tem de positivo em pesquisa e diálogo entre os pares e não no seu r
espírito sistemático e arrogante—estava presente na Sociedade de Paris, que
tinha um caráter de “estudos”, portanto, um caráter pedagógico.

No Brasil, houve um processo, talvez historicamente necessário, de
massificação do Espiritismo. Centros, Federações, instituições diversas atendem
diariamente a milhares de pessoas em todo o país. Com isso, a Doutrina penetrou
em todas as camadas da sociedade e multiplicou adeptos e simpatizantes. O Brasil
se tornou o país mais espírita do mundo. Mas essa disseminação em massa teve seu
preço. As casas espíritas praticam um assistencialismo social e espiritual em
que o indivíduo atendido geralmente assume uma atitude muito passiva de assistir
cursos, palestras, tomar passes. Às vezes, após anos e anos numa casa espírita,
o freqüentador tradicional não passou de fato por um processo pedagógico de
crescimento global, mas pratica o Espiritismo à moda tradicional de outras
religiões: de forma rotineira, mística e destituída de significação existencial
mais profunda.

Já que o movimento espírita brasileiro avançou tanto em termos numéricos,
chegou a hora de darmos um salto qualitativo em suas práticas: e esse salto deve
ser justamente o de caracterizar toda a atividade espírita como atividade
pedagógica, segundo a própria essência da Doutrina. Pode-se objetar que as
atividades desenvolvidas pelos Centros e Federações são predominantemente
educacionais. Cursos, palestras, estudos doutrinários, o grande movimento da
evangelização infantil, as Mocidades Espíritas, a própria assistência social—
sempre acompanhada do ensino do Espiritismo—e a assistência espiritual— com a
doutrinação dos Espíritos—tudo isto é Educação espírita. É verdade que o
movimento espírita tem esse caráter instrutivo, mas não necessariamente
pedagógico. Geralmente, é um ensino exercido de forma autoritária e
conservadora, arraigado nos modelos tradicionais do sistema educacional vigente
e nas heranças trazidas das igrejas. Crianças, adolescentes, jovens, adultos,
que chegam à casa espírita, não se tornam educandos para assumir sua própria
auto-educação, num processo participativo, dinâmico e enriquecedor.

São tratados como ouvintes passivos.

A metodologia adotada para o ensino do Espiritismo, em qualquer nível costuma
ser maçante e autoritária, sem recursos didáticos, sem consciência de
expositores e líderes do sentido real de um processo pedagógico.

Pode-se argumentar que um dos problemas com que se depara a casa espírita é a
freqüência de pessoas traumatizadas por perdas dolorosas ou portadoras de
complexos problemas obsessivos. Isso faz com que tais recém-chegados sejam
muitas vezes tratados de forma paternalista. Costuma-se mesmo dizer que, para
estes, o Espiritismo teria um caráter apenas consolador. E quem precisa ser
consolado não está interessado em renovação. E quem está obsedado não pode ter a
liberdade da palavra, nem mesmo para indagar—é o que se pensa.

É evidente que o controle de qualquer atividade espírita deve ser ass do por
pessoas equilibradas, moralmente idôneas, conhecedoras e praticando Espiritismo
em todos os seus aspectos. Isto não é motivo para que os outros participantes do
processo sejam tratados com uma falsa superioridade. O educador verdadeiro é
aquele que sabe converter traumas em motivos de edificação e crescimento e fazer
da participação ativa dos educandos uma terapia para seu reequilíbrio. O
primeiro passo para que se dê de fato um desencadear das potencialidades dos que
freqüentam a casa espírita é que sejam acolhidos como seres pensantes e dignos
de serem ouvidos. Que se tornem indivíduos conhecidos, respeitados e
participantes, e não meros assistidores de palestras.

Seminários, debates, reuniões de estudos em que todos possam colocar seus
questionamentos e dúvidas, a própria disposição das cadeiras em círculos e não
em platéias com um púlpito longínquo—tudo isso deve fazer parte do panorama
pedagógico do Centro Espírita, quebrando o monólogo autoritário dos oradores. E
evidente que, para isso, o Centro não precisa nem deve se converter numa arena
de disputas de opinião e de brigas pessoais. É preciso criar o hábito de debater
idéias com argumentos e não com ofensas e enfrentar a divergência de opinião com
naturalidade, preservando sempre os postulados básicos do Espiritismo. Com
líderes conscientes, equilibrados e com sólidas convicções doutrinárias, é
possível se ventilar o clima com a liberdade de expressão, mantendo-se o padrão
vibratório elevado e a compreensão fraterna entre todos. Aliás, isto também deve
fazer parte do aprendizado. É muito fácil se obter uma harmonia aparente, sob o
tacão da disciplina autoritária. O desafio é obter a união, pela adesão
voluntária de todos os participantes a uma proposta de progresso e fraternidade.

Educação mediúnica

A Educação mediúnica é um dos aspectos característicos da Educação espírita,
ligada ao desabrochar das capacidades extra-sensoriais que todo ser humano
deverá desenvolver em sua jornada evolutiva. Como já foi analisado (ver Cap.
II), há o mediunato—compromisso específico de atuação mediúnica numa dada
existência—mas além desta tarefa, todos os seres humanos têm uma mediunidade
geral, mais ou menos cultivada.

No caso de o indivíduo possuir algum dom mediúnico específico, a Educação
mediúnica tem por meta possibilitar seu desenvolvimento e uso equilibrado, sadio
e positivo. No caso de mediunidade difusa, não-específica, a meta é a de aguçar
a sensibilidade extra-sensorial, a intuição, a percepção psíquica—coisas
presentes em todos os seres humanos.

Tanto num como noutro caso, são facetas da proposta espírita: o controle
racional das faculdades mediúnicas, fruto do estudo acurado dos fenômenos e da
auto-análise que todo espírita comprometido com sua auto-educação deve
permanentemente promover; o uso da mediunidade para fins úteis, nobres e
cristãos; o cuidado para não converter nenhum dom mediúnico em fonte de riqueza
material, de projeção pessoal ou de manipulação psíquica, ou seja, mediunidade
com absoluto desinteresse e devotamento.

A Educação mediúnica não é meramente um apossar-se de técnicas, mas deve ser
um fator de evolução global para o Espírito; uma possibilidade real de
aperfeiçoamento moral e de prática do Bem. Os parâmetros éticos da mediunidade
se sobrepõem aos aspectos técnicos, inclusive como garantia de controle do
fenômeno e de atração de bons Espíritos—ao contrário de certas correntes
espiritualistas que acentuam a frieza da técnica em detrimento do amor que deve
orientar a utilização dos dons psíquicos.

Se, conforme Herculano Pires, O Livro dos Espíritos é um manual de Educação
Integral, O Livro dos Médiuns é um manual de Educação mediúnica, que pela
primeira vez na história humana colocou balizas éticas e racionais para a
prática da mediunidade.

A EDUCAÇÃO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Dora Incontri

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