José Reis Chaves
É uma realidade o nosso livre-arbítrio, embora o renomado filósofo espiritualista Spinoza limitasse-o para nós, alegando que nossa consciência não é plena. Mas, para a resposta à pergunta 621 do “Livro dos Espíritos”, de Kardec, o nosso livre-arbítrio existe, pois se a Lei de Deus está escrita na nossa consciência, podemos ter a opção de praticá-la ou não.
O Velho Catecismo da Igreja ensinava que o Vigário de Cristo na Terra era o papa. Mas o Novo diz que o Vigário de Cristo na Terra é a voz da nossa consciência, o que implica a nossa liberdade de ação. E essa doutrina é inerente também à do 4º Concílio Laterano, que proclamou: “Quidquid fit contra conscientiam, aedificat ad gehennam”, ou seja, numa tradução mais liberal e moderna, “quem age contra a consciência, cria sofrimento para si”. Veja-se a semelhança das doutrinas do Novo Catecismo da Igreja e desse concílio com a espírita, as quais dão um “chega-prá-lá” na Teologia de Santo Agostinho de que o nosso livre-arbítrio é limitado pelo pecado original. Realmente, o dogma do pecado original, do jeito que foi bolado pelos teólogos do longínquo passado, mesmo sendo pouco conhecido sob esse aspecto do nosso livre-arbítrio, vem ficando, cada vez mais, mais insustentável.
Se houve no decorrer da História tantas celeumas sobre o nosso livre arbítrio, cremos que seja até uma temeridade alguém querer conjeturar sobre a existência ou não do livre arbítrio de Deus, cujos tributos são infinitos e, portanto, já ininteligíveis por nós. E uma condição, “sine qua non” não pode haver livre arbítrio, é a inteligência. E é óbvio que Deus é um ser inteligente. Para o Espiritismo é a Inteligência Suprema. Destarte, o livre-arbítrio de Deus é muito superior ao nosso.
Todavia, descendo à escala dos vegetais e dos animais, constatamos terem eles só o conhecimento proveniente do seu instinto, o qual não é aprendido por eles, pois já nascem com esse conhecimento. Por exemplo: o heliotropismo das plantas, que consiste em elas crescerem inclinadas para a luz solar. Trata-se de um conhecimento que elas têm de que o Sol é vital para elas, com o qual já nascem, e jamais se perde, pois vai passando de planta que morre, para planta que nasce. Mas, justamente por ser assim tão limitado esse conhecimento das plantas e dos animais, é que eles não têm livre-arbítrio. Nós o temos, como vimos, por sermos dotados de inteligência. E podemos até dizer que ele é proporcional ao nosso grau de inteligência e de saber.
Mas e Deus como fica nessa questão do seu livre-arbítrio? Estamos diante de um paradoxo, pois se a inteligência de Deus é infinita, deve ter Ele, também, um livre-arbítrio infinito.
Porém o livre-arbítrio de Deus se nos apresenta como sendo infinito e inexistente, ao mesmo tempo, pois como Deus só faz o bem, é como se Ele fosse um autômato, igualando-se às plantas e aos animais, e nunca tivesse o livre-arbítrio para fazer o mal!
Autor do livro “A Face Oculta das Religiões” (Ed. Martin Claret), entre outros. E-mail: jrchaves@redevisão.net