Tamanho
do Texto

Deus e reencarnações iniciais

Deus e reencarnações iniciais

Dr. Ricardo Di Bernardi

Quando temas relevantes do ponto de vista filosófico são abordados, é comum
ouvirmos dizer que assuntos de fé e lógica não se misturam.

Outras vezes, ainda, surgem insinuações de que a religião ou a crença em Deus
caracterizam pobreza intelectual , e que só o pensamento científico tem validade
na época atual.

Há um abismo que atualmente está separando a ciência da religião. Abismo
construído nos séculos anteriores , quando o domínio das civilizações se fez
pelo poder temporal aliado à religião institucionalizada.

Já em meados do século , o sábio francês Hipolyte Léon Denizard Rivail
enfatizava que a fé verdadeira só é aquela capaz de conviver com a razão e a
inteligência em qualquer época da humanidade. Assertiva com a qual concordamos
plenamente.

Aspectos da cultura contemporânea apontam para a possibilidade de encararmos
fé e razão como atributos compatíveis entre si. Vejamos o seguinte raciocínio:
os conhecimentos atuais em astronomia parecem reforçar a tese do astrônomo J.H.
Lambert, que já em 1761 aceitava a idéia de uma ordem cósmica no universo.
Segundo a física, entropia seria o estado de desordem ou desorganização de um
sistema. Assim, a entropia crescente levaria a desorganização crescente.
Conforme nos diz o Segundo Princípio da Termodinâmica, em Física, a entropia do
universo tende a crescer. Em termos práticos, tudo que se constrói tende a se
destruir, a se desfazer. Apesar de ser uma lei física, pesquisas recentes no
campo da Biologia apontam no sentido de uma ordem ORGANIZADORA DA VIDA,
de uma força maior e desconhecida pela ciência. Contrariando a tendência natural
da entropia, que seria a da desordem ou desorganização natural e crescente dos
sistemas, teríamos de considerar a força organizadora da ordem cósmica, como
determinante na origem da vida
.

O surgimento da vida organizada no universo representou uma corrente oposta à
entropia natural dos Sistemas. Se o universo tendeu a uma desorganização
progressiva ou entropia crescente, o aparecimento da vida foi um processo oposto
a entropia, criando a ordem. Foi um processo neguentrópico (que nega a
entropia). Inferimos daí que uma lei maior atuou no processo. Uma Lei Central ou
um princípio único.

Reforçando a tese de uma interferência neguentrópica, citaríamos o Professor
Ilya Prigogine, que considera duvidosa a compatibilidade da Biologia com os
princípios da Termodinâmica. Outro especialista, o professor Ludwig Von
Bertalauthy, nào admite o surgimento da vida por uma evolução espontânea da
natureza, ao considerar os conceitos da entropia. Diz: “A produção de
condições locais só é fisicamente possível ao se entrarem em cena forças
organizadoras de alguma espécie
.”

Em artigo publicado pelo Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis, o
engenheiro Corinto Castanho, abordando a questão neguentrópica da origem da
vida, fez analogia da impossibilidade de diversos materiais de construção
misturarem-se ao acaso, resultando na construção de um prédio acabado e
estético, sem a menor participação de engenheiros, mestre de obras e
operários.Lembra o articulista que um ser vivo forma um sistema organizacional
mais complexo que qualquer prédio, para o bom senso não admitir a
administração do acaso
ao invés de uma força ou lei maior atuante.

Se a fé cega não é mais deste século, o cientificismo dogmático também não o
será no próximo século. Religiões que preconizam a fé cega, automaticamente se
confessam impotentes para demonstrar que estão com a razão. Movimentos
científicos que não admitem examinar determinadas possibilidades, por puro
preconceito, também cristalizam e se comportam como religiosos radicais. Numa
primeira instância, todos os fenômenos da natureza podem ser explicados pelas
leis naturais. As leis físicas, químicas e biológicas nos dão o mecanismo da
vida, nos respondem sobre minúcias do microcosmo celular ou sobre a magnitude do
macrocosmo.

No entanto, estas mesmas leis , que são automáticas, deverão ser regidas por
uma lei universal coordenadora e onipresente no macro e no microcosmo. Esta Lei
onipresente, nós a chamamos de Deus. Sendo perfeita, há de ser imutável, pois só
o imperfeito sofre mudanças visando o aprimoramento progressivo. Considerando a
imutabilidade da Lei Universal, concebemos sua ação constante e uniforme.
Inexistindo momentos diversos de outros como um gráfico irregular a
assinalar uma emocionalidade antropomórfica.

Pela regularidade e constância da Lei Universal , concluímos que não houve um
momento da criação. Trata-se de um processo eterno.Deus irradia constantemente e
projetam-se de sua essência perfeita, centelhas divinas ou princípios
espirituais, que provindo de um ser perfeito só poderão ter um destino : a
evolução infinita rumo a perfeição. “Nenhuma das ovelhas se perderá, disse
Jesus.”

Ainda dentro dos textos bíblicos encontramos a frase: “Deus fez o mundo em
sete dias
“. Sabemos que a riqueza da simbologia na Bíblia é de uma
profundidade admirável e que necessita ser explorada cada vez mais sem
preconceitos. O termo “dia” tem um significado e período, época e em certas
circunstâncias significa ano.

Com relação ao número “sete ” o mesmo está vinculado ao sentido de “todo,
sempre, completo, perfeito, ou eterno “. “Perdoar setenta vezes sete ” , traduz
a mensagem do perdão pleno para sempre. “Só o cordeiro que tem sete olhos… ”
poderá ser entendido como só Jesus que tem a “eterna ou perfeita ” visão da vida…

Voltando ao nosso raciocínio inicial, quando se lê”, “Deus fez o mundo em
sete dias ” devemos extrair o espírito da letra para compreendermos a essência
da mensagem, que nos transmite a idéia dos SETE DIAS como a eternidade na
criação. Entendemos, portanto, que Deus cria sempre, não existindo momentos
de inatividade
.

Realmente, um ser perfeito, onipresente e imutável, lei universal onisciente
não tem um gráfico de criação ou um momento, mas uma ação criativa constante e
eterna no universo.

A encarnação primeira, portanto, foi para nós, hoje seres humanos, há
incontáveis milhões de anos, quando as centelhas divinas mergulharam na dimensão
física unindo-se às expressões mais simples da organização material.

O espírito “dormiu ” nos átomos e passou o grande sono pelo reino mineral,
sonhou nas organizações vegetais , agitou-se pelas espécies animais para
despertar na espécie humana, rumo à consciência superior em seres futuros.

Em “O Livro dos Espíritos “, Allan kardec, eminente pedagogo francês inquire
os espíritos na questão 540. a entidade espiritual, respondendo sobre a ação dos
espíritos desencarnados nos fenômenos da natureza, coloca a seguinte assertiva:
“É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na natureza, desde o átomo
primitivo até o arcanjo, que começou por ser átomo “.

Não existem portanto seres privilegiados, ou criados pela lei
universal já superiores a outros. A distância entre minerais, vegetais e animais
é simplesmente conseqüência do maior ou menor caminho percorrido na estrada
evolutiva do ser.