Doce Libertação
O fim do mês de Junho do ano passado marcou também o fim de um brilhante
capítulo na história do Espiritismo. Deixou triunfante a crosta terrestre o
Espírito luminoso de Francisco Cândido Xavier.
Mas todo fim contém em si um começo, já que a vida nunca estaciona, conforme
sempre afirmaram os milhares de Espíritos que, por meio dessa inesquecível
figura, se comunicaram conosco. É o começo de uma nova era onde colheremos os
frutos de nossa sementeira cultivada ao longo de nossas vidas, regada à luz de
muitos dos ensinamentos de Chico a representarem a ressurreição do mais puro
Cristianismo entre nós.
Diante de Chico ficamos deslumbrados com o que o ser humano pode ser um dia e
ficamos a imaginar um planeta, em um outro sistema estelar, repleto de seres
como ele. Quanto deslumbramento e felicidade certamente uma esfera dessa ordem
deve representar! É para onde devemos caminhar certamente, ainda que a penosos
esforços no burilamento diário de nossas imperfeições. Com esse pensamento em
mente podemos fazer idéia do que representa realmente a felicidade celeste e de
sua marcante diferença diante de nossos ideais de felicidades terrenos. E foi
Chico que nos possibilitou essa visão por ter refletido como um espelho as
torrentes de luz e amor a brotarem do firmamento.
Como retribuir e reverenciar propriamente essa apoteose de luz que se fez
presente na Terra ao longo desses 92 anos de existência muito bem aproveitada?
São poucas as palavras em qualquer idioma da Terra que poderiam bem descrever o
que foi a vida de Chico. Distantes do tempo em que ele nasceu, nos idos da
década de 1910, vivemos num mundo diferente, com muito mais recursos, e perdemos
a noção das dificuldades que esse homem conheceu em nome do Espiritismo. Nunca
vacilou diante dos inúmeros problemas a se multiplicarem vezes sem conta, das
dificuldades de saúde, de relacionamento pessoal para com aqueles que eram
incapazes de entender a dimensão de sua missão e de seus próprios desejos
pessoais. Diante de todos eles, ele triunfou absolutamente. Chico Xavier é bem a
prova contundente de que quanto mais um ser humano se doa para os outros – e
olhe que no caso dele foram milhares – tanto mais ele se engrandece.
O dia de seu desencarne é também o dia que nos faculta uma comparação que não
poderia deixar de chamar a atenção. Quando a enorme massa popular festejava um
triunfo ilusório, libertou-se dos últimos laços que o prendiam à matéria,
serenamente, sem chamar a atenção, sem exigir para si qualquer notícia mais
destacada, que se empalideceu diante da festa popular. E completou assim sua
existência dando-nos mais uma prova de sua humildade extraterrena. Como uma
estrela, ascendeu aos planos superiores deixando aqui, plenos de saudade e muita
alegria, todos nós que tivemos o privilégio de acompanhar, ainda que distantes,
sua inesquecível figura.
“Ouçam todos aqueles que tem ouvido de ouvir. Pois só quem
ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas.”
Muita paz,
Ademir L Xavier Jr.
GEAE – Julho de 2003
(Publicado no Boletim GEAE Número 460 de 29 de julho de 2003 )