Dos Que Vão Aos Que Ficam
“Muitos órfãos de pais normais criam
a imagem de um super pai
e ela
os guia pela vida em busca do sucesso”
“A cultura Ocidental repele a morte
como tema de conversa.
Falar dela a torna mais suportável”
“Homens encaram a morte de um filho
de modo diferente das mulheres.
Isso pode gerar atritos e, não raro, o divórcio”
Jill Brooke estudou a
biografia de dezenas de
pessoas famosas cuja
ambição e busca pelo
sucesso ela atribui,
em parte, à perna na
infância de um ou
de ambos os pais.
Alexandre o Grande
Eleanor Roosevelt
Napoleão
Vladmir Lenin
Eva Peron
Rupert Murdoc
Paul MacCartney
Bill Clinton
O nascimento do ser humano, neste Planeta Terra é uma grande incerteza. Quem
estuda as teses espíritas não tem dúvida sobre isto. A encarnação, ou a reencarnação
do homem depende de muitas variáveis, que são reunidas no mapa encarnatório. Esses
fatores começam a ser levantados no mundo espiritual, quando alguém decide ou é
obrigado pelas circunstâncias de seu passado a vir para a Terra. O projeto da encarnação
estando pronto, como vemos na obra de André Luiz, convoca-se os futuros pais, que
têm o direito de colaborar, ou não, para que o projeto seja materializado na esfera
terrena. Conciliar todos os interesses que entram em cena é muito complicado e,
depois de análises, estudos e autorização superior, a encarnação poderá, ou não,
ocorrer. E muitas vezes o reencarnante acaba desambarcando aqui através de uma prevaricação
sem vúnculo algum com o projeto familiar. Por isso afirmamos acima que o nascimento
dos humanos na Terra é bastante incerto. Opostamente, a morte na Terra é a grande
certeza. Este fenômeno compulsório que desde o princípio da vida neste mundo o homem
vem procurando administrá-lo a seu favor. Na Antiguidade, ele criou a mumificação
com a esperança de ressuscitar um dia. Na atualidade, a ciência trouxe-nos a criogenia
(A manutenção de cadáver em temperaturas baixíssimas), alimentando a mesma esperança
dos antigos egípcios. A Medicina vem procurando a longevidade mas… E, por fim,
algumas filosofias dão ao homem um alívio: a certeza da vida além da morte. Eis
a saída mais coerente, pelo menos do ponto de vista religioso, que o homem encontrou
para viver eternamente.
Em minhas pesquisas encontrei uma matéria da jornalista Tânia Menai, publicada
na revista Veja, edição de 2 de maio último, que vale uma reprodução, ainda que
em parte, para que os leitores do Correio também possam apreciá-la:
Não há respostas simples sobre como lidar com a morte. Teólogos, filósofos, místicos
e consoladores de todos os matizes tentaram ao longo dos séculos aliviar essa carga
que se instala sobre os ombros de cada um a partir daquele instante, na infância,
em que se descobre a inevitabilidade da morte. A americana Jill Brooke, de 42 anos,
fez sua tentativa com o livro Don’t Let Death Ruin Your Life (Não deixe a Morte
Arruinar a sua Vida).
Órfã de pai desde os 16 anos, criada na religião judaica e dona de uma carreira
que inclui credenciais no canal de televisão CNN e no jornal New York Post, há quase
três anos Brooke viu a morte passar por perto. Ela perdeu, em virtude de sérias
complicações, aquele que seria o seu segundo filho. A tragédia levou Brooke a mergulhar
no tema que lhe sacudiu emocionalmente: “A Morte”. Ela fez uma longa pesquisa e
descobriu que muitos personagens que hoje são lembrados como líderes, vencedores,
revolucionários e inovadores tiveram em comum o fato de enfrentar a morte de um
ou dos dois pais ainda na infância. “Reagir com bravura diante do inevitável é um
traço de caráter muito interessante. Para muitas personalidades pode ter sido essa
a alavanca que as impulsionou em busca da glória e das grandes realizações”, diz
Brooke. E cita, como exemplos históricos, o conquistador macedônio Alexandre, o
Grande (356-323 a.C.), o ex-beatle Paul McCartney, o filósofo Francis Bacon (1561-1626),
Napoleão Bonaparte, Simon Bolívar, Eleonor Roosevelt, Eva Perón e homens públicos
ambiciosos como Bill Clinton e o magnata da Imprensa Rupert Murdoch. “Perder o pai
ou a mãe na infância, felizmente, é uma experiência rara mesmo em tempos de guerra”,
constatou Jill Brooke. A taxa média nas sociedades ocidentais é de 15%. Nas grandes
guerras do século passado, as vítimas militares eram jovens que em sua maioria ainda
não tinham sido pais. Sendo raro esse evento ele deixa, segundo Brooke, marcas indeléveis
na personalidade de quem passa por ele. E a autora se admira ao ver que os biógrafos
de Abraham Linclon não tenham dado o peso certo à orfandade dos maiores presidentes
que povo norte-americano já teve. Pois Brooke observa que na primeira linha de uma
das biografias desse vulto histórico diz: “Nasci no Kentucky. Minha mãe morreu quando
eu tinha 9 anos”. Isto deve ter influenciado a personalidade do distinto biografado.
As elucubrações de Jill Brooke vão nessa linha para concluir que a morte de um pai
é uma variável quase tão significativa quanto a educação, a classe social ou a religião
na qual a pessoa foi criada. “Crianças órfãs são forçadas a ser muito introspectivas
e a examinar os mistérios da vida trazidos pela morte num período da vida em que
seus colegas lidam apenas com as tensões mais brandas, típicas da idade”, diz Brooke.
Enfim, ela avalia que nem sempre a experiência do enfrentamento da morte é prejudicial.
Ao contrário, “A capacidade de tolerância e resistência dessas crianças é enorme
e suas perspectivas de vida tendem a ser mais amplas que as pessoas que não passaram
por dores ou tristezas profundas”, explica a autora.
Uma pesquisa da Universidade Columbia sugere que as crianças que passaram pelo
trauma da morte de parentes próximos podem ser classificadas em dois grupos. No
primeiro, ficam as que realmente se vergam ao peso da dor. Elas se entregam. Suas
frágeis estruturas emocionais são destruídas pela fatalidade e elas via de regra,
não se tornam adultos normais. Num segundo grupo estão aquelas que a experiência
da morte a seu redor imuniza para as dificuldades da vida, tornando-as mais equipadas
para perseguir objetivos extraordinários, para o bem ou para o mal. Brooke lembra
que os ditadores Adolf Hitler, Josef Stalin ou o sérvio Slobodan Milosevic, que
está sendo julgado pelos seus crimes e que teve pai e mãe suicidas, foram órfãos
que poderiam ser classificados num terceiro grupo – dos que se deixaram consumir
pela amargura da perda e, por isso, tornaram-se frios e indiferentes ao sofrimento
dos outros.
“Não podemos generalizar, mas as experiências- padrão na infância geram um tipo
de comportamento futuro que podemos agora começar a entender”, diz ela. “Uma das
conseqüências mais comuns para essas crianças é o fato de desenvolverem mais aguçadamente
do que outras o raciocínio abstrato.”
Abstraindo o ambiente social e o período histórico dos personagens cuja biografia
estudou, Jill Brooke encontrou em diversos artistas órfãos a mesma obsessão pelo
ente querido perdido. Quando a mãe de Paul MacCartney morreu, o pai deu-lhe um violão
para aliviar seu sofrimento. Mais tarde ele compôs a famosa canção Let it Be, em
que a mãe é personagem sempre presente lhe trazendo proteção e sabedoria. No caso
de John Lennon, que também perdeu a mãe muito cedo, as letras de suas músicas foram
chamuscadas pela raiva e revolta pelo isolamento. Mas o motivo, segundo a pesquisadora,
é outro. Lennon foi abandonado pela mãe e criado pelos tios. Outro exemplo de grandeza
motivada em parte pelo amor à mãe perdida na infância, é o escultor e pintor italiano
Michelangelo, autor de obras eternas, como o teto da Capela Sistina e a escultura
de Davi, em Florença.
São inúmeros os fatores que definem se uma experiência traumática de morte na
família vai formar ou deformar a personalidade da criança. Como era de esperar,
a pesquisa de Brooke mostra que o pior efeito vem de lares em que a morte de um
dos pais ou de ambos joga as crianças na pobreza. “Sem um mecanismo de apoio que
garanta a qualidade de vida e mesmo padrão econômico, as crianças vão sofrer mais
do que deveriam”, diz ela. A morte dos pais é algo doloroso, mas o suicídio de um
parente jovem ou a perda de um filho são considerados em todos os círculos as formas
mais agonizantes e debilitantes de luto. No primeiro caso, segundo Brooke, a melhor
tábua de salvação é a terapia. E eu aduzo: em ambos os casos a psicologia, pelo
lado científico e a Doutrina Espírita, pelo lado religioso-assistencial, são excelentes
tábuas de apoio. Além de violar a ordem natural das coisas, a perda de um filho
costuma aumentar o atrito entre os casais, culminando, muitas vezes, em divórcio.
Isso porque homens e mulheres vivenciam o luto de forma diferente. As mulheres fazem
amizades mais baseadas na emoção. Já os homens tendem se agrupar em torno de atividades
comuns, como os esportes. O homem, na opinião de Brooke, compartilha menos suas
emoções. Por isso tem maior dificuldade de lidar com a agonia da perda de um filho.
Esse comportamento pode levar a mulher a achar que o marido não está sofrendo tanto
quanto ela. “É vital que o casal lembre que está no mesmo barco. Mesmo que os dois
estejam remando em velocidades diferentes, ambos devem remar na mesma direção” –
aconselha a autora.
(Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 368 de Setembro de 2001)