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Ainda Drogas Alucinógenas

Ainda Drogas Alucinógenas

 

Vem de longa data a história dos estupefacientes ou alucinógenos, cujo uso se
restringia, a princípio, aos rituais religiosos.

Os antigos chineses, indianos e persas já conheciam o cânhamo, do gênero
cannabis a que pertence o haxixe ou maconha. Há referências a esse vegetal na
literatura grega e assíria de 1000 anos antes de Cristo. Considerado entre os
hindus como planta sagrada trazida do oceano pelo deus Siva, o cânhamo, mais
tarde, penetrou nos meios maometanos e algumas seitas o tinham como “uma
corporificação do espírito de um profeta”. Para certas tribos da África Central,
chegou ao cúmulo de tornar-se virtualmente num deus. Expande-se, durante a Idade
Média, na índia, Oriente Próximo e Médio e África do Norte. Por volta de 1800 é
introduzido na Europa, daí se espalhando por todos os quadrantes da terra.

No México, os índios dedicam verdadeira adoração a uma planta, o “cogumelo
sagrado” (amanita muscaria), que lhes aguça a percepção sensorial produzindo
sonhos e visões.

Há vários séculos, outro alucinógeno natural, o pelote, um cacto originário
do México e da América Central, era usado pelos astecas e por várias tribos de
índios americanos. Chegou às planícies dos Estados Unidos e ao Canadá, levado
pelos apaches Mescaleros. Donde o nome de mescalina dado ao princípio ativo do
peiote.

Refere John Cashman no seu livro “The LSD Story”:

“Como o peiotismo se tornou muito ligado ao cristianismo, as crenças
religiosas entre os índios foram modificadas para nelas introduzir a idéia de
que Deus colocara alguns dos seus poderes no cacto peiote, e Jesus Cristo dera a
planta aos índios numa época de necessidade”.

De aparecimento relativamente recente – descoberta acidentalmente numa
pesquisa de laboratório, em 1938, – uma droga vem causando sérias preocupações
ao mundo inteiro. É o tartarato de dietilamina do ácido lisérgico, comumente
chamado LSD.

Há quem cante hosanas ao LSD, quem afirme que ele não cria “dependentes”, não
vicia. Que o LSD proporciona “uma visão sacramental da realidade” que é remédio
milagroso, que é um “abre te Sésamo” para a libertação da alma. O dr. Timothy
Leary, dos Estados Unidos, chegou a fundar a “religião” da droga, que,
positivamente, só pode ser uma “droga” de religião…

A verdade, porém, é que os efeitos perniciosos do LSD são evidentes.

Está provado que seu uso pode levar à loucura, à morte ou ao suicídio.

Explica Cashman, que é reconhecida autoridade no assunto:

“Uma dose de LSD pode projetar um homem aos trombolhões através de sua
própria mente. Menos de um quilo de droga seria suficiente para que toda a
população da cidade de Nova Iorque fizesse a mesma viagem. Pouco mais de 18,200
kg, divididos em doses iguais, atingiriam cada homem, mulher e criança dos
Estados Unidos e seu espaço interior”.

Esclareça-se que “viagem” (trip, na gíria norte-americana) designa o estado
alucinatório em que fica quem experimenta os efeitos da droga.

No seu livro Tóxicos, adverte o general Jayme Ribeiro da Graça:

“Mas o pior dos efeitos é, sem dúvida, o da fabricação de monstros,
conseqüência do deslocamento dos cromossomas… Muitos casos registrados mostram
que recém-nascidos miam feito gatos e têm características diferentes dos da
espécie humana”,

Por seu turno, o dr. Arthur H. Cain, em “Jovens e Drogas”, cita os seguintes
casos relacionados com o uso do LSD:

“No Oregon, uma jovem mãe trouxe seu filho recém‑nascido; para ser examinado.
A criança apresentava um defeito no tubo intestinal e sua cabeça estava
assumindo uma forma grotesca – um lado do rosto crescia mais rapidamente do que
o outro. (…) Dois jovens de Oregon apresentavam também anormalidades
cromossomáticas que parecem idênticas aos primeiros estados de leucemia, o
câncer incurável do sangue que proliferou em Hiroschima após a explosão da bomba
atômica”.

Quanto aos efeitos psicológicos dos tóxicos, as alucinações, deformação e
hiperestesia da percepção auditiva, transformação da personalidade – tudo isso
caracteriza um estado anormal que não só acarreta danos ao corpo material, mas
afeta igualmente a saúde do espírito. Muito senso, evidentemente, na sentença de
Juvenal: “Mens sana in corpore sano”.

A tão decantada “viagem” dos tomadores de “bolinhas” não passa, em última
análise, de um desdobramento do espírito. Eles realmente vêem alguma coisa do
mundo espiritual, embora as deficiências do cérebro material não lhes permita
guardar, quando do “regresso”, senão uma lembrança deformada cada dos quadros
presenciados.

A ação fisiológica do tóxico facilita a exteriorização do perispírito, tal
como acontece nos estados de coma, arestesia e hipnose profunda.

A “viagem” representa, assim, um “Desdobramento” provocado.

Tanto isso é certo, que um grande apologista dos psicotrópicos, Aldous Huxley
na sua famosa obra “As portas da percepção”. assinala:

“Há certos médiuns para os quais as revelações que se manifestam, por breves
períodos, nos indivíduos que ingerem mescalina, são uma experiência diária, de
todas as horas, por longos espaços de tempo”.

Adiante o escritor:

“O que nós outros vemos sob a influência da mescalina pode a qualquer tempo,
ser visto pelo artista, graças a sua constituição congênita”.

Exato. É que o artista também é médium.

O que precisamos ter em conta é que, se a mediunidade natural permite o
desdobramento do espírito sem causar danos ao percepiente, o mesmo não acontece
quando se provoca o fenômeno por meios artificiais ou violentos.

Os tóxicos produzem o depauperamento do organismo e a escravidão ao vício.

Uma porta aberta à obsessão.

Revista Internacional de Espiritismo – Agosto de 1973.