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Elegia de Amor ao Hospital Padre Bento

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Amilcar Del Chiaro Filho

   75 anos passaram na esteira do tempo marcando corações com ferrete em brasa do sofrimento e com as suaves e harmoniosas modulações de uma sonata de amor escrita Deus na pauta do arco-íris, a unir corações na amizade, que os juntou sem pedir licença, solidarizando-os nas angústias das saudades do lar e no medo do futuro que poderia trazer a devastação de seus corpos. Contudo, onde existem dores cruciantes Deus coloca anjos ou messias para que possam consolar, fazer os curativos e mitigar dores.

As religiões representam os anjos com grandes asas, mas desde a minha meninice me acostumei a velos com as asas recolhidas e ocultas por baixo das vestes. Esses anjos respondiam pelos nomes de “médicos”, “professores”, funcionários”, “amigos” e até colegas. Sim! Pois havia aqueles que sofrendo dores físicas e morais iguais ou até mais fortes que as minhas, me consolavam ouvia minhas queixas e me davam forças para continuar vivendo minha vida, já sem muita significação.Havia adultos que se depravavam nos vícios para esquecer. As crianças estudavam, praticavam esportes, brincavam de mil coisas diferentes, porém, quando o manto da noite cobria tudo era hora de se recolher ao leito, muitos choravam a separação molhando a fronha do travesseiro com generosas lágrimas vertidas pela saudade de suas casas, de suas famílias.

Um dia descobri que sabia contar historias e comecei a contá-las à noite no dormitório coletivo, até que o último companheiro dormisse, e, parece-me que contribui para diminuir as lágrimas , exceto as minhas que ás vezes afloravam aos olhos antes do sono me vencer. Quantos amigos passaram pela minha vida e deixaram marcas de luz no meu coração. Quanta saudade. A maioria desapareceu nas brumas do passado. Outros ainda povoam o meu íntimo. Alguns já partiram para o grande além e residem nas mansões da eternidade. Entre todos os anjos que aportaram em minha vida destaca-se Lauro de Souza Lima. Ele foi o médico, o amigo, o benfeitor. Ele foi uma melopéia de amor entre os soluços e gemidos. Ele foi a linfa fresca que dessedenta, foi a “água viva” do Evangelho. Ele ignorou as próprias dores para balsamisar as pungentes dores de seus pacientes. Interrompo o texto que estou escrevendo para orar e os nomes vem surgindo pelas asas da saudade. Nomes de pessoas que jamais esquecerei: Lauro de Souza Lima, Antônio Levi, Mário Brasolin, Francisco Mazeu, Luiz Florindo, Carlinhos, Laurinha, Mariazinha, Leonil, (que se tornou minha esposa), Romeu Bianchini, cuja amizade profunda que nos uniu teve continuidade em seus filhos e netos … Hoje o Sanatório Padre Bento não existe mais. Deu lugar ao Complexo Hospitalar Padre Bento de Guarulhos. Que digo? Existe na mente daqueles que ali viveram e tiveram com ele intensa relação de raiva e de amor. Hoje olhamos os antigos pavilhões em cuja argamassa encontramos sangue dos dedos insensíveis dos pacientes que ajudaram a construí-los e nos seus tijolos lemos a sua historia.Tudo passou. As últimas lembranças já estão dobrando a esquina do tempo. Eu também passarei. Creio que não deixarei marcas a não ser a saudade que despertarei no coração de alguns. Meu querido Hospital Padre Bento, espero confiante que quando você complementar 100 anos não existam mais hansenianos Brasil e no mundo, que essa seja uma página definitivamente virada e não uma história sem fim.

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