Em Certos Momentos
Paulo Eduardo Castaldi
Em certos momentos, principalmente quanto estou semi acordado ou meio que
dormindo, não sei bem ao certo, sou surpreendido por algumas idéias que fogem ao
meu controle e muitas vezes rio atoa…
Porém, durante esta madrugada, não sei se afetado pelos escandalosos
noticiários da TV., iniciei uma conversação com alguém invisível que falava
diretamente à minha mente, mais ou menos nestes termos:
– Não te preocupes com todos estes desmandos, faz parte da situação
embrionária em que vive o homem atual. – Me dizia a voz amiga.
– Como assim… “embrionária” ? – Interroguei.
– Sim, vocês homens da Terra, são ainda pequenos embriões ! – Respondeu.
– Estou mais confuso, achei que fossemos algo em torno do 3º lugar na
evolução…- Argumentei.
– Ah…., para você ter uma idéia do quanto está errado, lembra-se daquela
frase do Paulo de Tarso, que diz: “…vivemos e nos movemos em Deus” ? –
Interrogou-me o companheiro.
– Sim, lembro-me. – Respondi.
– Pois isto é a pura verdade, todos nós seres vivos, encarnados ou
desencarnados, vivemos e nos movemos em Deus, fazemos parte de seu corpo
celeste, ou seja, somos parte Dele. Esclareceu o Amigo.
– Bem, sendo assim, onde nos encontramos então ? – Interroguei curioso.
– Imagine um GIGANTE, MAS GIGANTE MESMO !!! tão grande mas tão grande que
fosse do tamanho do UNIVERSO. Imaginou ?, pois bem, esse é Deus. Agora imagine
que você está dentro dele . Conduzia o amável companheiro.
– Sim, imaginei isto tudo. – Respondi.
– Pois bem, agora imagine a Terra como um grãozinho de feijão, e toda a sua
população, prédios, máquinas, em fim tudo… sobre este grãozinho, o qual o
Gigante engoliu e este está parado em seus intestinos. – Continuou o locutor.
– Não me agradou a idéia de estar parado num intestino. – Argumentei.
– Sei que não lhe agrada, mas vamos continuar. – Olhando de longe, os
pequenos seres que vivem sobre este pequeno grão, mais se assemelham aos
microscópicos vermes que habitam as fezes. Corroem e destroem seu próprio
habitat. Movimentam-se apressados de um lado para outro, passam uns por sobre os
outros, demonstrando apenas interesses pelas coisas imediatas. – Explanou o
mensageiro.
– Compreendi onde você quer chegar, “somos ainda vermes” ! – Respondi.
– “Vermes”, sim, mas não no sentido pejorativo da palavra, mas na condição de
seres pequeninos, ainda desprovidos de inteligência e visão suficiente para
compreender a grandeza divina, de todo o Universo.
– Bem, até onde você quer chegar com isso ? – Interroguei.
– Agora imagine, que lá do cérebro do Gigante, um de seus habitantes, o mais
adiantado de todos, recebeu Deste a missão de ir até lá no intestino, e tomando
a forma de “verme” foi habitar durante algum tempo o caroço de feijão. –
Explanava o ente invisível, quando interrompi.
– Capitei….este era o Cristo !!! Afirmei.
– Sim, era ele mesmo !!! – Confirmou o locutor. E fizeram com ele e com sua
doutrina de Amor tudo o que fizeram. E o que hoje ai está, é o resultado. –
Concluiu.
– Analisando sob este aspecto, fico imaginando como teria sido difícil Sua
encarnação em meio tão imundo. – Conjeturei.
– Foi realmente um grande gesto de Amor, deixar o cérebro do Gigante e ir
habitar um meio ambiente tão inóspito, manter-se puro em meio a tanta imundícia,
tratar tão pequeninos vermes como irmãos, e deixar-se assassinar por estes, para
provar que a vida eterna está no espírito, e que Ele continua lá no cérebro do
Gigante comandando com Este, todo o Universo, e esperando dos habitantes do
caroço de feijão, um gesto de evolução. – Concluiu o amigo.
– Bem, depois disto, sinto-me um “verme” privilegiado, por que recebi uma
idéiazinha lá do cérebro. – Respondi.
– Você é presunçoso mesmo!, apenas por achar que foi capaz de receber um
pensamento, já pensa que foi do cérebro…és um “verme” mesmo !, durma!
(Publicado no Boletim GEAE Número 390 de 02 de maio de 2000)