Nos primórdios do Espiritismo muitos foram os questionamentos relativos a seu
aspecto religioso, mormente por se apresentar sob a égide de Restaurador do
Cristianismo.
Por ocasião da publicação da pequena obra subsidiária intitulada O Que é o
Espiritismo, editada pela primeira vez em 1859, Kardec, nas linhas
introdutórias, definiria: “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza,
origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”
Mais a frente, respondendo à indagação formulada por uma autoridade
eclesiástica, aduziria: “…Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência
e não o de uma religião.”
Certamente desejou o Codificador garantir que o Espiritismo nascente não
seria confundido com mais uma corrente religiosa ortodoxa, com sua hierarquia,
rituais e dogmas inflexíveis.
Observemos, a propósito, que ele se apresentou ao mundo através da
publicação de O Livro dos Espíritos, contendo na página de apresentação o
seu teor: FILOSOFIA ESPIRITUALISTA; evidenciando o caráter
filosófico doutrinário.
Em seguida, viria a lume o segundo livro da Codificação, intitulado O
Livro dos Médiuns; tratava-se de ESPIRITISMO EXPERIMENTAL;
ressaltando o caráter científico da Terceira Revelação.
Somente em 1864, data da edição primeira de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, os mentores nos traziam as principais máximas do Cristo,
analisadas sob a ótica espírita, permitindo-nos visualizar mais cristalinamente
o aspecto religioso da Doutrina.
Alguns anos após, Kardec, sentindo a necessidade de uma definição a respeito
da questão, proferiu discurso bastante elucidativo em reunião pública realizada
na noite de 01/11/1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
em que declarou: “…sem dúvida, no sentido filosófico o Espiritismo é uma
religião, e nós nos ufanamos disso”.
Conclui-se, pelo exposto, que a Doutrina Espírita é uma religião por
consequência de seus fundamentos filosóficos e científicos,
conduzindo o homem pelos caminhos da fé raciocinada, que o levarão ao inevitável
reencontro com o Criador—finalidade precípua de qualquer sistema religioso
legítimo.
Bibliografia:
O Que é o Espiritismo, FEB, Departamento Editorial, RJ, 37a.
edição, 1944, 217 páginas; páginas citadas: preâmbulo e pg. 130.
Revista Espírita—dezembro de 1868.
ESTUDO DO MÊS DE MARÇO/2001