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Estranhos fatos na Obsessão

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Amélia Maria Francisco deixou o corpo dia 25 de outubro, na cidade de Paranaiba, MS. Sou o filho mais novo e pouco vi dos fatos que vou narrar, soube deles por meu pai e parentes. Meus pais eram católicos de fé, minha mãe rezava terços e benzia um pouco; nascemos num lugarejo de nome um tanto pitoresco: Córrego do Sovaco, na cidade de Pirangi, interior de São Paulo.

Um dia, minha mãe teve uma crise obsessiva, no dizer de alguns, demoníaca. Rasgava-se toda e ficava violenta. Meu pai levou-a ao médico, meu avô foi ao bispo da região e este, sem poder resolver, disse que na Igreja não havia solução. Que buscassem outros meios, sem mencionar quais seriam esses. O tempo passou e as crises pioraram. Os ataques que davam em minha mãe se repetiam também nos porcos. Era comum meu pai encontrar um porco correndo feito louco pelo quintal, em crise infernal. Após o ataque, caia morto. Ele o enterrava e mais tarde o suíno aparecia em redor da casa, com o lombo cheio de terra, à procura do chiqueiro, aonde ia se alimentar. No galinheiro, as crises pegavam um frango novo, e este, sob a ação desse poder estranho cantava como um galo e tinha procedimentos estranhos…

O processo obsessivo era tão intenso que se tornava cômico. Um dia, minha mãe, possuída, entrou num enrolado de arame farpado e desceu pela frente da casa, indo parar na cerca junto à estrada, sem ter nenhum arranhão. Um parente, vendo a cena pela janela, deu uma gargalhada. Do “nada”, pois ninguém estava do seu lado, levou um violento tapa no rosto que deixou nele durante horas as marcas de alguns dedos e uma dor intensa.

Por anos meu pai não teve sossego; dormia trancado com minha mãe, receoso de que ela matasse os filhos ou cometesse algum desatino. Os móveis da casa tinham sido trocados muitas vezes porque nos ataques ela rasgava e quebrava tudo.

Meu pai tentou de tudo, até que encontrou um casal que dizia fazer “trabalhos” com pólvora. Ele desconhecia isso, tinha receio, mas como não encontrava outra saída, resolveu aceitar o ajutório daquelas criaturas. Foi marcado o encontro e o homem colocou um copo com água, onde mostrou para meu pai, a pessoa que tinha mandado fazer o “feitiço”. Ele nunca revelou o nome para ninguém, até deixar o corpo. Durante a sessão, o homem foi até o quarto e com uma faca cortou o colchão, enquanto rasgava, ouviam-se gritos estranhos, grunhidos, como se alguém tivesse seu corpo cortado ao meio. Terminado o “trabalho”, ele recomendou que meu pai levasse minha mãe para um Centro Espírita e lá ela desenvolvesse sua mediunidade.

E assim se deu, ela ficou boa, tornou-se médium vidente e trabalhou praticamente a vida inteira, sempre assistida por um Espírito muito bom, o Padre Victor, que na vida física viveu na cidade de Três Pontas em Minas Gerais. Naquela cidade, teve até esculpido seu busto, “in memoriam”, por suas ações de caridade em prol do povo daquela região.

Outro fato envolvendo minha mãe se deu quando surgiu no meu irmão que tinha uns sete anos, uma mancha no abdômen; a pele era transparente, podendo-se ver as vísceras. O médico não sabia dizer a causa daquilo. Naquela época, minha irmã Alzira, de cinco anos, era saudável. Um dia, minha mãe sonhou que São Benedito, que se dizia padrinho do meu irmão, fazia um acordo com Nossa Senhora da Aparecida, que se dizia madrinha da Alzira. E dessa conversa dos dois, minha mãe ouviu que Nossa Senhora iria levar a Alzira e deixaria curado o meu irmão. Minha mãe acordou em prantos; meu pai ficou intrigado, mas acreditou que seria apenas um sonho de uma mãe preocupada com a saúde do filho.

No entanto, cinco dias depois do tal sonho, numa tarde, minha mãe ouviu alguns ruídos estranhos no quarto, foi até lá e viu minha irmã quebrando as bonecas e os brinquedos. Ficou parada, sem saber o que fazer. Alzira deitou-se na cama e ficou quieta. Minha mãe tocou seu corpo; estava morta. E o meu irmão ficou curado, do problema que tinha na barriga.

Bem, narro estes fatos, primeiro como uma homenagem aos meus pais por tudo que fizeram nessa vida, sempre pautada com muita fé.
Quanto aos fatos, trago-os para uma reflexão. Sobre a obsessão, hoje em dia não tão evidente e dramática como era antigamente. Parece-me que agora ela surge de forma diferente. Em minha mãe a possessão era evidente, afetando até os animais e agredindo pessoas, sem, contudo afetar a médium, no caso minha mãe. Era mesmo como se essa “força estranha” estivesse dando uma mensagem, embora com truculência, mas era um caminho que ele indicava, porque tão logo o apoio se deu e o caminho foi percorrido (ela trabalhar como médium), a paz se instalou em nossa casa.

Pode-se indagar: e o tal “feitiço”, como fica. Ora, uma pessoa pode desejar o mal para uma outra? Pode. É da lei divina a liberdade de ação, cada um realiza seus desejos na Terra, mas também é responsável por qualquer atitude ou pensamento que irradia e pode sofrer as consequências de qualquer desatino. Nesse caso, uma criatura desejou o mal e ele aconteceu. Minha mãe tinha esse compromisso assumido antes de renascer. Era católica praticante, mas os Espíritos que estavam incumbidos de realizar a tarefa ao seu lado, precisavam que ela desenvolvesse outras habilidades para desempenhar o seu real papel nessa vida. Num certo ponto da vida, minha mãe deve ter cometido alguma atitude que a deixou desprotegida e a inveja ou maldade mesmo, de um parente (que foi visto no copo) se imiscuiu em sua vida e com isso se desenrolou o processo. Ela se tornou uma casa de portas abertas, um veículo desgovernado, que acabou dominado por forças estranhas. Aí está, em poucas palavras, o que entendo do processo, dando crédito ao provérbio popular que diz: há males que vem para o Bem.

Fica em aberto ainda a questão de o Espírito agir violentamente contra um parente, no caso do tapa, e todas as ocorrências que envolveram minha mãe não a afetarem fisicamente. Entende-se esse fato como sendo uma proteção desenvolvida por eles próprios. É comum a gente ver em trabalhos de terreiro o médium tomar aguardente ou fumar charuto e isso não causar nenhum mal estar. A ação é realizada pelo Espírito e não pela pessoa que está sob seu domínio e o próprio ou os Mentores ou Guias organizam uma malha eletromagnética que protege o médium. É esta mesma malha que os Espíritos socorrestes utilizam para evitar que pessoas em acidentes sofram as dores de queimaduras, como foi no caso do avião que em São Paulo explodiu, chegando a temperatura de 1.000 graus. Os Espíritos que deixaram o corpo naquele acidente nada sentiram no corpo, sendo retirados antes e protegidos pela tal malha.

A mediunidade tem mistérios e está em fase evolutiva. Hoje, a criatura se envolve nesse processo sem tantos incidentes e tampouco a cobrança de compromissos se faz de maneira tão violenta. Mas ainda é necessário que procuremos refletir e investigar o que se dá em nossa vida para entender se o que está acontecendo se deve a atitudes erradas ou se algo ou alguém procura chamar a sua atenção para compromissos esquecidos. Um bom caminho é ouvir seu coração e conversar com o Universo. Se isso não for o suficiente, procure o auxilio de terceiros, um padre, um pastor, um médium ou um terapeuta podem te dar informações. Mas evite deixar para amanhã, pode ser tarde. Pense nisso.

Wilson Francisco