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Evangelho e Espiritismo

Evangelho e Espiritismo

SUMÁRIO:1-Introdução. 2-Conceito. 3-Conotações do Termo Evangelho. 4-
Contexto Histórico do Evangelho: 4.1-Ambiente Político-Religioso; 4.2-O Judaísmo
Palestinense no Tempo de Cristo; 4.3-De Cristo a Kardec. 5- Kardec e o Evangelho
Segundo o Espiritismo. 6-Evangelho e Educação. 7-Conclusão. 8-Bibliografia
Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo central deste estudo é enaltecer os esforços constantes de
evangelização das criaturas. Para que possamos atingir tal desideratum,
preparamos o seguinte roteiro: conceito, conotações do termo “Evangelho”,
Evangelho no contexto histórico, o Evangelho Segundo o Espiritismo e Evangelho e
Educação.

2. CONCEITO

O uso freqüente de uma palavra pode provocar, com o tempo, a perda do seu
significado original. Isto aconteceu com muitos de nós que dizemos e ouvimos
pronunciar tantas vezes o termo “Evangelho”.

De acordo com Battaglia em Introdução aos Evangelhos, o primeiro
significado lembrado pelo som desta palavra é o de um livro, um dos quatro que
foram legados pela era apostólica e que contém a vida e a doutrina de Jesus. A
palavra “Evangelho” suscita em muitos cristãos uma vaga idéia de respeito e
solenidade ligada à liturgia da Missa dominical, quando o som deste termo
faz-nos ficar todos de pé para ouvi-lo devota e respeitosamente. Mas
normalmente, tudo pára aí.

Evangelho é a tradução portuguesa da palavra grega Euangelion
que foi notavelmente enriquecida de significados. Para os gregos mais antigos
ela indicava a “gorjeta” que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde
passou a significar uma “boa-nova”, segundo a exata etimologia do termo.

Falava-se de “evangelho”, nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma
vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um
imperador. Ao termo estava unida a idéia de festa com cânticos, luzes e
cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma
certeza de bem-estar, de paz e salvação. (1984, p. 19 e 20)

3. CONOTAÇÕES DO TERMO “EVANGELHO”

O Evangelho de Jesus – Deus, no Velho Testamento, havia comunicado os
seus anúncios de alegria aos patriarcas, a Moisés e aos profetas do seu povo; no
Novo Testamento, dá o maior dos “anúncios”, o anúncio de Jesus. Jesus não é só
conteúdo do anúncio, mas é também o primeiro portador e arauto. Ele apresenta a
si mesmo e a sua obra como o “Evangelho de Deus”, isto é, a “boa-nova” que Deus
envia ao mundo que espera. (Battaglia, 1984, p. 21 e 22)

O Evangelho dos Apóstolos – Desde o momento da ascensão de Jesus, a
palavra “Evangelho” designou a pregação oral dos apóstolos, pregação que tinha
como argumento a pessoa e atividade de seu Mestre divino. (Battaglia, 1984, p.
23)

Os Quatro Evangelhos – Desde os primeiros anos do cristianismo
preferiu-se falar de “Evangelho”, no singular, também quando se referia aos
livros. isto porque os escritos dos apóstolos traziam todos o mesmo e idêntico
“alegre anúncio” proclamado por Jesus e difundido oralmente. Quando se desejou,
porém, indicar de maneira específica cada um dos quatro livros, encontrou-se uma
fórmula particularmente eficaz e significativa: “Evangelho Segundo Lucas”,
“Evangelho Segundo Mateus”, “Evangelho Segundo Marcos” e “Evangelho Segundo
João”. Desse momento em diante, o singular e o plural se alternam para indicar,
um a identidade do anúncio, o outro a diversidade de forma e redação. Ficará,
porém, sempre viva a convicção de que o Evangelho é um só: o alegre anúncio de
Jesus. (Battaglia, 1984, p. 25 e 26)

O Quinto Evangelho – Os Atos dos Apóstolos e as Cartas Apostólicas
dispostos cronologicamente formariam um quinto evangelho. O Nascimento de Jesus,
por exemplo, poderia ser encontrado em Gl 4,4; Rm 1,4; At 3, 18-24; At 1,14. Sua
atividade missionária em At 10,36; At 2,22; At 1,13; At 1, 21-22; 2 Pd 1, 16-18;
1 Jo 1, 1-3. Este mesmo exercício poderia ser feito com relação às condições de
sua vida, o início da vida pública, a última ceia, a traição de Judas etc.
(Battaglia, 1984, p. 32 a 36)

Evangelhos Apócrifos – Muitas informações acerca de Jesus estão
arroladas nos evangelhos apócrifos (escondidos) e nas ágrafas (ensino
oral).

4. CONTEXTO HISTÓRICO DO EVANGELHO

4.1. AMBIENTE POLÍTICO-RELIGIOSO

O povo judeu, ao qual Jesus e os apóstolos pertenciam Império fazia parte do
grande império romano que estendia as asas das suas águias do Atlântico ao
Índico. O jugo romano, porém, pesava de modo especial sobre a Palestina ao
contrário dos outros povos. O poder político-religioso na Palestina, naquela
época, era exercido pelo procurador romano, pelo sumo sacerdote e pelo senado
judeu.

O procurador romano era sobretudo um chefe militar, encarregado de
vigiar, com 3.000 homens à sua disposição. Competia-lhe cobrar os tributos a
serem enviados ao erário imperial. Administrava a justiça só nos casos em que
era prevista a pena de morte, pena que o tribunal ordinário do sinédrio, ou os
tribunais locais das várias regiões e cidades não podiam executar. Por esse
motivo Jesus, embora tivesse sido condenado à morte pelo sinédrio, teve de
comparecer diante de Pilatos para responder por delito capital.

O sumo sacerdote era assistido, no governo político e religioso da
nação, por uma espécie de senado judeu, o sinédrio.

Pertenciam ao sinédrio três categorias de pessoas:

  • príncipes dos sacerdotes” (chefes das famílias e das classes
    sacerdotais e os sumos sacerdotes depostos do cargo)
  • anciãos” (membros das famílias nobres e ricas de Jerusalém).
  • escribas” ou “doutores da lei” (mestres judeus peritos na Lei e na
    tradição). Todos esses membros pertenciam às duas seitas principais do
    judaísmo: a dos saduceus e a dos fariseus. (Battaglia, 1984, p. 105 a 107)

4.2. O JUDAÍSMO PALESTINENSE NO TEMPO DE CRISTO

O ambiente histórico-religioso em que o Evangelho nasceu é o do judaísmo
formado e alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento, condicionado
pelos acontecimentos históricos, pelas instituições nas quais se encontrou
inserido e pelas correntes religiosas que o especificaram.

Embora o cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica,
apareceu historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por
Deus ao povo de Israel. Jesus era um judeu, que nasceu e viveu na Palestina. Os
apóstolos eram todos da sua gente e da sua religião.

Por isso, nos Evangelhos encontramos descrições, alusões e referências a
pessoas, instituições, idéias e práticas religiosas do ambiente judaico, frente
às quais Jesus e os apóstolos tomaram posição, aceitando-as ou rejeitando-as.
(Battaglia, 1984, p. 118)

4.3. DE CRISTO A KARDEC

A divulgação do Evangelho, desde as suas primeiras manifestações, não foi
tarefa fácil. A começar pela construção desses conhecimentos – realizada sob um
clima de opressão -, pois o jugo romano, como vimos anteriormente, pesava de
maneira especial sobre a Palestina. As mortes dos primeiros cristãos, nos circos
romanos, ainda ecoa de maneira indelével em nossos ouvidos. Além disso, tivemos
que assistir à ingerência política em muitas questões de conteúdo estritamente
religioso. Fomos desfigurando o Cristianismo do Cristo para aceitarmos o
Cristianismo dos vigários, como disse o Padre Alta. A fé, o principal alimento
da alma, torna-se dogmática nas mãos de políticos e religiosos inescrupulosos.
Para ganhar os céus, tínhamos que confessar as nossas culpas, pagar as
indulgências e obedecermos aos inúmeros dogmas criados pela Igreja. É dentro
desse quadro de fé dogmática que surge o Espiritismo, dando à fé uma direção
racional, no sentido de iluminar a vida espiritual de toda a humanidade.

5. KARDEC E O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

O Evangelho Segundo o Espiritismo é o 3.º Livro da Codificação. O
Livro dos Espíritos
surgiu em 18/04/1857, seguido pelo O Livro dos
Médiuns
, em 1861. Somente em 1864 Kardec publicou O Evangelho Segundo o
Espiritismo
. Isso para não chocar a crença católica da penas eternas.

Allan Kardec na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo diz
que as matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas em cinco partes:
os atos comuns da vida de Cristo, os milagres, as profecias, as palavras que
serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja e o ensinamento moral
.
Se as quatro primeiras partes foram objeto de controvérsia, a última manteve-se
inatacável. Este é o terreno onde todas as crenças podem se reencontrar, porque
não é motivo de disputas, mas sim regras de conduta abrangendo todas as
circunstâncias da vida, pública e privada.

Kardec, para evitar os inconvenientes da interpretação, reuniu nesta obra os
artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral
universal, sem distinção de culto. Nas citações conservou tudo o que era útil ao
desenvolvimento do pensamento, não eliminando senão as coisas estranhas ao
assunto. Como complemento de cada preceito, ajuntou algumas instruções
escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, e por
intermédio de diferentes médiuns.

Cabe lembrar que o Espiritismo não tem nacionalidade, está fora de todos os
cultos particulares e não foi imposto por nenhuma classe social, uma vez que
cada um pode receber instruções de seus parentes e de seus amigos de
além-túmulo. Ele veio dar uma nova luz à moral do Cristo. (1984, p. 8 a 12)

6. EVANGELHO E EDUCAÇÃO

No âmbito do Espiritismo, o Evangelho deixou de ser apenas a fonte de
meditação e oração para a ligação do homem com um Deus antropomórfico, no
insulamento, para transformar-se num instrumento de aperfeiçoamento do
indivíduo, de renovação íntima constante e continuada; de adequação, adaptação à
vida, no torvelinho de suas modalidades, na incessante variação de suas
manifestações. Em síntese, o objetivo do Espiritismo é transformar o Evangelho
de crença em conhecimento – conhecimento das leis que governam o Espírito.

Com o Evangelho, a idéia de Educação se transforma. Ela continua sendo a
transmissão de cultura de uma geração a outra, mas com a finalidade de estimular
a criatividade, de adaptar o indivíduo à vida, de conduzi-lo à integração na
sociedade, através do trabalho produtivo, das realizações conjuntas, de forma
ordenada e pacífica. (Curti, 1983, p. 85 a 87)
A vinda do Mestre modificou o cenário do mundo. Emmanuel em Roteiro
diz-nos que antes de Cristo, a educação demorava-se em lamentável pobreza, o
cativeiro era consagrado por lei, a mulher aviltada qual alimária, os pais
podiam vender os filhos etc. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o
sentimento. Iluminados pela Divina influência, os discípulos do Mestre
consagram-se ao serviço dos semelhantes; Simão Pedro e os companheiros
dedicam-se aos doentes e infortunados; instituem-se casas de socorro para os
necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular etc. (Xavier,
1980, cap. 21)

Emmanuel diz ainda em Emmanuel que “O Evangelho do Divino Mestre ainda
encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A má-fé, a ignorância, a
simonia, o império da força conspirarão contra ele, mas tempo virá em que a sua
ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é
para a sua luz eterna que a Humanidade se voltará, tomada de esperança”.
(Xavier, 1981, p. 28)

7. CONCLUSÃO

O Evangelho (segundo o Espiritismo) deixa de ser fonte de meditação e oração
e passa a ser um instrumento de aperfeiçoamento do indivíduo. É um guia
insubstituível para a adaptação do homem às crescentes formas de vida.
Refletindo sobre os seus conteúdos morais, o homem começa a evangelizar-se, ou
seja, começa a criar novos hábitos e atitudes, a tornar operante a sua fé, a
exercitar mais e mais vezes a paciência.
Adquire, assim, uma nova postura com relação à vida e ao seu próximo, porque
aprendeu que o único evangelho vivo é aquele em que os outros o observam.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

  • BATTAGLIA, 0. Introdução aos Evangelhos – Um Estudo Histórico-crítico.
    Rio de Janeiro, Vozes, 1984.
  • CURTI, R. Espiritismo e Questão Social (Problemas da Atualidade I).
    São Paulo, FEESP, 1983.
  • KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo,
    IDE, 1984.
  • XAVIER, F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas), pelo Espírito
    Emmanuel. 9 ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
  • XAVIER, F. C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 5. ed., Rio de
    Janeiro, FEB, 1980.

 

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