“A letargia e a catalepsia derivam do mesmo principio, que é a perda
temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa biológica ainda
inexplicada. Diferem uma da outra, em que, na letargia, a suspensão das forças
vitais é geral e dá ao corpo todas as aparências da morte; na catalepsia fica
localizada, podendo atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo, de sorte a
permitir que a inteligência se manifeste livremente, o que a torna inconfundível
com a morte. A letargia é sempre natural; a catalepsia é por vezes magnética. ”
Allan Kardec.
Por sua vez, respondendo a uma pergunta que lhe fizemos acerca de
determinados fenômenos espíritas, o venerável Espírito Bezerra de Menezes
disse-nos o seguinte, pequena lição que colocamos à disposição do leitor para
observação e meditação:
– Podereis dizer-nos algo sobre a catalepsia e a letargia? – perguntamos –
pois o que conhecemos a respeito é pouco satisfatório.
E benemérita Entidade respondeu:
– Quem for atento ao edificante estudo das Escrituras Cristãs encontrará em o
Novo Testamento de N. S. Jesus Cristo, exatamente nos capítulos IX, de Mateus;
V, de Marcos; VIII de Lucas, e XI, de João, versão do Padre Antonio Pereira de
Figueiredo, a excelente descrição dos fenômenos de catalepsia ( talvez os
fenômenos sejam, de preferência, de letargia, segundo as analises dos compêndios
espíritas acima citados) ocorridos no círculo messiânico e registrados pelos
quatro cronistas do Evangelho, lembrando ainda o caso, igualmente empolgante, do
filho da viúva de Naim, caso que nada mais seria do que a mesma letargia, ou
catalepsia.
A ciência moderna oficial, a Medicina, conhece a catalepsia e a letargia,
classifica-as, mas não se interessa por elas, talvez percebendo não ser da sua
alçada o fato de curá-las. A ciência psíquica, no entanto, assim também a
Doutrina Espírita, não só as conhecem como se interessam grandemente por elas,
pois que as estudam,, tirando delas grandes ensinamentos e revelações em torno
da alma humana, e por isso podem curá-las e até evitá-las, ao mesmo tempo que
também poderão provocá-las, contorná-las, dirigi-las, orientá-las e delas
extrair conhecimentos esplendentes para a instrução cientifico-transcendente a
beneficio da Humanidade.
Se os adeptos encarnados dessa grande revelação celeste – a Doutrina Espírita
– não curam, no presente momento, as crises catalépticas do próximo, as quais
até mesmo uma obsessão poderá provocar, será porque elas são raras ou, pelo
menos, ignoradas, ou porque, lamentavelmente, se descuram da instrução
doutrinária necessária à habilitação para o importante certame.
A catalepsia, tal como a letargia, não é uma enfermidade física, mas uma
faculdade que, como qualquer outra faculdade medianímica incipiente ou
incompreendida, ainda descurada e mal orientada, se torna prejudicial ao seu
possuidor. Como as demais faculdades suas companheiras, a catalepsia e a
letargia, também poderão ser exploradas pela mistificação e pela obsessão de
inimigos e perseguidores invisíveis, degenerando então em um estado mórbido do
Perispírito, tendência viciosa das vibrações perispirituais para o
aniquilamento, as quais se recolhem e se fecham em si mesmas como a planta
sensitiva ao ser tocada, negando-se às expansões necessárias ao bom
funcionamento do consorcio físico-psíquico, o que arrasta uma como neutralidade
do fluido vital, dando em resultado o estado de anestesia geral ou parcial, a
perda da sensibilidade, quando todos os sintomas da morte e até mesmo o inicio
da decomposição física se apresentam, e somente a consciência estará vigilante,
visto que esta, fagulha da Mente Divina animando a criatura, jamais se deterá
num aniquilamento, mesmo temporário.
Tanto a catalepsia como a letargia, pois elas são faculdades gêmeas, se
espontâneas ( pois elas poderão ser também provocadas e dirigidas, uma vez que a
personalidade humana é rica de poderes espirituais, sendo, como foi, criada à
imagem e semelhança de Deus), se espontâneas, serão, portanto, um como vicio que
impõe o acontecimento, como os casos de animismo nas demais faculdades
mediúnicas, vicio que, mais melindroso que os outros lembrados, se a tempo não
for corrigido, poderá acarretar conseqüências imprevisíveis, tais como a morte
total da organização física, a loucura, dado que as células cerebrais, se
atingidas freqüentemente e por demasiado tempo, poderão levar à obsessão, ao
suicídio, ao homicídio e a graves enfermidades nervosas: esgotamento, depressão,
alucinações, etc. Mas, uma vez contornadas por tratamento psíquico adequado,
transformar-se-ão em faculdades anímicas importantes, capazes de altas
realizações supranormais, consoante a prática o tem demonstrado, fornecendo aos
estudiosos e observadores dos fatos mediúnicos vasto campo de elucidação
científica-transcendental.
Entretanto, se os adeptos da grande doutrina da imortalidade – os espíritas –
não sabem, conscientemente, ou não querem resolver os intrincados problemas
oferecidos pela catalepsia e sua irmã gêmea, a letargia ( eles, os espíritas,
não se preocupam com esses fenômenos), sem o quererem e o saberem corrigem a sua
possibilidade de expansão com o cultivo geral da mediunidade comum, visto que,
ao contato das correntes vibratórias magnéticas constantes, e o suprimento das
forças vitais próprias dos fenômenos mediúnicos mais conhecidos, aquele vicio,
se ameaça, será corrigido, podendo, não obstante, a faculdade cataléptica ser
orientada inteligentemente para fins dignificantes a bens a bem da evolução do
seu possuidor e da coletividade. de outro modo, o tratamento magnético através
dos passes, em particular os passes ditos espirituais, aplicados por médium
idôneos e não por magnetizadores, e a intervenção oculta, mas eficiente, dos
mestres da Espiritualidade, têm evitado que a catalepsia e a letargia
se propaguem entre os homens com feição de calamidade, daí advindo a relativa
raridade, espontânea, de tais fenômenos nos dias presentes. E essa nossa
assertiva também revela que todas as criaturas mais ou menos possuem em germe as
ditas faculdades e as poderão dirigir à própria vontade, se conhecedoras dos
seus fundamentos, uma vez que nenhum filho de Deus jamais foi agraciado com
predileções ou menosprezado com desatenções pela obra da Criação.
Dos casos citados nos Evangelhos cristãos, todavia, destaca-se o de Lázaro
pela sua estranha particularidade. Aí vemos um estado cataléptico superagudo,
porque espontâneo, relaxamento dos elos vitais pela depressão causada por uma
enfermidade, fato patológico, portanto, provando o desejo incontido que o
Espírito encarnado tinha de deixar a matéria para alçar-se ao infinito, e onde o
próprio fluido vital, que anima os organismos vivos, se encontrava quase
totalmente extinto, e cujos liames magnéticos do Perispírito em direção à carne
se encontravam de tal forma frágeis, danificados pelo enfraquecimento das
vibrações e da vontade ( Lázaro já cheirava mal, o que é freqüente em casos de
crises catalépticas agudas, mesmo se provocadas, quando o paciente poderá até
mesmo ser sepultado vivo, ou antes, não de todo no estado de cadáver), que fora
necessário, com efeito o poder restaurador de uma alma virtuosa como a do
Nazareno para se impor ao fato, substituir as células já corrompidas, renovar a
vitalidade animal, fortalecer liames magnéticos com o seu poderoso magnetismo em
ação. Na filha de Jairo, porém, e no filho da viúva de Naim as forças vitais se
encontravam já em desorganização adiantada, e não fora o concurso dos liames
magnéticos ainda aproveitáveis e as reservas vitais conservadas pelo Perispírito
nas constituições físicas robustas ( o Perispírito age qual um reservatório de
forças vitais e os laços magnéticos são os agentes transmissores que suprem a
organização física) e se não fossem aquelas reservas Jesus não se abalaria à
cura porque esta seria impossível. Muitos homens e até crianças assim têm
desencarnado. E se tal acontece antes da época prevista pela programação da Lei
de Criação, nova existência corpórea os reclamará para o cumprimento dos deveres
assumidos e, portanto, para a continuação da própria evolução.
“Por que tal coisa é possível sob as vistas da harmoniosa lei da Criação?Que
culpa tem o homem de sofrer tais ou quais acidentes se não é ele quem os provoca
e que se e que se realizam, muitas vezes, à revelia da sua vontade?
A resposta será então a seguinte: ” Tais acidentes são próprios do carreiro
da evolução, e enquanto o homem não se integrar de boamente na sua condição de
ser divino, vibrando satisfatoriamente no âmbito das expansões sublimes da
Natureza mecanicamente estará sujeito a esses e demais distúrbios.
Segue-se que, para a lei da Criação, a chamada morte não só não existe
como é considerada fenômeno natural, absolutamente destituído da importância que
os homens lhe atribuem, exceção feita aos casos de suicídio e homicídio. A morte
natural, então, em muitos casos será um acidente facilmente reparável e não
repercutirá com os foros de anormalidade como acontece entre os homens.
De outro modo, sendo a catalepsia e a letargia uma faculdade, patrimônio
psíquico da criatura e não propriamente uma enfermidade, compreender-se-á que
nem sempre a sua ação comprova inferioridade do seu possuidor, pois que, uma vez
adestradas, ambas poderão prestar excelentes serviços à causa do bem, tais como
as demais faculdades mediúnicas, que, não adestradas, servem de pasto a
terríveis obsessões, que infelicitam a sociedade, e quando bem compreendidas e
dirigidas atingirão feição sublime. Não se poderá afirmar, entretanto, que o
próprio homem, ou a sua mente, a sua vontade, o seu pensamento, se encontrem
isentos de responsabilidade no caso vertente, tanto na ação negativa como na
positiva, ou seja, tanto nas manifestações prejudiciais como nas úteis e
beneméritas.
“Um Espírito encarnado, por exemplo, já evolvido, ou apenas de boa vontade,
senhor das próprias vibrações, poderá cair em transe cataléptico, ou letárgico,
voluntariamente( 1), alçar-se ao Espaço para desfrutar o consolador convívio dos
amigos espirituais mais intensamente, dedicar-se a estudos profundos, colaborar
com o Bem e depois retornar à carne, reanimado e apto a excelentes realizações.
Não obstante, homens comuns ou inferiores poderão cair nos mesmos transes,
conviver com entidades espirituais inferiores como eles e retornar obsidiados,
predispostos aos maus atos e até inclinados ao homicídio e ao suicídio.
Um distúrbio vibratório poderá ter várias causas, e uma delas será o próprio
suicídio em passada existência. Um distúrbio vibratório agudo poderá ocasionar
um estado patológico, um transe cataléptico, tal o médium comum que, quando
esgotado ou desatento da própria higiene mental ou moral ( queda de vibrações e,
portanto, distúrbio vibratório), dará possibilidade às mistificações do animismo
e à obsessão.
Nesse caso, no entanto, o transe cataléptico trará feição de enfermidade
grave, embora não o seja propriamente e será interpretado como ataques
incuráveis, indefiníveis, etc. . O alcoólatra poderá renascer predisposto à
catalepsia porque o álcool lhe viciou as vibrações, anestesiando-as, o mesmo
acontecendo aos viciados em entorpecentes, todos considerados suicidas pelos
códigos da Criação. Em ambos os casos a terapêutica psíquica bem aplicada,
mormente a renovação mental, influindo poderosamente no sistema de vibrações
nervosas, será de excelentes resultados para a corrigenda do distúrbio, enquanto
que a atuação espírita abrirá novos horizontes para o porvir daquele distúrbio,
que evoluirá para o seu justo plano de faculdade anímica. E tudo isso, fazendo
parte de uma expiação, porque será o efeito grave de causas graves, também
assinalará o estado de evolução, visto que, se o indivíduo fosse realmente
superior, estaria isento de padecer os contratempos que acima descrevemos.
Todavia, repetimos, tanto a catalepsia quanto a letargia, uma vez bem
compreendidas e dirigidas, quer pelos homens quer pelos Espíritos Superiores,
transformar-se-ão em faculdades preciosas, conquanto raras e mesmo perigosas,
pois que ambas podem causar o desenlace físico do seu paciente se uma
assistência espiritual poderosa não o resguardar de possíveis acidentes. A
letargia, contudo, presta-se mais à ação do seu possuidor no plano espiritual.
Ao despertar o paciente trará apenas intuições, às vezes úteis e preciosas, das
instruções que recebeu e sua aplicação nos ambientes terrenos. É faculdade comum
aos gênios e sábios, sem contudo constituir privilégio, agindo sem que eles
próprios dela se apercebam, porque se efetivam durante o sono e sob a vigilância
de Espíritos prepostos ao caso.
“A provocação desses fenômenos nada mais é que a ação magnética anestesiando
as forças vibratórias até o estado agudo, e anulando, por assim dizer, os
fluidos vitais, ocasionando a chamada morte aparente, por suspender-lhe,
momentaneamente, a sensibilidade, as correntes de comunicação com o corpo
carnal, qual ocorre no fenômeno espontâneo, se bem que este possa ocupar um
agente oculto, espiritual, de elevada ou inferior categoria. Se, no entanto, o
fenômeno espontâneo se apresentar freqüentemente e de forma obsessiva, a cura
será inteiramente moral e psíquica, com a aproximação do paciente aos princípios
nobres do Evangelho moralizador e ao cultivo da faculdade sob normas espíritas
ou magnéticas legitimas, até ao seu pleno florescimento nos campos mediúnicos. O
tratamento físico medicinal, atingindo o sistema neuro-vegetativo, fortalecendo
o sistema nervoso com a aplicação de fortificantes, etc. , também será de
importância valiosa, visto que a escassez de fluidos vitais poderá incentivar o
acontecimento, emprestando-lhe feição de enfermidade.
Recordações da Mediunidade, recomendações do dr. Bezerra de Menezes.