Fantasia e Realidade
Embora seja o Centro Espírita sagrado instituto de iniciação espiritual,
vezes inúmeras procuramos mais pela necessidade de ajuda que pelo desejo de
aprender.
É quando nos sentimos dominados pela depressão e indefinível sensação de
mal-estar nos oprime; é quando dores não diagnosticáveis nos torturam e o
desânimo nos sitia; enfim, é quando, segundo a terminologia espírita, somos
visitados pela perturbação.
Ao contacto do ambiente balsâmico, sob efeito da palavra amiga de dedicados
orientadores, e experimentando o benefício do passe magnético, aplicado por
especialistas do Além, sentimo-nos reanimados e regressamos ao lar qual se
houvéramos recebido poderosa medicação estimulante — infelizmente mal
assimilada, porque em breve recrudescem aqueles males, a nos distanciarem da
tranquilidade.
É o nosso Carma! — dir-se-ia. Mas semelhante raciocínio nem sempre é
admissível. Assim como o distúrbio da digestão é antes conseqüência do excesso
alimentar do que sintoma de úlceras, nossas freqüentes perturbações refletem
muito mais os desajustes do presente que o desastres do passado. Assim como a
glutonaria é fator de desequilíbrio orgânico, a intemperança mental é porta
aberta para a invasão das sombras.
Por isso, a auto-análise, que possibilite identificar as falhas de nossa
personalidade e seus reflexos na conduta diária, é preliminar indispensável no
esforço da renovação, a fim de que o mal desapareça em definitivo e perdure a
harmonia.
Todavia, nem sempre nos preocupamos com esta questão e, quando o fazemos, é
de forma superficial, distanciada da realidade.
“— Hoje não me sinto bem psiquicamente. Que terei feito de errado ontem?
“Pela manhã não esqueci a oração, e estude “O Livro dos Espíritos” com
atenção. Discuti com um vendedor que pretendia impor mercadoria inferior por
alto preço. Deixei bem claro que não sou tolo!
“Dediquei-me ao serviço no escritório, durante a tarde, sem tempo para
cogitações inferiores. O único incidente de que me recordo é que passei severa
descompostura em alguns subordinados distraídos em conversa. Era preciso manter
a ordem!
“À noite compareci ao serviço mediúnico. A palestra do orientador espiritual
foi magnífica. Quantas lições! Após a sessão, conversei com alguns companheiros.
Lembro-me de que lhes falei a respeito de um confrade. Alertei-os de que se
trata de pessoa mesquinha, que não merece confiança nem respeito.
“Que terei feito de mal?”
Neste breve monólogo podemos observar como é fácil identificar
esclarecimento, disciplina e advertência em três atitudes que a Doutrina dos
Espíritos classificaria, mais acertadamente, como agressividade, prepotência e
maledicência, fatores de sintonia com as esferas inferiores, o grande celeiro de
perturbações.
À medida que nos aprofundamos no estudo da Terceira Revelação, melhor
percebemos a grandiosidade da lição legada por Jesus ao recomendar oração e
vigilância. É indispensável vigiar atentamente nossos pensamentos e ações nos
contatos com o próximo, conscientes de que, sempre que não expressarem pureza,
estaremos a caminho do desequilíbrio.
Quando isso acontecer, a prece sincera, da quem reconhece a própria fraqueza
e deseja o melhor, será o recurso divino capaz de reajustar as emoções, para que
o Bem seja mais forte.
Reformador – maio, 1964