Felicidade e Infelicidade
A dicotomia felicidade e infelicidade, dor e alegria, é tão importante quanto
a do bem e o mal. As religiões classificam a Terra como um lugar de degredo, de
expiação. Marcados pelo pecado original, arrastamo-nos pela vida, e os
sacerdotes e ministros das diversas religiões impõe os seus métodos como meios
de se alcançar a redenção no outro mundo, mas as vezes com a promessa de uma boa
cota de felicidade, ainda para este.
Por outro lado, são muitas as pessoas que ensinam que se pode ser feliz desde
que se queira, bastando pensar positivamente. Isto ajuda bastante, porque,
carregando a culpa de um pecado original, e da fragilidade humana, acrescida por
um “deicídio”, ou seja, o assassinato de Deus, pois segundo a teologia cristã
Jesus de Nazaré foi a encarnação de Deus na Terra, ficamos sujeitos a mil
sofrimentos, desnecessários, por incapacidade de vencer os condicionamentos com
os quais reencarnamos, e que introjetaram em nossa mente desde os primeiros dias
da nossa vida aqui na Terra.
Que bom seria se pudéssemos esvaziar a nossa mente de tudo que ali colocaram
desde que éramos pequeninos, e selecionarmos aquilo que seja realmente útil para
a nossa evolução. Numa linguagem de hoje, precisaríamos deletar os arquivos
inúteis, selecionar e criar novos arquivos, usando um bom antivírus, como o
conhecimento espírita, para evitarmos a perda ou distorção do aprendizado.
Os espíritos responderam a Allan Kardec que a felicidade completa ou
permanente aqui na Terra, é impossível, mas pode-se ter momentos felizes.
No entanto os momentos felizes, quando se tem sensibilidade, fraternidade, é
empanado pela dor, ao ver o sofrimento do próximo. Nossas vitórias quase sempre
eqüivalem a derrota de outrem. Um exemplo simples é uma partida de futebol,
basquete ou qualquer jogo esportivo. Enquanto uma torcida delira com a vitória,
a outra amarga a derrota.
Para cada cidadão que consegue um título universitário, existem milhares de
analfabetos ou cidadãos de segunda classe, que mal aprenderão a escrever o
próprio nome.
Quantas vezes alguém está saudável, forte, pleno de alegria, mas tem em sua
própria família alguém doente, paralisado, canceroso, mentalmente obnubilado.
Talvez poucos, ao degustarem um prato sofisticado, caríssimo, com nome
estrangeiro complicado, feitos por cozinheiros famosos em elegantes
restaurantes, se lembram de que existem milhões de pessoas no mundo, e muitas
ali por perto, que não comem o suficiente para manter as energias, ou mesmo
simplesmente não comem.
Não prezado ouvinte, este não é abordagem do pessimismo. É apenas uma chamada
à consciência, um exame do gozar e sofrer, da felicidade e da infelicidade.
O prazer é ainda uma forma de egoísmo em nosso atual estado evolutivo.
Logicamente não estamos insinuando que devamos ser doentes, ou passar fome, ou
não ter conforto e não estudar para ser solidários aos que nada tem. O que
queremos dizer é que precisamos ser fraternos, e aplicar aquilo que os espíritos
codificadores disseram a Kardec: Do supérfluo dos ricos, muitos pobres se
sustentariam. Mas as riquezas não são apenas valores amoedados, mas também, fé,
compreensão, amizade, amor, inteligência.
Nascemos para sofrer, para pagar nossos débitos perante as leis divinas?
Somos réprobos neste mundo que foi classificado como penitenciária e hospital?
Estamos sujeitos ao pecado original? Afinal, é possível ser feliz aqui na Terra?
Cada uma dessas perguntas suscitariam páginas e mais páginas para análise e
resposta. Em síntese responderíamos que não nascemos para sofrer, mas sofremos!
Sofremos porque o nosso mundo é imperfeito, nós somos imperfeitos. Sofremos
porque erramos, mas erramos porque somos ainda ignorantes e temos pouca
evolução. As desigualdades são acerbadas pela falta de solidariedade,
fraternidade, e pelo império do egoísmo.
A Doutrina Espírita nos ensina que Deus nos criou simples e ignorantes, e
determinou por meio das suas leis que o nosso desenvolvimento se faça através da
encarnação em mundos materiais. Logicamente esses mundos obedecem a uma escala
evolutiva: mundos primitivos para espíritos primitivos. Mundos divinos para
espíritos angélicos. Mas todos começaram pelo primitivo. Entretanto, porque Deus
quis que fosse assim, ninguém poderá responder.
Porém, prezado ouvinte, o que queremos dizer realmente neste editorial é que
a dor, em qualquer uma das suas formas, tem uma mensagem para nós. Decodificar
essa mensagem é tarefa de cada um. Talvez possamos decodificar aquilo que é
comum em todas elas: Evolua! Cresça! Ame incondicionalmente! Confie na
providência divina! Partilhe a sua felicidade, os seus momentos felizes com o
seu próximo. Examine o seu patrimônio moral e intelectual, os seus direitos
adquiridos e ensine todos a conquistá-los.
Podemos dizer que Deus não castiga se entendermos as dores do mundo como
lições preciosas, aprendizado. Precisamos compreender que a vida num corpo
físico é muito importante e devemos valorizá-la, devemos amar e respeitar esse
corpo e não culpá-lo pelos nossos deslizes, pois quem pensa, ama e sente é o
espírito imortal, e não a matéria.
Se você está passando por grandes sofrimentos, não se revolte, nem desanime.
Não se julgue, também, um grande pecador, mas alguém que luta para evoluir. O
peixe, ao lutar para fugir da rede perde muitas escamas. Portanto, a rede do
sofrimento que te aprisiona, não exigirá menores perdas, mas valerá a pena. E
como valerá a pena quando compreendermos o que disse o Rabi Nazareno:
Conhecereis a verdade e ela te libertará.