A Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo) – Parte 11
Jesus foi um mensageiro direto do Criador, um Messias divino; suas virtudes
situavam-se em nível muito acima das possibilidades da humanidade terrestre; não
estava sujeito às fraquezas do corpo, pois o dominava completamente; seu
perispírito era “tirado da parte mais quintessenciada dos fluídos terrestres”.
Tratava-se de um Espírito Superior, desprendido da matéria e sua alma devia
ligar-se ao corpo “senão pelos laços estritamente indispensáveis”; possuía dupla
vista, que devia ser permanente e de excepcional penetração. A pureza de seus
fluídos perispirituais lhe “conferia imensa força magnética, secundada pelo
incessante desejo de fazer o bem”. Jesus não foi um poderoso médium curador,
pois, pela sua superioridade, agia por si mesmo; poderia ser considerado médium
de Deus.
Sonhos
Durante o sono, a alma penetra momentaneamente no mundo espiritual, entrando
em contato com os Espíritos afins, encarnados e desencarnados. Nessas ocasiões,
os Espíritos Protetores lhe transmitem conselhos mais diretos, dos quais muitas
vezes guarda lembrança ao despertar. Nem todos os sonhos, entretanto,
representam avisos da Espiritualidade. “Cumpre se inclua entre as crenças
supersticiosas e absurdas a arte de interpretar os sonhos”.
Estrela dos magos
A descrição de S. Mateus não é passível de verificação. Não poderia tratar-se
de uma estrela, podendo, entretanto, ter sido a aparição de um Espírito sob
forma luminosa, ou a transformação de “uma parte do seu fluído perispirítico em
foco luminoso”.
Dupla vista
Possuía Jesus a faculdade da vista espiritual em grau elevado e as narrações
evangélicas atestam várias passagens em que demonstrava conhecer os pensamentos
das pessoas, através das “irradiações fluídicas desses pensamentos”, refletidas
como num espelho em seus perispíritos. Esta faculdade permitiu ao Mestre indicar
o local exato em que Simão deveria lançar suas redes para enchê-las de peixes,
no episódio da pesca tida por milagrosa. Conhecia as disposições íntimas de
Pedro, André, Tiago, João e Mateus, quando os chamou e imediatamente o
acompanharam. Previu a traição de Judas e adiantou a Pedro que por três vezes o
negaria.
Curas
- Perda de sangue: Na passagem em que uma mulher é curada de hemorragia,
doença de que era vítima há muitos anos, após tocar nas vestes de Jesus, sem
que houvesse deste um ato de vontade, como imposição das mãos ou magnetização,
ocorreu “a irradiação fluídica normal para realizar a cura”. O fluído
terapêutico deve ser dirigido à matéria orgânica a fim de repará-la. Pode
ocorrer pela vontade do curador ou ser “atraído pelo desejo ardente, pela
confiança, numa palavra, pela fé do doente”. A fé a que Jesus se referia era a
força atrativa desenvolvida pela doente que lhe permitiu a cura. A falta de fé
“opõe à corrente fluídica uma força repulsiva” que lhe paralisa a ação. Por
esta razão, pode acontecer que de dois doentes que tenham a mesma enfermidade,
somente um venha a ser curado. - Cego de Betsaida: Procedeu Jesus a duas aplicações nos olhos do cego, que
gradualmente recuperou a visão, evidenciando-se o efeito magnético, com
recuperação “gradual e conseqüente a uma ação prolongada e reiterada, se bem
que mais rápida do que na magnetização ordinária”. - Paralítico: No caso da cura do paralítico de Cafarnaum, em que o Mestre
lhe disse: “Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus pecados”
entende-se que aquela doença representava expiação de males praticados em
existências anteriores. Equivalia a Jesus dizer-lhe: “Pagaste tua dívida; a fé
que agora possuis elidiu a causa de tua enfermidade”. - Os dez leprosos: Quando Jesus curou dez leprosos próximo a Galiléia e
somente um deles – um samaritano – retornou para agradecer a Deus a graça
recebida, deu uma lição e um exemplo de tolerância, pois curou indistintamente
judeus como também samaritanos que eram desprezados pelos primeiros. O
samaritano demonstrou sua fé e reconhecimento vindos do âmago do coração,
enquanto que os demais demonstraram ingratidão e a dureza de seus corações,
sendo de se supor que não tenham se beneficiado da graça concedida,
retornando-lhes os seus males. - Mão seca: Os fariseus observavam se Jesus curaria um doente em dia de
sábado, a fim de o acusarem. Ordenando ao doente se dirigisse ao centro do
templo, perguntou aos fariseus se era permitido naquele dia “fazer o bem ou o
mal, salvar uma vida ou tirá- la”, ao que não lhe responderam. Sentindo a
dureza de seus corações, encarou-os, disse ao homem para estender a mão, e
curou-o. - A mulher curvada: Ficaram também confusos os adversários de Jesus quando,
ao ensinar em um sábado numa sinagoga, curou uma mulher possuída há dezoito
anos por um Espírito que lhe deixava totalmente curvada. Tendo ficado
indignado o chefe da Sinagoga, inquiriu-lhe Jesus quem deixaria de aliviar a
carga de seu boi ou jumento, dando-lhe de beber, somente por se tratar de um
dia de sábado, e por que então não poderia libertar aquela doente da
influência daquele Espírito. - O paralítico da piscina: Em Jerusalém havia uma piscina chamada Betesda
alimentada por uma fonte natural intermitente com propriedades curativas.
Acreditava-se que, a agitação das águas era produzida por um anjo do Senhor, e
quem primeiro tivesse nelas entrado seria curado de qualquer doença. Encontrou
Jesus, próximo à piscina, um homem paralítico há 38 anos, e perguntou-lhe se
desejava curar-se; disse-lhe:”Levanta-te, toma o teu leito e vai-te”. Mais uma
vez protestaram os fariseus porque era sábado. Reencontrando o homem que
curara, acrescentou jesus: “Vês que foste curado; não tornes a pecar, para que
te não aconteça coisa pior”. Aos fariseus disse que Deus não cessa em nenhum
momento suas obras pelo que também ele obrava incessantemente. Jesus deu a
entender ao homem que sua doença era uma punição por seus erros, avisando-lhe
que poderiam retornar seus males caso não se modificasse. Procedia a curas nos
sábados a fim de protestar contra o fanatismo dos fariseus e mostra- lhes que
a verdadeira virtude está nos sentimentos e não nas práticas exteriores. - Cego de nascença: Mais uma vez num sábado encontrou Jesus um cego de
nascença e, fazendo um pouco de lama com saliva e terra, untou-lhe os olhos e
mandou-o lavar-se na piscina de Siloé, após o que o homem passou a enxergar
claramente. Levaram-no aos fariseus que, após interrogá-lo e a seus pais, o
expulsaram da sinagoga, por não ter admitido ter sido “um possesso do demônio
aquele que o curara e porque rende graças a Deus pela sua cura”. Mesmo nos
dias atuais as curas efetuadas pelo Espiritismo são tidas como diabólicas
pelas religiões tradicionais.Haviam os discípulos perguntado a Jesus se aquele
homem nascera cego por algum pecado seu ou de seus pais, referindo-se
evidentemente a uma vida anterior. A resposta negativa indica que se tratava
de uma “provação apropriada ao progresso daquele Espírito”. A lama empregada
serviu de veículo ao fluído espiritual que produziu a cura. - Numerosas curas operadas por Jesus.- Pregando nas sinagogas, Jesus
procedia a curas no meio do povo, provando que “o verdadeiro poder é o daquele
que faz o bem”. Aliviava ossofrimentos dos homens e, por isso, fazia numerosos
prosélitos. Quando João Batista mandou perguntar-lhe se era o Cristo,
respondeu: “Ide dizer a João: os cegos vêem, os doentes são curados, os surdos
ouvem, o Evangelho é anunciado aos pobres”. Assim também o Espiritismo cura,
além dos males físicos, as doenças morais, fazendo adeptos entre aqueles que
“recebem a consolação para suas almas” e não entre aqueles que pretendem
apenas observar fenômenos extraordinários, não lhe reconhecendo a força moral.
Possessos
Juntamente “com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais
numerosos atos de Jesus”. Sua superioridade era tal que à sua ordem não podiam
os Espíritos resistir e se afastavam efetivamente de suas vítimas. Eram muitos
os casos de possessões na Judéia àquele tempo, evidenciando-se uma invasão de
Espíritos maus em caráter de epidemia. Diziam os fariseus que era com auxilio de
Belzebu, príncipe dos demônios, que Jesus expulsava os maus Espíritos, ao que o
Mestre mostrou a insensatez que seria se Satanás expulsasse a si mesmo.
Ressurreições
- A filha de Jairo.- Jesus foi chamado por um chefe de sinagoga para impor
as mãos sobre sua filha de 12 anos que estava para morrer. Lá chegando ordenou
que as pessoas que choravam sua morte se afastassem dizendo-lhes que não
estava morta , mas apenas adormecida. Tomando-lhe as mãos ordenou que se
levantasse o que ela imediatamente fez e se pôs a andar. - Filho da viúva de Naim: Ao se aproximar da cidade de Naim, deparou Jesus
com um cortejo fúnebre; tratava-se de um rapaz, filho único de uma viúva.
Compadecido com o sofrimento materno, Jesus ordenou ao moço que se levantasse
a que este sentou-se e começou a falar para espanto dos presentes. Tal fato,
considerado milagroso, espalhou-se por toda a Judéia e circunvizinhanças.
Assim como também a ressurreição de Lázaro, os casos citados evidenciavam ter
havido ataque de letargia ou síncope, pois, seria contrário às leis da Natureza
o retorno ao corpo de um Espírito após rompido o laço perispirítico. Era costume
na época sepultar-se logo em seguida alguém que deixasse de respirar,
considerando-o morto. (Sabe-se que há casos de letargia que se prolongam por
mais de oito dias). Houve então nos casos citados a cura produzida pelo Mestre e
não ressurreição.
Jesus caminha sobre a água
Jesus se dirigiu “caminhando por sobre o mar” aos discípulos que dentro de um
barco, se viam amedrontados com a fúria das águas; Pedro pediu-lhe para fazer o
mesmo, a que o Mestre mandou-o ir ao seu encontro. Deu alguns passos, vacilou e
começou a afundar, sendo socorrido por Jesus, que lhe disse: “Homem de pouca fé!
Por que duvidaste?”. O fenômeno de levitação de um ser humano produz-se “sob
ação das leis da Natureza”, por efeito da mesma “força fluídica que mantém no
espaço uma mesa, sem ponto de apoio”. Poderia também ter ocorrido a aparição
tangível de Jesus, estando longe seu corpo real.
Transfiguração
Jesus proporcionou a Pedro, Tiago e João a oportunidade inesquecível de
observarem fenômeno em que se transfigurou totalmente, realçado de excepcional
fulgor, em razão da extrema pureza de seu perispírito. Fenômeno também
inteiramente explicável dentro da ordem da Natureza, foi a aparição de Moisés e
Elias.
Tempestade aplacada
Enquanto atravessava um lago com seus discípulos, Jesus adormeceu. Diante de
súbita tempestade que ameaçava virar o barco, acordaram-no assustados ao que
Jesus “falou, ameaçador, aos ventos e às ondas agitadas e uns e outras se
aplacaram, sobrevindo grande calma”, para espanto e admiração dos discípulos.
Não é possível afirmar-se “se há ou não inteligências ocultas presidindo à ação
dos elementos”. Jesus, entretanto, dormia tranqüilamente, demonstrando segurança
advinda de que seu Espírito “via não haver perigo nenhum e que a tempestade ia
amainar”.
Bodas de Caná
Tal acontecimento é referido somente por S. João, não tendo causado impressão
maior. Se realmente ocorreu, foi o único no gênero, pois, Jesus não era afeito a
demonstrações materiais que aguçassem a curiosidade, próprias dos mágicos. Mais
racional é se considerar tal fato como uma parábola destinada a levar
ensinamentos aos presentes.
Multiplicação dos pães
Para as pessoas sérias essa narrativa é vista com sentido alegórico, “em que
se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo”. Pode-se também
admitir que as pessoas presentes, ávidas de ouvir as palavras de Jesus,
fascinadas “pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o
cercavam”, não tenham tido “necessidade material de comer”. Sabia então Jesus
que poucos pães bastariam, mostrando aos discípulos “que também eles podiam
alimentar por meio da palavra”. Posteriormente, nas passagens denominadas “O
fermento dos fariseus” e “O pão do céu”, ficou confirmado o fato de que o Mestre
não se referia a pães materiais, quando disse aos discípulos: “Ainda não
compreendeis que não é do pão que eu vos falava…” afirmando que se trabalhasse
principalmente para conseguir o “pão do céu”, e dizendo: “Eu sou o pão da vida;
aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede”.
Tentação de Jesus
O episódio da tentação de Jesus não corresponde a uma ocorrência física; deve
ser entendida como uma parábola, a fim de mostrar aos homens sua falibilidade,
devendo vigiar sua mente “contra as más inspirações a que, pela sua natureza
fraca, é impelida a ceder”, devendo ainda prevenir-se contra os perigos da
ambição. Também inadmissível seria a tentação moral do Cristo, pois, “o Espírito
do mal nada poderia sobre a essência do bem”. Assim também as parábolas do filho
pródigo e do bom samaritano mostram a misericórdia do Pai face o arrependimento
do filho que, tendo sucumbido às tentações mas, praticando a lei de amor, vale
mais aos Seus Olhos do que os irmãos que o desprezaram.
Prodígios por ocasião da morte de Jesus
Com relação às trevas que teriam ocorrido por ocasião da morte de Jesus, tal
fato não foi notado, pois, não consta em citações de nenhum historiador; poderia
ter havido obscurecimento do Sol causado pelas “manchas físicas que lhe
acompanham o movimento de rotação”, sem causar no entanto trevas. Pode também
ter havido algumas aparições de Espíritos naquela ocasião, o que também seria um
fenômeno natural. “Compungidos com a morte de seu Mestre, os discípulos de Jesus
sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares”, que em outra ocasião
não teriam notado.
Aparição de Jesus, após a sua morte
Jesus apareceu após sua morte, em várias ocasiões, descritas com detalhes por
todos os evangelistas, não se podendo duvidar de tais fatos que, sendo
semelhantes a muitos fenômenos antigos e atuais, são explicáveis “pelas leis
fluídicas e pelas propriedades do perispírito” o qual chega em certos casos a
tornar-se tangível. As circunstâncias dos aparecimentos e desaparecimentos de
Jesus, algumas vezes em recintos fechados, sua linguagem breve e sentenciosa, a
sensação de surpresa e medo causada pela sua presença, tudo isto demonstra que
“se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto
pelos que ele quis que o vissem”.
Seu maior milagre foi “a revolução que seus ensinos produziram no mundo”.
Jesus era pobre, nascido no seio de um pequeno povo sem expressão política ou
literária, pregou sua doutrina durante apenas três anos, tempo esse em que foi
“desatendido e perseguido pelos seus concidadãos”. Foi “obrigado a fugir para
não ser lapidado”, traído por Judas, renegado por Pedro – seus apóstolos –
supliciado como um criminoso; entretanto, mesmo sem nada escrever, “sua palavra
bastou para regenerar o mundo”; “sua doutrina matou o paganismo onipotente e se
tornou facho da civilização”.
Desaparecimento do corpo de Jesus
Tal fato foi constatado no terceiro dia após a crucificação, pelas mulheres
que foram ao sepulcro. Alguns consideraram um fato milagroso, outros atribuíram
“a uma subtração clandestina”.
Há a teoria de que Jesus não teria tido um corpo material e sim um “corpo
fluídico” sendo aparentes seu nascimento, atos de sua vida e sua morte. Assim se
explicaria o desaparecimento de seu corpo do sepulcro. Entretanto, no período
anterior à sua morte “tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas
condições ordinárias da vida”. Durante toda a sua vida revelou-se com os
“caracteres inequívocos da corporeidade”, sendo “acidentais os fenômenos de
ordem psíquicas”. “Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser
fluídico”. Supliciado e morto, “todos o puderam ver e tocar”. Seu corpo foi
sepultado normalmente, “donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus
morresse, é que carnal era o seu corpo”.
Por outro lado, sendo o corpo “a sede das sensações e das dores físicas, que
repercutem no centro sensitivo ou Espírito”, segue-se que um Espírito sem corpo
físico “não pode experimentar os sofrimentos”. Não se pode duvidar que Jesus
sofreu materialmente, pois de outra forma a paixão, sua agonia, seu último brado
teria sido uma comédia indigna de um ser tão superior. “Jesus, pois, teve, como
todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos
fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a
existência”.
(Publicado no Boletim GEAE Número 436 de 30 de abril de 2002)