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A Gênese Segundo o Espiritismo (Resumo) – Parte 9

Etimologicamente milagre significa: admirável, coisa extraordinária,
surpreendente. “Um ato do poder divino contrário às leis da Natureza,
conhecidas
“. Para a religião, o milagre tem origem sobrenatural, é
inexplicável, insólito, isolado, excepcional. Se uma pessoa estiver
aparentemente morta, com vitalidade latente e a Ciência ou uma ação magnética
conseguir reanimá-la, para o leigo ocorre um milagre, mas para pessoas
esclarecidas dá-se um fenômeno natural.

Muitos fenômenos foram levados a categoria de milagres até que a Ciência
revelou novas leis, restringindo assim “o círculo do maravilhoso“, que
não mais podendo se firmar no domínio da materialidade, refugiou-se no da
espiritualidade. O Espiritismo ao demonstrar que “o elemento espiritual é uma
das forças vivas da Natureza
” atuando sobre o elemento material, estando
também sujeito a leis, faz com que o maravilhoso deixe de ter razão de ser.
Pode-se então dizer “que passou o tempo dos milagres“.

O Espiritismo não faz milagres

Sendo o Espírito a alma sobrevivente à morte do corpo, sua existência é
perfeitamente natural, durante ou após a encarnação. Como o princípio espiritual
e material “reagem incessantemente um sobre o outro“, formando um
conjunto harmonioso, representam duas partes de um todo, “tão natural uma
quanto a outra
“.

Tanto encarnado como desencarnado o Espírito atua sobre a matéria através do
perispírito. Quando desencarnado utiliza-se de um intermediário para sua
manifestação: o médium, assim como um intérprete para quem não conhecesse
determinada língua. Tal manifestação está sujeita a leis, tanto quanto os
fenômenos elétricos, luminosos, acústicos, etc. que, enquanto não explicados
pela Ciência deram origem a inúmeras crenças supersticiosas. Um efeito físico
como o de uma mesa que se ergue e é mantida no espaço sem ponto de apoio é
explicável pela ação de um fluído magnético submetido à ação de um Espírito,
tanto quanto o gás hidrogênio contrabalança o peso de um balão que se eleva no
ar. Como os fenômenos espíritas sempre existiram através dos tempos, entraram no
domínio do sobrenatural, gerando crenças supersticiosas; explicados
racionalmente, passaram ao domínio do natural. Atua o Espiritismo no campo da
espiritualidade, demonstra o que é possível como também o que não é, deixando
entretanto margem aos conhecimentos reservados ao futuro.

Analisando as manifestações da alma encarnada ou desencarnada (espírito), em
que revela sua existência, sobrevivência e individualidade, chega o Espiritismo
ao conhecimento da natureza e atributos da alma, bem como das “leis que regem
o princípio espiritual
“, de modo científico, evidenciando no entanto aqueles
acontecimentos tidos como fenômenos sobrenaturais, resultantes da imaginação de
fanáticos ignorantes ou ainda produzidos pelo charlatanismo.

A característica dos fenômenos espíritas é de serem a maioria das vezes
espontâneos e independentes das idéias das pessoas envolvidas. Alguns podem, em
dadas circunstâncias, ser provocados por médiuns conscientes ou inconscientes,
revestindo-se portanto de capital importância os fenômenos espontâneos, como p.
ex., o sonambulismo natural e involuntário, “visto não se poder suspeitar da
boa- fé dos que os obtêm
“.

Faz Deus milagres?

Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no
Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres,
porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário
derrogá-las
“.

Se realmente existisse o Espírito do mal (Satanás) com o poder de “sustar
o curso das leis naturais
” para seduzir os homens, então Deus não seria
Onipotente e lhe faltaria a soberana bondade. Todos os fatos tidos por
miraculosos são efeitos naturais causados por espíritos desencarnados ou
encarnados, no uso de sua inteligência e conhecimentos adquiridos, para o bem ou
para o mal, cfe. sejam bons ou perversos. Assim o demonstra o Espiritismo,
explicando os fenômenos no campo do magnetismo, sonambulismo, êxtases, visões e
aparições, percepções a distância, curas instantâneas, levitações, comunicações
com o mundo invisível.

O sobrenatural e as religiões

As religiões não podem ter como fundamento o sobrenatural, sob pena de verem
minadas totalmente suas bases à medida em que fatos tidos como miraculosos
recebem explicação racional, levando-os do maravilhoso para o domínio do
natural. Deve o maravilhoso ser substituído pelo princípio espiritual, “sem o
qual não há religião possível
“. As bases sobre as quais se assenta o
Espiritismo são as imutáveis leis de Deus, às quais obedecem os princípios
espiritual e material.

Em lugar de fazer-se acreditar em “pedras que suam sangue“, “estátuas
que piscam os olhos e derramam lágrimas
” o poder de Deus deve ser mostrado
na infinita sabedoria que a tudo preside, na organização dos fenômenos da
Natureza, na bondade e solicitude dispensada igualmente a todos, na sua
previdência , no bem constatado após um mal aparente e temporário. O mal é obra
do homem e não de Deus. Em vez de levar susto com as penas eternas, devem as
religiões evidenciar a bondade divina, transmitindo a certeza de que se pode
redimir e reparar o mal praticado. As descobertas da Ciência representam a
revelação das leis divinas. Só assim serão os homens “verdadeiramente
religiosos, racionalmente religiosos
“.

(Publicado no Boletim GEAE Número 434 de 2 de abril de 2002)