História do Cristianismo XIII
O Renascimento (1400-1600)
Primeiras Sementes da Revolta
O Cisma na Igreja: a Revolta Luterana
A Contra-Reforma
1 – O Renascimento (1400-1600)
Ao fim do séc. XV, na Itália, e ao fim do séc. XVI, nas demais partes da
Europa, as mais notáveis características da vida cultural da Europa Ocidental
eram seu secularismo, seu humanismo e seu individualismo.
Essa metamorfose – da tendência religiosa oni-abrangente e autoritária do
séc. XIII para a tendência secular, humanista e individualista do séc. XVI – é
comumente chamada Renascença, movimento de renovação literária, artística
e científica que se operou na Europa, sob a influência da cultura antiga, então
em voga. Foi particularmente facilitada pela descoberta da Imprensa, que
vulgarizou as obras dos grandes gênios da Antiguidade, e pela invenção da
gravura, que vulgarizou as obras de arte.
Além disso, esse período marca também o enfraquecimento do poder papal e
temporal, o fim do Feudalismo e o princípio do Capitalismo, a plasmação das
nacionalidades. Representa, pois, a transição entre a Idade Média (a que pôs
termo) e a Moderna, que inaugura. Em meio a tal cenário, sofreu o artista
renascentista o impacto de três diferentes ordens de coisas: a tradição
espiritual da Idade Média, o intelectualismo grego e o individualismo
materialista romano.
O ingrediente mais precioso da concepção renascentista foi o humanismo,
que envolvia um interesse geral pela humanidade, com suas virtudes, seu
temperamento e sua sensibilidade, ou seja, é uma atitude que se situa
expressamente numa perspectiva antropocêntrica, elevando o sentido da dignidade
do indivíduo e dos valores da vida na Terra.
2 – Primeiras Sementes da Revolta
A Alemanha, em fins do séc. XV e início do séc. XVI, presencia a derrocada do
poder feudal e uma série de renovações na estrutura sócio-política-econômica.
Começa a surgir uma estrutura capitalista e é aí que têm origem os futuros
monopólios. É com eles que os donos do dinheiro passam a dominar os donos das
terras. Os banqueiros imiscuem-se em todos os negócios. Com isso, riquezas
imensas acumularam-se nas mãos de uns poucos e o poder político acompanhava-as.
O sistema político fora até então apoiado nos cavaleiros, que, como vassalos
rurais dos grandes senhores feudais, suportavam praticamente toda a estrutura do
poder e mantinham funcionando o mecanismo social. Com o tempo, pressionados pelo
esvaziamento político e econômico, muitos cavaleiros passaram também a assaltar,
desenvolvendo banditismo generalizado. Eram os “barões ladrões”.
Com isso, logicamente, a Alemanha era uma colcha de retalhos de muitos e
poderosos interesses, em conflito permanente e implacável. Ninguém tinha
autoridade generalizada e indiscutível, ou, pelos menos, razoavelmente
respeitada. Se o Imperador (católico, naturalmente) tivesse maior autoridade
sobre os príncipes alemães, a Reforma teria sido esmagada, ou, no mínimo,
retardada. Era muito forte o contraste entre o poder discricionário dos
príncipes e a fraqueza dos imperadores, que, embora possuidores de título
pomposo, eram, em grande parte, figuras decorativas. Nem mesmo dispunham de uma
estrutura econômico-financeira e tributária para sustentar as exigências do
poder.
Além disso, os imperadores eram eleitos pelos príncipes, o que, em larga
margem, os tornava dependentes dos seus eleitores, a quem deveriam cortejar como
qualquer vereador moderno, mesmo porque dependiam de suas tropas quando um
perigo maior ameaçava o Império.
Por outro lado, a Igreja era o grande poder daquele tempo na Europa, tanto no
campo estritamente religioso como no político, social e econômico. Não era mais
a Igreja dos Apóstolos e dos Mártires que sofria a opressão terrível do poder
civil nem a Igreja medieval que partilhava o poder civil, mas a Igreja
transviada, que dominava todos os poderes.
Daniel-Rops, no quarto volume da sua vasta “História da Igreja do Cristo”,
identifica três aspectos distintos na crise que havia tomado conta da Igreja: a
crise de autoridade, a crise de unidade e a crise de espírito. Da primeira
resultou o cisma; da segunda, o desmembramento da cristandade, que perdeu o ramo
oriental da Igreja; da terceira, “o desmoronamento das bases cristãs”, pelo
desgaste moral daqueles que se diziam representantes do Cristo na Terra.
A custo podemos imaginar, nos nossos dias – escreve Rops -, o poder que
possuía este mundo clerical e a influência que ele exercia em todos os domínios.
Fornecendo largamente os efetivos necessários para o serviço das paróquias, das
capelas e dos mosteiros, a inumerável milícia dos que haviam recebido a tonsura
(1) – e que, por isso, beneficiavam-se de preciosos privilégios
– encontrava-se ainda em toda parte: na corte dos reis, nos castelos
principescos, nas Universidades e na solidão dos eremitérios. Era sobre um
verdadeiro exército de clérigos – um décimo talvez da população adulta da Europa
– que a autoridade da Igreja se apoiava.
No cimo dessa pirâmide de poder, sentava-se o Papa, com um prestígio imenso,
incontestado. O Papa era considerado o herdeiro de São Pedro e ungido por Deus,
sobrepondo-se aos mais poderosos imperadores, que não eram considerados
realmente investidos no poder, senão depois de consagrados, ungidos e coroados
pelo Papa ou seu representante autorizado.
Paralelamente, desenvolveu-se o que Rops chama de “proliferação do fisco
pontifício”. Para suprir e alimentar os cofres, sempre ávidos, da Igreja, quase
todos os recursos passaram a ser válidos, desde a arrecadação dos dízimos –
instituído por ocasião das cruzadas – até os direitos de despojo, que incidiam
sobre a herança dos prelados (2) falecidos.
Mesmo assim, porém, os orçamentos eram sempre deficitários e novos recursos
foram criados pela inesgotável inventiva dos “fiscalistas” da Igreja, como, por
exemplo, os “rendimentos que os bispos e outros dignitários auferiam por ocasião
das visitas canônicas que faziam aos estabelecimentos que lhes estavam
confiados”. A Igreja tornara-se um governo civil como os outros, com
secretarias, um corpo de funcionários, diplomatas e técnicos de muitos ofícios.
É uma época caracterizada pela mistura de um misticismo doentio com os
maiores desregramentos morais. É a simonia (3) que avassala o
seio da Igreja. A Igreja do Castelo de Wittenberg tinha 19.000 relíquias, das
mais disparatadas origens e supostamente ligadas aos mais elevados momentos
históricos do Cristinanismo. Há um comércio desenfreado de ossos de santos. Há
pedaços de pão que sobraram da Ceia final de Jesus com seus apóstolos.
A ignorância generalizada das legítimas raízes do Cristianismo, tal como as
preservaram os Evangelhos, é uma constante motivação para os mais terríveis
transviamentos. A bruxaria amplamente se divulga e se pratica, de tal modo que
decretos conciliares proíbem que as mulheres “voem de noite a cavalo sobre um
pau para irem celebrar festas do Demônio”. Pode-se, hoje, imaginar com que
facilidade se misturavam aí fenômenos autênticos, explorações, mistificações e
fantasias.
A Igreja Católica define a indulgência como “remissão de Deus a uma punição
temporal que ainda se deve, depois que a culpa foi perdoada”. Ou seja, o culpado
pleiteia o perdão e o consegue, mas não se livra da punição ou, como diríamos em
linguagem espírita, da reparação. Acontece, porém, segundo os ensinamentos da
Igreja, que o débito correspondente à punição poderia ser resgatado de outras
maneiras, através de uma sutil e perigosa invenção teológica chamada “thesaurus
supererogationes perfectorum”, ou seja, um tesouro espiritual inesgotável,
formado pelos méritos do Cristo e pelas boas obras superabundantes dos santos,
vastíssima acumulação de graças que fora confiada aos chefes da Igreja para
serem distribuídas amplamente pelos fiéis, segundo suas necessidades. Essa
indulgência, no sentido de remissão ou dispensa, poderia ser plenária (total) ou
parcial. Estava ao alcance dos vivos e dos mortos, porque poderia também ser
pleiteada em favor das “almas do purgatório”. A Igreja atribuiu-se esse poder de
“ligar e desligar” e “perdoar ou confirmar o pecado”, invocando os conhecidos
versículos de Mateus (16:19 e 18:18) e João (20:23). A questão é que os textos
possuem conotações espirituais, cujo sentido se perdeu ao longo dos séculos.
Foram dirigidos aos seguidores imediatos, amigos pessoais de Jesus, seus
verdadeiros apóstolos, que, providos de “dons espirituais”, podiam, com relativa
facilidade, reconhecer no ser humano aquelas condições que indicavam o fim da
reparação cármica.
E ainda que a teoria da indulgência fosse válida, em princípio, sua prática
degenerou completamente, pois virou fonte de renda e fator de corrupção
incontrolável. Estava descoberta e implantada a doutrina perigosa e lamentável
de que se poderia trocar dinheiro por pecados, ou seja, resgatar erros
clamorosos mediante contribuição em dinheiro, pois foi se tornando cada vez mais
difícil convencer a cupidez humana, de um lado, e a atração pelo pecado, de
outro, de que a indulgência pressupunha o perdão e o arrependimento.
É certo que muito dinheiro foi aplicado na construção de enormes catedrais,
bem como hospitais, universidades, escolas e até obras públicas, como pontes,
etc., mas parcelas substanciais começaram a ser desviadas para as bolsas das
autoridades eclesiásticas e dos coletores, que se chamavam quaestores.
Ao tempo de Lutero, o comércio das indulgências era amplo, aberto, feito às
claras e sem nenhum escrúpulo, E, a despeito do clamor que a Reforma fez
levantar contra essa indigna mercantilização, a venda de indulgências prosseguiu
ainda por alguns decênios, até o Concílio de Trento, em 1562, quando se
processou o movimento chamado Contra-Reforma.
3 – O Cisma na Igreja: a Revolta Luterana
A Reforma protestante do séc. XVI originou-se no desejo de recuperar a vida e
a vitalidade da Igreja e do Novo Testamento, deformada, segundo os reformadores,
pelo poder temporal do papado, a imoralidade do clero e por desvios
doutrinários. Esse movimento já havia sido preparado por diversos fatores, a
começar pelas pregações de Wycliffe e João Huss.
A fagulha que iniciou o levante religioso conhecido da Reforma ou Revolta
Protestante, foi uma disputa entre Martinho Lutero (1483-1546), obscuro monge
agostiniano ligado à Universidade de Wittenberg, na Saxônia, e João Tetzel,
agente e negociador papal. O debate entre eles girou sobre certas questões
relativas ao costume da Igreja de “vender” indulgências.
De condição humilde, filho de um mineiro, Lutero teve sorte bastante para
receber educação universitária em Erfurt. Era homem de aguda inteligência, com o
dom de conquistar seguidores, mas também pessoa de profundas e explosivas
emoções e gênio variável. Na idade de 22 anos, experimentou uma “conversão” e
fez votos monásticos em 1506. Uma visita a Roma revelou-lhe a corrupção da
Igreja e sua própria experiência religiosa levou-o a crer que a salvação
residia, não nos sacramentos e nas “boas ações” prescritos pela Igreja, mas pura
e simplesmente na graça de Deus, dada gratuitamente a quem quer que tivesse
completa fé em Deus e em Sua bondade. Encontrou apoio para essa convicção numa
afirmativa de Santo Agostinho de que a graça de Deus não se ganha com boas
obras, o que parecia confirmar a opinião de Lutero de que a salvação é
conseguida exclusivamente pela fé.
Essa doutrina esposada por Lutero feria o próprio coração do sistema
sacerdotal da Igreja. Se, de fato, a fé sozinha fosse suficiente para a
salvação, então os homens não necessitavam do ministério dos padres nem de tomar
parte nos sacramentos. Uma vez tornadas públicas as opiniões de Lutero só
restava à Igreja rotulá-lo de herege.
De acordo com a doutrina da Igreja, em sua origem, a indulgência não dava a
ninguém permissão para pecar sem sofrer punição, nem beneficiaria a alma de quem
sinceramente não se arrependesse dos pecados de que era culpado. Contudo, essas
sutilezas da doutrina não eram claramente explicadas às pessoas que adquiriam
indulgência.
Alberto de Hohenzollern havia sido eleito Arcebispo de Magdeburgo e Mogúncia,
e ao assumir o cargo, o novo arcebispo era obrigado, pelo costume da Igreja, a
pagar ampla soma ao Papado e, para permitir-lhe os meios de levantar essa
importância, o papa dera-lhe permissão de negociar indulgências com os fiéis. O
novo arcebispo entregou a negociação delas a João Tetzel, agente Papal, que
mostrou ser um negociante enérgico, mas não muito escrupuloso. E sua avidez em
negociar foi aumentada em virtude de um arranjo com o arcebispo, que lhe
permitia guardar, como sua comissão, uma porcentagem sobre todo o dinheiro que
levantasse.
Isso foi demais para Martinho Lutero. Correu a denunciar a idéia de que um
simples pedaço de papel pudesse conquistar a salvação para os homens e a afirmar
sua própria convicção de que esta só podia vir de genuíno arrependimento dos
pecados e firme fé em Deus. Expôs essas idéias em forma de noventa e cinco
teses, ou afirmações, que se prontificou a defender em debate público e, a 31 de
outubro de 1519, pregou um papel em que escrevera as teses à porta da Igreja de
Wittenberg. A repercussão das teses de Lutero foi surpreendente, pois parecia
dizer coisas que muitas pessoas na Alemanha estavam pensando.
Alarmado com esse tumulto, o papa Leão X ordenou que os agostinianos
disciplinassem o Irmão Martinho e, ao mesmo tempo, baixou uma declaração oficial
explicando a doutrina das indulgências. Levado ante um legado papal, Lutero
recusou retratar-se. Contudo, escapou a ser punido por sua heresia por ser amigo
do Eleitor da Saxônia, que o protegeu das autoridades eclesiásticas.
Com o apoio de muitos líderes políticos e humanistas alemães, Lutero passou a
atacar ainda outros princípios e práticas da Igreja. Tornado completo seu
rompimento com a Igreja Católica, começou Lutero a organizar seus seguidores
numa nova Igreja, para tomar o lugar da antiga. Nessa organização, introduziu
ele certo número de inovações em matéria de práticas – principalmente, permitiu
que o clero se casasse. Quanto à eucaristia, contudo, entenderam os reformistas
que fora realmente instituída, porém, sob duas espécies, isto é, pão e vinho.
Nada de hóstia, portanto. Reviu, também, pontos de doutrina de acordo com suas
próprias convicções. Assim, negou que a confirmação, o matrimônio, a extrema
unção e a ordem fossem sacramentos. Manteve os outros três dos sete sacramentos
tradicionais: batismo, penitência e eucaristia. Contudo, mudou o sentido de
“penitência” para “arrependimento” e substituiu por um novo princípio, o da
“consubstanciação”, o tradicional da “transubstanciação”, para explicar a
miraculosa mudança do pão e do vinho na carne e no sangue de Cristo, no rito
comemorativo da Última ceia.
A Reforma consolidava-se e expandia-se. Lutero, secundado pelo seu
incondicional amigo Melanchthon, reiniciou a tradução do Velho Testamento, há
algum tempo interrompida. Melanchthon estudava o texto grego e Aurogallus, o
hebraico, e, às vezes, no dizer de Lutero, despendiam “quatro dias para escrever
três linhas”, tal era o cuidado em verter ao alemão o verdadeiro sentido das
palavras, pois para Lutero a Bíblia era a única autoridade em matéria de
religião.
O rompimento de Martinho Lutero com o catolicismo romano não foi um fenômeno
isolado, mas uma de várias rebeliões religiosas que ocorreram mais ou menos ao
mesmo tempo em diversos lugares. O sucesso do luteranismo deu encorajamento às
outras rebeliões, mas estas bem poderiam ter-se verificado sem tal estímulo,
pois a crítica à antiga Igreja estava no ar, em toda a Europa católica.
A teologia de Lutero concentra-se na doutrina paulina da justificação pela
fé. Com isso Lutero ressaltava a obra salvadora de Deus em Cristo sem qualquer
reconhecimento dos méritos das obras humanas. Vê o homem submerso em pecado,
distanciado de Deus, incapacitado de alcançar a salvação. Somente pela graça
pode o homem aproximar-se de Deus e ser salvo, não obstante o seu pecado. O
homem se apropria dessa graça através da fé e passa a viver o Evangelho com
absoluta liberdade. A fé é um milagre e como tal não pode ser entendida por
nossos critérios racionais comuns. A justificação pela fé significa que Deus
aceita o pecador e não que o homem, ao ser aceito, deixe de ser pecador. O que
importa, logo se vê, é a atitude de Deus, a iniciativa que Ele toma em Cristo em
favor do homem.
Duas das mais importantes entre essas rebeliões, aconteceram na Suiça,
primeiramente sob a liderança de Ulrico Zwinglio (1484-1531) e, posteriormente,
com João Calvino (1509-1564).
4 – A Contra-Reforma
A Igreja Católica Romana fora abalada em seus fundamentos pela revolta
iniciada por Lutero, Zwínglio e Calvino. Essa catástrofe, que representava a
perda da maior parte da Europa Ocidental, induziu os líderes do catolicismo a
fazerem um tríplice esforço a fim de restituir à Igreja sua antiga posição de
autoridade universal. Um desses esforços verificou-se no Concílio de Trento,
onde os principais eclesiásticos da Cristandade católica empreenderam a
reafirmação da doutrina católica. O segundo foi a organização da ordem
missionária militante denominada Companhia de Jesus, os jesuítas. A terceira foi
o renascimento do tribunal eclesiástico chamado Inquisição, que fora o
instrumento tradicional para assinalar e extirpar a heresia.
O Concílio de Trento reuniu-se em 1545, convocado pelo Papa Paulo III, para
examinar meios e modos de combater o protestantismo. Foi encarregado de três
tarefas: resolver as disputas doutrinárias envolvidas na divergência entre
católicos e protestantes; varrer os abusos morais e administrativos dentro da
própria Igreja; e organizar uma nova cruzada contra os muçulmanos, na esperança
de que isso distrairia a atenção da cristandade de suas dissensões internas. O
Concílio, porém, muito sofreu com as altercações e intrigas entre seus membros e
pouco mais realizou do que uma reafirmação defensiva dos antigos dogmas da
Igreja.
Assim, contra a afirmativa protestante de que a Bíblia era a única autoridade
em questões de religião, o Concílio reafirmou a autoridade das tradições e
regras da Igreja e dos Padres da Igreja. Definiram-se as autoridades
eclesiásticas: as Escrituras (Antigo e Novo Testamentos e os reconhecidos livros
apócrifos) têm idêntico valor à tradição. Compete à Igreja a sua interpretação.
No que concerne à doutrina da salvação, foi proclamado o princípio da
necessidade dos sacramentos. Reafirma-se a doutrina da transubstanciação e dá-se
ênfase ao poder sacerdotal do ministro ordenado. A pregação, ao contrário da
teologia protestante, é de valor secundário. A missa, considerada um santo
sacrifício do corpo de Cristo, ocupa lugar central na expressão da vida
cristã.
Finalmente, ordenou o preparo de um “Índice de Livros Proibidos”, que os
católicos eram impedidos de ler, baixou uma nova edição padronizada do catecismo
e fixou novo conjunto de regras regendo a conduta dos sacerdotes.
Como movimento intelectual e religioso, a Revolta Protestante contra a Igreja
Católica e a reação católica a ela, tomadas em conjunto, devem ser consideradas
um dos maiores acontecimentos da história ocidental. Fendeu-se assim de alto
abaixo a Cristandade do Ocidente. Mas essa revolução religiosa foi também uma
reação contra o autoritarismo religioso em nome do individualismo centralizado
em torno da relação direta entre os seres humanos e seu Deus. Apesar do
autoritarismo corporativo que se imiscuiu em tantas das próprias seitas
protestantes, esse acontecimento inaugurou a Era Moderna de individualismo
religioso, de tolerância na religião, que tem imbuído muitos outros campos de
pensamento.
(1) Tonsura – Cerimônia religiosa em que o prelado,
conferindo ao ordinando o primeiro grau de clericato, lhe dá a tonsura.
(2) Prelado – Título honorífico de dignitário
eclesiástico.
(3) Simonia – Tráfico de coisas sagradas ou espirituais,
tais como sacramentos, dignidades, benefícios eclesiásticos, etc.
TEXTOS EXTRAÍDOS DE:
- Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos. Porto.
- Atlas Histórico e Geográfico.
- SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial, vol. II.
- MIRANDA, Hermínio C. As Marcas do Cristo, vol. II.
- Enciclopédia Barsa.
- Enciclopédia Britânica.
(Publicado no Boletim GEAE Número 420 de 26 de junho de 2001)