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Hora de ferir os pés

A esta altura da nossa caminhada em defesa de Kardec
já criticamos construtivamente o interesse da causa espírita, com
irrefutável argumentação, os erros da Federação Espírita Brasileira, da obra
mistificatória de Roustaing, do pensamento místico-unitário de Pietro Ubaldi e
do discurso esotérico de Ramatis, colocando por último em pauta os dislates e
disparates de autores ilustres que, falando sobre Deus dentro do nosso movimento
ideológico, estão perdendo uma ótima oportunidade de ficar calados.

Agora, para completar a tarefa ingrata mas não inglória, falta-nos pôr em
evidência os deslizes doutrinários de companheiros atuantes nas hostes em que
militamos, desfraldando, como o fez o mestre de Lyon, a bandeira do
“Espiritismo cristão e humanitário”
(quem desconhece o fato de que esta foi
a posição de Allan Kardec leia o que ele escreveu no penúltimo parágrafo do
capítulo XXIX de o Livro dos Médiuns).

Vamos em frente. Daqui em diante pisaremos, com os pés descalços de
preconceitos e a alma mais do que nunca liberta de covardia, em terreno
escorregadio e espinhoso. Por ele se arrasta, também em erro, a maioria dos
confrades, que dificilmente nos perdoarão pelo que seremos obrigado a escrever.

Qualquer observador inteligente e desapaixonado do movimento espírita desta
nação sabe que o mesmo, apesar de todo o seu ufanismo, espelhado no volume
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, ainda está muito longe de possuir
um teor de racionalidade lógica que o torne, verdadeiramente, kardequiano, os
kardecista. Para ter esta condição doutrinária correta ele precisaria ser
cristão, e também ainda lhe falta atingir tão desejável progresso: continua
sendo cristólatra, residindo sua maior respeitabilidade nas ações
benemerentes que desenvolve em nível social.

O sentimentalismo vigorante no seio do movimento espírita brasileiro não é um
mal, é sem dúvida um bem, mas se não for temperado, na presente conjuntura
histórica, com a racionalidade da Codificação de Kardec, acabará sendo
desastroso para o futuro da nossa doutrina – eis o problema que os companheiros
extremistas da esquerda e da direita teimam em negar, uns menosprezando Deus ao
situá-lo como mero conjunto das leis da Natureza, outros desprezando Deus ao
colocar Jesus em seu lugar, para quem fazem as suas preces.

Como já acertamos as contas com os sofistas da esquerda, é chegada a hora de
fazermos o mesmo com os direitistas, conservadores e retrógrados, que vivem
entoando loas a “Nosso Senhor Jesus- Cristo” quando não se comprazem em
louvações à “Mãe Santíssima”.

Que pena, o espaço deste artigo terminou… Aguarde o próximo sem precipitar
o seu julgamento a respeito do assunto, pouco simpático ( estamos escrevendo
sobre ele por dever, e não por prazer).

(Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 359 de Dezembro de 2000)