Nas comunicações mediúnicas, o médium é apenas o intermediário. Ao contrário
do que muita gente pensa, o espírito comunicante não entra no corpo do médium. Ele
exerce sua influência agindo sobre a mente do médium, aproveitando os recursos existentes
no cérebro deste, inclusive os conhecimentos de linguagem que o mesmo tem.
Em qualquer comunicação, no entanto, torna-se difícil separar o que é do médium
e o que é do espírito. A afinidade de ambos é muito importante, e fica muito difícil
um médium receber comunicações de espíritos com quem não tem grande afinidade. Por
outro lado, é importante o preparo do médium e sua condição moral.
Os médiuns que têm uma vida dissoluta, de moral duvidosa, têm pouca possibilidade
de receber comunicações de espíritos de elevado nível. Um dos fatores que influem
bastante na comunicação é a vaidade. É por essa razão que nunca devemos elogiar
muito os médiuns, pois eles são simples intermediários e quando se envaidecem do
que estão recebendo, acabam por perder a mediunidade. Poucos médiuns são humildes
o bastante como o foi Francisco Cândido Xavier, que embora tenha nos trazido páginas
belíssimas de elevado cunho doutrinário e de uma correção gramatical perfeita, jamais
se orgulhou de seu trabalho, se colocando mesmo muito abaixo de todos.
Conheci um médium em minha mocidade que era extraordinário. Ele curou muita gente,
e transportava, quando em transe, remédios, flores, livros e objetos que não estavam
no local e que apareciam por encanto em suas mãos durante os trabalhos. Esse nosso
irmão ficou famoso por seu trabalho na região. No entanto, faltou-lhe o preparo
necessário. A vaidade fez com que ele se julgasse bom demais, e se esquecesse de
que ele funcionava apenas como intermediário do plano espiritual. Em razão disso,
perdeu a mediunidade. A sua vaidade era tanto que ele continuou dando comunicações.
Em vez de receber comunicações dos espíritos, ele produzia suas próprias mensagens,
como se fosse ainda dos espíritos. O resultado foi o pior possível. Foi desmascarado
e teve que fugir da cidade. Não sei o que lhe aconteceu posteriormente, mas acredito
que muitos de nós tivemos culpa pelo ocorrido, em virtude dos elogios que todos
lhe faziam. Nosso irmão não estava preparado para exercer a importante missão que
lhe foi confiada pela espiritualidade.
Para entender bem o funcionamento da comunicação mediúnica, podemos fazer a comparação
com o telefone. O telefone é apenas o instrumento de que nos servimos para transmitir
nosso pensamento a outros à distância. Quando o telefone está com defeito, ou a
linha tem humildade por exemplo, a comunicação se torna defeituosa, a voz é distorcida,
e muitas vezes não conseguimos entender o que está dizendo nosso interlocutor.
No caso da mediunidade, acontece a mesma coisa. O médium não estando preparado,
com boa vontade, sem estar ligado moralmente ao trabalho que vai fazer, pode ser
vítima de influência de espíritos inferiores, mal intencionados, e trazer comunicações
apócrifas ou incoerentes.
É necessário que o médium encare o seu trabalho mediúnico como uma missão, estudando,
se preparando, sintonizando seu coração e sua mente com espíritos elevados e amigos,
e ai poderá cumprir satisfatoriamente a missão que lhe foi confiada.
Um médium evangelizado, cheio de boa vontade, isento de vaidade ou de presunção,
pode ser um maravilhoso instrumento para nos ajudar a todos em nossa caminhada terrena.
SBC, 11/10/2004.