Inteligência e Moralidade
Em Obras Póstumas encontramos estas judiciosas palavras de Kardec: “A
inteligência nem sempre é penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode
fazer um uso pernicioso das suas faculdades. Por outro lado, a simples
moralidade pode não ter capacidade. É, pois, necessária a união da inteligência
e da moralidade”.
Mais do que nunca estas palavras do Codificador encontram comprovação do que
nos dias que vivemos. A inteligência do homem conseguiu levá-lo a pisar na Lua,
a fazer clonagem de ovelhas, a realizar transplantes cardíacos, a transmitir via
satélite a imagem e o som de um evento a todos os quadrantes do Globo no mesmo
instante em que o fato está ocorrendo, a desvendar os arcanos do átomo e a
manipular a energia nuclear.
Nada obstante, o homem ainda sente os efeitos terríveis das guerras, a
juventude se vê às voltas com os tóxicos e com a AIDS, as nações pobres são
espoliadas pelas nações ricas, a depressão solapa a alegria de viver de muitos,
o suicídio, o terrorismo completam o quadro de sofrimento gerando desconforto,
descrença, desilusão na alma de muita gente…
É a inteligência do homem, mal direcionada, criando para si e para os seus
companheiros de romagem terrena um clima de insegurança, uma atmosfera de
tensão, um inferno de desassossego quando todos poderíamos viver em ambiente de
paz e de harmonia, num verdadeiro céu de concórdia e de compreensão dentro do
que se aprende em Espiritismo ( O Livro dos Espíritos nº 922) sobre felicidade:
do ponto de vista material a posse do necessário e, do ponto de vista moral, a
consciência tranqüila e a fé no futuro.
Há quem critique o Espiritismo exercido no Brasil alegando aqui entre nós
existir um excessivo discurso religioso. Com efeito, por razões
histórico-culturais da formação étnica de nosso povo, e também em função dos
sofrimentos da hora presente, há este pendor do brasileiro para o Espiritismo
evangélico. Não podemos esquecer, reconheço muito bem, o lado científico e a
faceta filosófica da proposta da Doutrina dos Espíritos.
Entretanto, ante o quadro que o mundo se nos oferece, é preciso, dizia
Kardec, unir a inteligência à moralidade; vai daí o incessante apelo ao combate
cerrado contra o egoísmo, a vaidade, o orgulho, os preconceitos, numa palavra, a
melhor e mais intensa observância às Leis Morais ensinadas e sobretudo
vivenciadas por Jesus. Só assim as conquistas tecnológicas e os avanços
científicos serão postos para o bem-estar de todos.
(Jornal Mundo Espírita de Fevereiro de 1998)