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Intuição e Potencial Criativo

Intuição e Potencial Criativo

Concluindo o tema Intuição, iniciado domingo passado, eis o prosseguimento da
análise de Priscila de Faria Gaspar, que é mestre em Ciências da USP e
Psicanalista e Terapeuta de Regressão: “Saindo do campo meramente racional,
podemos também incluir outras possibilidades de se adquirir conhecimento: a
partir do inconsciente coletivo; de trazer conhecimento de vidas passadas e
também a questão da transmissão mediúnica, ou seja, a partir de entidades
espirituais. Infelizmente, não temos como saber se essas intuições provêm
realmente desses meios ou se consistem em criações mentais do próprio sujeito,
ou seja, de seu inconsciente. No entanto, é importante enfatizar que inúmeras
pessoas íntegras, equilibradas, honestas e sensatas têm habitualmente esse tipo
de intuição e que, em muitos casos, sabem diferenciá-las daquelas provenientes
de seu interior.

Com freqüência as pessoas indagam sobre uma “comprovação” científica de
certos fenômenos e, dessa forma, questiona-se muito se há ou não “provas” para a
existência da intuição. É importante ressaltar que a Ciência Positivista só
permite avaliar os dados observados objetivamente. Dessa forma, a intuição não
pode ser estudada pelo método científico convencional, por ser um processo
eminentemente interno. Cabe, portanto à Filosofia. No entanto, o fato de não
poder ser estudada pela Ciência não significa que não seja aceita pelos
cientistas. Ao contrário, são muitas as histórias a respeito de teorias
científicas que se iniciaram a partir de uma intuição, para ser testadas pelo
método científico, num segundo momento. Encontramos vários exemplos em livros
que tratam de História da Ciência e também em algumas publicações de Filosofia.

É importante lembrar que mesmo os cientistas mais cartesianos usam a intuição
e um enorme potencial criativo. A parte de observação objetiva e racional da
pesquisa ocorre após a elaboração de um problema ou teoria, geralmente iniciado
por intuição. De um modo geral, as pessoas criativas são mais intuitivas e têm
facilidade de entrar em contato com as emoções e com a imaginação. Processam
rapidamente as informações, relacionando automaticamente as experiências
passadas às informações importantes e ao momento presente.

Muitas vezes a educação formal bloqueia a manifestação do lado
intuitivo/subjetivo do sujeito porque na escola convencional, na qual uma
autoridade transmite o saber, valoriza-se muito mais a parte racional/objetiva.
A princípio poderíamos pensar que essas duas partes são opostas e que teríamos
de optar por uma delas. No entanto, observamos que ambas as partes são
necessárias e se complementam. O que devemos evitar é o bloqueio dessa parte
intuitiva e criativa, que é interna e subjetiva.

Para desenvolver a intuição, algumas medidas são necessárias. Como dissemos
no início, a intuição é um condensação de conhecimentos anteriores, assim é
fundamental aumentar a quantidade de conhecimento por meio de leituras diversas
e das mais variadas formas de aprendizagem. Assuntos e experiências diferentes
possibilitam aumentar as possíveis linhas de raciocínio que culminam na
intuição. Entenda-se por experiência tudo o que é vivido e observado, tanto
dentro como fora de si mesmo.

Outro ponto importante é aprender a diferenciar o que é uma experiência
objetiva de uma subjetiva. Uma experiência objetiva é aquela que pode ser
compartilhada por outras pessoas, como por exemplo, observar um objeto e
descrevê-lo (forma, cor, tamanho etc.). A experiência subjetiva depende de
valores, crenças e afetos do observador, por exemplo, se o objeto observado é
feio ou bonito, se provoca sentimentos agradáveis ou desagradáveis, se faz
lembrar de outro objeto ou de um fato etc. Para isso, entrar em contato com seu
mundo subjetivo é essencial. A psicanálise é uma das técnicas que permite esse
tipo de auto-conhecimento, estimula o imaginário, bem como as associações e a
percepção interna.

Também estimulamos a intuição e a criatividade por meio da observação e da
expressão artística. Ouvir música, prestando atenção às emoções que ela nos
provoca, assim como ir à museus e exposições são excelentes formas para
iniciarmos o desbloqueio da intuição. Num segundo momento pode-se partir para a
expressão artística, cantando, tocando instrumentos, pintando etc. Assim,
acreditamos que exercícios e um certo treino podem facilitar os insights, ou
seja, que o conhecimento intuitivo aflore, aumentando também nosso potencial
criativo”.

O Norte – 04/04/2004