Jesus Apazigua a Tempestade
Malgrado certas aparências em contrário, tudo, na Terra, obedece a leis
naturais, concorrendo para um objetivo providencial: o aperfeiçoamento de suas
condições de habitabilidade, simultaneamente, o progresso da Humanidade que a
povoa.
A exemplo das incontáveis moradas do Pai celestial, disseminadas na
incomensurabilidade do espaço, a Terra é governada e protegida por um Espírito
perfeito, preposto de Deus: Jesus assessorado, se é que assim nos podemos
exprimir, por falanges de entidades espirituais altamente evoluídas.
A essas entidades, como agentes da vontade divina, incumbe estabelecer e
manter a harmonia das forças físicas da Natureza, em cujo mister contam com o
concurso de enormes massas de Espíritos, dos quais uns dirigem e outros são
dirigidos, como acontece entre nós.
Presidindo aos destinos deste mundo desde a sua formação, conforme nos
instrui o evangelista João (1:9-10), Jesus tinha (como ainda tem) completo
domínio sobre os que movimentam os elementos naturais, de sorte que, a uma
manifestação de sua vontade potentíssima, tanto podia fazer cessar uma
tempestade e serenar as ondas do mar, como promover outros fenômenos análogos,
maravilhosos, sem dúvida, mas perfeitamente explicáveis, hoje, à luz do
Espiritismo.
Sua ação no episódio em tela visava a despertar a fé, virtude preciosa,
naqueles que o acompanhavam, pois, conhecedor profundo da psicologia humana,
sabia que, sem o estímulo dessas demonstrações surpreendentes, poucos haveriam
de perseverar no discipulado cristão.
Mas, que tais fatos não constituíam milagres, deu-o a entender o próprio
Mestre ao afirmar: “Aquele que crer em mim (entenda-se: que se tornar uno
comigo, em sabedoria e bondade, como eu o sou com o Pai) fará também as coisas
que eu faço, e outras ainda maiores. (João, 14:12.)
Talvez nos objetem: como podem as tempestades, os furacões, as erupções
vulcânicas, os terremotos e outros flagelos, concorrer para a evolução da Terra,
como dissemos de início, se só causam destruição, desordem, sofrimento e morte?
E’ que nosso planeta, relativamente novo, ainda não alcançou as melhores
condições de equilíbrio, e sendo, como é, um mundo de expiação e de provas, tais
cataclismos, ao mesmo tempo que contribuem para aquele fim (embora não o
percebamos, tão limitada é a nossa visão no tempo e no espaço), ensejam aos que
são vitimados por eles o resgate de dívidas contraídas perante a Justiça Divina,
sofrendo dores e aflições que a outrem fizeram sofrer. Servem, ainda, para que
todos nós, no afã de prevenir-lhes ou remediar-lhes os efeitos, nos
desenvolvamos intelectualmente, e, pela compaixão que nos inspira, exercitemos o
devotamento e a caridade para com o próximo.
Estejamos certos: nada ocorre no mundo à revelia de Deus, assim como nada,
absolutamente nada, pode contrariar os seus altos e sábios desígnios.
As calamidades que atingem, ora um ora outro povo, têm, todas, uma razão
justa, se bem que inacessível ao nosso pequenino grau de entendimento atual.
Portanto, quando venhamos a ser provados no sofrimento, lembremo-nos destas
palavras das Escrituras: “Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige, porque Ele
dá o golpe, mas Suas próprias mãos operam a cura.” (Job, 5:17-18.)
(Revista Reformador de agosto de 1964)