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Jesus Cristo, o filho de Deus

Quando falamos de Jesus como Filho de Deus, os homens geralmente costumam
interpretar como se Jesus fosse um ser Divino, em termos de igualdade com Deus.
Tal interpretação prende-se aos “milagres” que Jesus teria efetuado, como se
tais fatos fossem uma prova de sua divindade.

A Doutrina dos Espíritos não invalida os “milagres” do Evangelho e de outras
escrituras do mundo, mas lhes tira o caráter de ocorrências sobrenaturais,
enquadrando-as nos conceitos das concepções naturais do Universo e do homem.

Jesus é Filho de Deus como todas as criaturas. Ele o chama de Pai, como nos
ensinou a chamá-lo de nosso Pai.

É evidente que a qualificação de Filho do Homem significa: nascido do homem,
por oposição ao que está fora da humanidade. Jesus usava para si aquela
qualificação com persistência notável, e somente em raríssimas vezes é que ele
se diz Filho de Deus. Em seus lábios, não pode ela ter outra significação que
não seja para lembrar que ele também pertence à Humanidade.

A insistência com que ele se qualifica de Filho do Homem parece um protesto
antecipado contra a denominação que previa lhe dariam mais tarde, a fim de que
ficasse bem provado que não saíra de sua boca (ver Obras Póstumas – Allan Kardec
-Estudo sobre a natureza do Cristo).

A palavra Cristo

Este título, Cristo, derivado do grego, equivale ao hebraico Messias; Ungido.
O nome pessoal de Jesus, seguido pelo titulo Cristo, serve para chamar a atenção
para a própria pessoa, e que ele é aquele que se tornou o Ungido de Jeová.

A tradução da Septuaginta das Escrituras Hebraicas usa a mesma palavra grega
KHRISTOS mais de 40 vezes, como titulo de sacerdotes, reis e profetas ungidos.
Da mesma forma, o titulo Messias é aplicado a muitos homens, na qualidade de
ungidos.

Jesus, o homem

Para fazermos com que Jesus volte a ter vida, hoje, para nós, teremos de
voltar no tempo para procurarmos o que Jesus tinha a oferecer às pessoas da
Palestina à sua época, a fim de conhecermos a verdade histórica a seu respeito.

Apesar de os Evangelhos terem sido escritos entre os anos 60 e 80, ou seja,
muito tempo após os fatos ocorridos, podemos obter grande quantidade de
informações históricas sobre o Mestre.

O que Jesus tentava fazer? Um incidente historicamente certo nos daria um
indicio importante sobre a direção do seu pensamento. Encontramos tal incidente
no inicio de todos os Evangelhos: Jesus escolheu ser batizado por João. Por quê?

Seja o que for que o batismo possa significar, tal fato implica na decisão de
Jesus de se juntar, de se demonstrar aliado a João, em vez de seguir quaisquer
outras lideranças ou movimentos da época. Isso nos demonstra indícios da direção
do pensamento de Jesus.

A Palestina, à época era uma colônia romana. Este fato era odioso para os
Judeus que ansiavam pela sua libertação. Houve várias rebeliões para sacudir o
jugo de Roma. Os impostos eram altos, e isso levava uma grande parte da
população ao desespero, à miséria, à fome.

No meio de todos esses movimentos e especulações político-religiosas, um
homem se sobressaia como sinal de contradição. Tratava-se do Batista.

João era diferente de todos, justamente porque era profeta, e na verdade,
como tantos outros predecessores, profeta de condenação e de destruição.
Enquanto muitos esperavam pelo tempo vindouro, em que o povo fiel de Israel
triunfaria sobre seus inimigos, João profetizava a condenação e a destruição de
Israel.

Há muito tempo não surgia profeta algum em Israel. O espírito da profecia
cessara. Deus estava em silêncio. Esse silêncio foi quebrado pela voz de João no
deserto. Seu estilo de vida, seu modo de falar e mensagem eram o renascimento
consciente das tradições dos profetas. Sua mensagem era simples. Deus estava
irado com seu povo e pretendia castigá-lo.

Usava as metáforas do machado e da pá, que são as metáforas dos profetas. O
julgamento de Deus sobre Israel seria executado por um ser humano. João falou
dele como “aquele que há de vir”, “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo” (Mateus 3:11-12).

O objetivo prático era de converter o povo, persuadir as pessoas a mudarem de
atitudes , a arrependerem-se de seus erros. João dirigia seu apelo aos
pecadores, prostitutas, coletores de impostos, soldados, bem como aos escribas e
fariseus. (Lucas 3:12-14 e Mateus 21:32).

João concitava as pessoas àquilo que chamamos hoje, de moral social. “Quem
tiver duas túnicas reparta-as, quem tiver o que comer faça o mesmo.”

Aos publicanos, disse: “Não deveis exigir nada além do que vos foi
prescrito”; aos soldados disse: “A ninguém molesteis com extorsões,
contentai-vos com o vosso soldo” – (Lucas 3:11-14).

João foi o único homem naquela sociedade que impressionou Jesus. Ali estava a
voz de Deus avisando seu povo. Jesus acreditava nisso e juntou-se aos que
estavam decididos a fazer algo nesse sentido. Foi batizado por João.
Possivelmente Jesus não tenha concordado com João em todos os detalhes. Chegou
mesmo a divergir de João em alguns pontos. Mas o fato, à época, de ter sido
batizado por João é prova concludente de sua aceitação as propostas formuladas
por ele. Esta aceitação está em Jesus imediatamente ter mostrado que discordava
fundamentalmente de todos os que rejeitavam João e seu batismo: os zelotas,
fariseus, essênios, saduceus, escribas etc.

As ovelhas perdidas do Pai

Muitos consideravam Jesus como sucessor de João. E possível que Jesus tenha
batizado algumas pessoas, mas se isso aconteceu, logo abandonou essa prática.
(João 3 :22-26 e 4: 1-3). Em vez disso, partiu a procurar, ajudar e servir às
ovelhas perdidas do Pai.

Encontramos, dessa forma, uma segunda decisão, um segundo indicio para
verificarmos qual o pensamento e intenções de Jesus. Quantos eram, no contexto,
à época, as ovelhas perdidas?

As pessoas a quem Jesus voltou sua atenção, conforme os Evangelhos se
referem, são os pobres, os cegos, os coxos, os aleijados, os leprosos, os
famintos, os miseráveis (aqueles que choram), pecadores, prostitutas, coletores
de impostos, endemoninhados (obsediados), os perseguidos, os esmagados, os
cativos, todos os que labutam e estão sobrecarregados, a ralé que nada conhece
da Lei, as multidões, os pequenos, os que são menos que nada, os últimos e as
criancinhas.

Jesus geralmente se refere a eles como os pobres ou os pequeninos; os
fariseus se referem às mesmas pessoas como os pecadores. Hoje esses segmentos da
sociedade são referidos como classes inferiores por uns e oprimidos por outros.

Por Jesus, podemos verificar que a verdadeira história da humanidade é a
história do sofrimento, o que muito pouco ou nada é tratado nos livros que
tratam desse assunto.

Para compreender Jesus, precisamos tentar entrar no mundo dos pobres e
oprimidos tal como era na Palestina do século I.

Embora o termo “pobre” nos Evangelhos não se refira exclusivamente àqueles
economicamente despossuídos, certamente os inclui. Em primeiro lugar, os pobres
eram os mendigos. Esses eram os doentes e aleijados que haviam recorrido à
mendicância, uma vez que não tinham possibilidades de serem empregados e não
tinham parentes que pudessem ou quisessem sustentá-los. Evidentemente, não havia
hospitais, nem instituições de assistência social, nem pensões por invalidez.
Esperava-se que mendigassem seu sustento.

E assim, os cegos, os surdos-mudos, os coxos, os aleijados e os leprosos
geralmente eram mendigos.

Verifica-se que passados 2.000 anos, o cenário ainda é o mesmo. Basta
olharmos o mundo ao nosso derredor. Hoje possuímos hospitais, instituições de
assistência e pensões, que não funcionam, ou funcionam precariamente em virtude
do desmando, da corrupção que campeia a largos passos no planeta.

Continuando na pesquisa, havia, à época, as viúvas e os órfãos: mulheres e
crianças que não tinham quem as sustentasse; também não tinham naquela
sociedade, nenhum modo de ganhar a vida. Deveriam depender das esmolas de
sociedades piedosas e do tesouro do Templo. Tal como hoje, nada difere.

Entre os economicamente pobres, à época, incluem-se os operários diaristas
não qualificados, os que se encontravam freqüentemente desempregados, os
camponeses, e talvez, os escravos. Como a história da humanidade se repete! Hoje
como ontem.

As pessoas se encontravam à mercê de reis e tetrarcas bem como por seus
representantes que as oprimiam e freqüentemente eram sangrados pelos impostos.

Os pobres e os oprimidos estavam sempre à mercê de legistas que os
sobrecarregavam com fardos legais e nunca levantavam a voz para os aliviar; eram
excluídos da sinagoga.

Este era o mundo dos “oprimidos, dos “perseguidos” e dos “cativos”. (Lucas
4:18; Mateus S:10). Hoje seriam chamados de oprimidos, marginais ou miseráveis –
as pessoas que não contam.Jesus não era, por nascimento e educação, um dos
pobres e oprimidos, mas se misturava socialmente com o último dos últimos e se
identificava com eles. Ele se tornou pária por escolha.Porque Jesus fazia isso?

Porque conversava com mendigos e se misturava com os pobres? O que faria um
profeta se associar à ralé que não conhecia nada da Lei? A resposta surge clara
nos Evangelhos: a compaixão, o Amor pelo próximo.Tal fato está patente,
demonstrado, em todos os processos de cura. O que tornou diferente o samaritano
da parábola, foi a compaixão, o amor que sentiu pelo homem deixado semimorto à
beira da estrada. (Lucas 10:33). A compaixão é resposta ao sofrimento. João
confiava em um batismo de conversão; Jesus partiu para libertar as pessoas de
toda forma de sofrimento e angústia. Como? Jesus depositou sua confiança na fé.
O único poder que pode curar e salvar o mundo, é o poder da fé. “Tua fé te
salvou”. Não a fé obtida por aderência a um credo ou doutrina religiosa. Mas a
fé certeza, a fé convicção, a fé obtida pelo esclarecimento da razão. E Jesus
transmitia, com suas curas, ensinos, a fé àqueles seus amigos que representavam
a pobreza, o sofrimento, espelhados nos oprimidos e desditosos. Somente a fé, no
sentido de certeza, pode despertar a criatura do conformismo, da apatia, gerados
pela fome, pela miséria, pela falta de compaixão existentes.

A missão reveladora de Jesus

Naquele dia. 14 do mês de Nisã, aproximadamente à hora nona, aquele Homem
expirava entregando-se em Espírito ao Pai. Naquele instante, encerrava-se na
terra uma Missão Reveladora, que perpetuaria pelos tempos afora. Uma Revelação
somente é séria e verdadeira quando altera, quando transforma os conceitos
existentes na face da terra. Tal como Jesus. Ele alterou a história da
Humanidade, dividindo-a em A.C. (Antes do Cristo) e D.C. (Depois do Cristo).
Este fato comprova sua Missão Reveladora. Sua missão constituiu-se de revelar ao
homem uma nova concepção de Deus, uma nova concepção de vida; a vida futura,
assim como as penas e recompensas que aguardam o homem após o desencarne. Na
nova concepção de Deus ensinamos que Ele não é o Deus terrível, ciumento,
vingativo, de Moisés; aquele Deus cruel, implacável e injusto; mas sim, um Deus
de Amor, Justo, que perdoa aquele que erra e que dá a cada um segundo suas
obras. Já não é o Deus de um único povo, mas o Pai de todo o gênero humano. Já
não é o Deus que recompensa e pune somente pelos bens da terra, que faz que a
glória se consista na escravidão dos povos rivais, mas sim, um Deus que diz aos
homens: “A vossa verdadeira Pátria não é deste mundo, mas no reino celestial,
onde os humildes de coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados”. Já
não é o Deus que ordena se retribua olho por olho, dente por dente, mas o Deus
de misericórdia que diz: “Perdoai as ofensas se quereis ser perdoados; não
façais o que não quereis que vos façam”. Com isso firma-se uma nova concepção de
relações sociais entre os povos.A Doutrina de Jesus se fundamenta no caráter que
ele atribui a Deus. Com um Deus imparcial, justo, bom e misericordioso, ele fez
do Amor de Deus e do Amor ao próximo a condição essencial para o cumprimento da
Lei dizendo: “Amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós
mesmos; nisto estão toda a Lei e os profetas; não existe outra Lei”. Sob este
dístico assentou o principio da igualdade dos homens perante Deus e o da
fraternidade universal. Ensinando a revelação dos verdadeiros atributos de Deus,
ensinando a imortalidade da alma e da vida futura, ensinando e exemplificando o
amor ao próximo, pela compaixão aos sofredores de todo jaez, modificava
profundamente as relações mútuas dos homens, impunha-lhes novas obrigações,
fazia-os encarar a vida presente sob outro aspecto. Pelas suas conseqüências, é
esse o ponto, o cerne da Missão Reveladora de Jesus, cuja importância, ainda
hoje, não é bem compreendida, e ante a visão que se tem da sociedade humana,
demonstrado fica que a sociedade tem desconhecido e afastado, deliberadamente na
sua grande maioria, dos seus exemplos e ensinos. (A Gênese – Allan Kardec
Caráter da Revelação Espírita).Precisamos estar atentos uma vez que “a opção
pelo Mestre é uma decisão de largo tempo, sem o entusiasmo da primeira hora, que
passa e leva à desistência, nem a reflexão muito demorada, que perde a
oportunidade. Tornada a resolução, é indispensável abraçar a cruz, não olhar
para trás e seguir.

O reino de Deus

A atividade de Jesus, como se fôra um programa, está em Lucas 4:16-21, que
consubstancia uma passagem de Isaías, lida e comentada por Jesus, na sinagoga de
Nazaré.”O espírito do Senhor Javé está sobre mim, porque Javé me ungiu;
enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração,
a proclamar a liberdade aos cativos, a libertação aos que estão presos; (ou: a
proclamar uma nova visão aos cegos) a libertar os esmagados a proclamar um ano
aceitável a Javé” (61: 1-2)E, cerrando o livro, disse-lhes: “Hoje se cumpriu
esta escritura em vossos ouvidos”. (Lucas 4:21).Conforme já vimos, o surdo, o
coxo, o cego, o pobre etc, são simplesmente diferentes maneiras de se referir ao
pobre e ao oprimido.Vemos que a pregação de Jesus é uma pregação de libertação.
Conhecer a Verdade e ela vos libertará. Assim, trazer a boa nova, conviver com
os pobres e oprimidos, significa libertá-los através da palavra falada, dos
ensinos, dos exemplos.Jesus trouxe uma profecia quando falou num acontecimento
futuro para os pobres. Tal acontecimento não era simplesmente a vinda do reino
de Deus, mas a vinda do reino de Deus para os pobres. “Vosso é o Reino de Deus”.
(Lucas 6:20). A profecia de Jesus está contida no trecho do Evangelho que
chamamos de bem-aventuranças:

“Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.

“Bem -aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados.

“Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir” – (Lucas
6:20-21)

Segundo pesquisas realizadas por vários historiadores, foi Lucas quem
preservou a forma mais original do discurso de Jesus. Mateus, no capítulo V,
adaptou o discurso profético às necessidades dos ouvintes e leitores da época,
que não eram de fato pobres, famintos e miseráveis. Mateus transformou o
discurso profético em exortação. Estendeu o conceito a todos os que forem pobres
em seu coração, ou que se identificassem com os pobres; a todos os que tiverem
fome e sede de justiça; a todos os que imitarem a mansidão e humildade dos
pobres; a todos os que estiverem tristes e deprimidos; a todos os que forem
perseguidos por sua fé em Jesus; a todos os que forem verdadeiramente virtuosos.

Quem eram verdadeiramente os pobres?

Sintetizamos a lição de Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira
Franco, O Excelso Canto, no livro Primícias do Reino:

“Os pobres, financeiramente, todos os conheciam. Distendiam as mãos que a
miséria estiola.

“Eram pobres, no entanto quantos deles eram possuidores de riquezas do
Espírito. Eram ricos de revolta, possuidores de paixões, com grandes cabedais de
angústias e mágoas.

“Os ricos possuem moedas, títulos, propriedades, e muitos também possuem
espíritos ricos de ambições, de orgulho, de aversão às novas idéias.

“Já os pobres e/ou pobres de espírito, são aqueles que são livres de posses e
ambições, amantes da liberdade, são os que lutam pelos direitos alheios, são os
idealistas, são os que cultuam a verdade, pois que estão preparados para a
Verdade.

“Nada os mantém atados à retaguarda, nem possuem imãs que possam atraí-los à
frente.

“São simples, semelhantes às crianças.

“E os que tem fome e/ou fome e sede de justiça?

“Os criminosos não julgados fazem parte de uma caravana infinita e inacabada.
Os carros dos guerreiros, dos vândalos, dos prepotentes, dos exploradores,
passam velozes sobre as comunidades, deixando viúvas e órfãos ao abandono.

“A injustiça veste os corações, e a indiferença dos legisladores, dos
governantes, dos que detém o poder é quase conivência.

“O mundo arde em sede e fome de justiça. O homem se queda esfaimado às portas
da Justiça, e nada obtém.

“Mas a Lei se cumpre, e os desvairados retornam, pela reencarnação, aos
antigos passos, imolados à loucura e estigmatizados pela crueldade.

“Com a consciência justiçada, corrigida pelo amor, preparam-se para a
libertação. Serão saciados.”

“Muitos cristãos e também espíritas têm-se enganado a respeito da natureza do
reino de Deus, em virtude de algumas traduções do trecho de Lucas 17:21,
consignarem erro: “O reino de Deus está dentro de vós”. Atualmente todos os
exegetas concordam que o texto deve ser: “O reino de Deus está entre vós, ou no
meio de vós”.

Onde estaria o Reino de Deus? A Doutrina dos Espíritos nos revela a natureza
dos mundos habitados, dividindo-os em categorias: mundos primitivos, destinados
às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde
domina o mal, tal como acontece na Terra; mundos de regeneração, nos quais as
almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da
luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos,
habitados por Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem.

O Reino de Deus realmente é uma sociedade que vem constituir o mundo celeste
ou divino, pois que reina exclusivamente o bem. Este o estado ideal que Jesus
pregou e demonstrou, e que a Terra poderá um dia alcançar. O Reino de Deus é um
fato, pois que Jesus nos fala do povo que entra ou que se recusa a entrar para
dentro do reino (Marcos 9:47; 10:15,23,24,25; Mateus 5:20; 7:21; 18:3; 21:31;
23:13; João 3:5).

Nos fala que as pessoas podem se sentar dentro dele e comer e beber dentro
dele (Marcos 14:25; 8: 11; Lucas 22:30). Assim, o reino de Deus realmente é uma
comunidade. Quando o Reino de Deus vier, o Amor tomará o lugar do mal, e ele, o
Amor, governará sobre a humanidade, cujo governo será entregue àqueles que
servirem a seus propósitos, na sociedade. O mal será eliminado e as pessoas
estarão repletas do Espírito de Amor.

A diferença está entre uma comunidade humana em que o mal reina com
supremacia (como hoje na Terra), e uma comunidade humana em que o bem e o amor
reinem com supremacia (Mundos Celestes ou Divinos -Evangelho Segundo o
Espiritismo – Allan Kardec – Capítulo III).

A atividade libertadora de Jesus era uma luta contra o mal (Satanás) pelo
poder, guerra contra o poder do mal sob todas as suas formas e aspectos. Cada
cura que Jesus realizava era como um assalto contra a casa ou reino do mal
(Satanás) (Marcos 3:23 a 27). Isso era possível porque algo mais forte que o mal
estava agindo. Jesus demonstrava que o bem, o amor é mais poderoso que o mal;
estava convencido de que o reino de Deus (do Amor) poderia triunfar sobre 0
reino do mal (Satanás) e que tomaria o lugar desse reino aqui na Terra. A visão
de Jesus se espraiava através dos milênios afora, vislumbrando uma sociedade
onde o bem estaria presente; exclusivamente o bem.

O Consolador

Naquela noite, do mês de Adar, Jesus após um dia extenuante de caminhadas,
olhando para o firmamento como que fitando o futuro da Humanidade, reuniu os
companheiros para os ensinar. João anotou seus ensinos no Capítulo XIV:

“Se me amardes guardareis os meus mandamentos”.

Havia naquela frase uma condicional: se.

No futuro deveríamos amá-lo para guardar-lhe as lições.

Perpassando os olhos em todos os companheiros, Jesus sente uma interrogação
em suas mentes: e se o amando, no entanto esquecessem os ensinos ou os
alterassem, deturpando-lhe o sentido?

E Jesus prossegue:

“Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Consolador a fim de que esteja
para sempre convosco; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber,
porque não o vê nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e
estará em vós”.

Dando maior ênfase, a fim de dar-lhes força para sobreviverem nas provações e
nas lutas, prossegue Jesus:

“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse
vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

Ei-lo chegado, corporificado na Doutrina dos Espíritos, que partindo das
próprias palavras do Mestre, é conseqüência direta da sua doutrina. “O
Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho, vem ao contrario,
confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza, que revela,
tudo quanto o Cristo disse e fez;” (A Gênese -Allan Kardec – Caráter da
Revelação Espírita). Com base no desenvolvimento da Doutrina, no seu conteúdo
moral, “reconhece-se que a Doutrina dos Espíritos realiza todas as promessas do
Cristo a respeito do Consolador anunciado”.

“A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há
outra melhor.” “O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo é o
conhecimento dos princípios que regem as relações entre os desencarnados e
encarnados, princípios que completam as noções vagas que se tinha da alma, de
seu passado e de seu futuro, dando por sanção à doutrina cristã as próprias leis
da Natureza.”

O Espiritismo prepara o homem para os dias do Senhor, entre todos os
deserdados, pobres, oprimidos, tal como já conceituamos, da Terra, para o dia de
amanhã. A Doutrina dos Espíritos, colocando fim ao reino do egoísmo, ao rei no
do orgulho , no reino da incredulidade, ao reino do mal, prepara o reino do bem,
que é o reino de Deus, anunciado pelo Cristo. Para a consecução deste objetivo,
o Consolador guia e traça rotas a seguir.

Na atualidade, os problemas sociais, morais e políticos, muito pouco diferem
dos mesmos problemas existentes nos dias em que Jesus viveu conosco.

Para solucionar os problemas externos busca-se de tudo, enquanto o homem
caminha sozinho. em completo desconhecimento. Tudo porque Jesus continua
ignorado.

Envergando novas roupas, ocultos sob estranhas denominações, encontramos
ainda os mesmos rabinos odientos e fariseus impiedosos; encontramos ainda
saduceus astutos e samaritanos detestados: encontramos ainda galileus humildes e
levitas arbitrários.

O homem estimulado pela cultura e pela técnica avança no rumo das estrelas,
pelo Cosmos afora, mas ainda não penetrou o centro, o cerne, o íntimo do próprio
ser. É mais fácil conquistar o exterior, do que a conquista interior sobre si
mesmo. Tudo porque Jesus prossegue desconhecido.

Jesus. hoje, na qualidade do Consolador, retorna às paragens humanas, em um
momento doloroso, conforme prometera.

Volta, ampliando os conceitos de liberdade, de paz, de justiça e de amor,
(apesar de ainda não vividos e vivenciados por todos) – para que na feição do
Consolador venha atender a todas as necessidades e fazer secar as nascentes de
todas as dores, que o mal insiste em perdurar.

A Doutrina dos Espíritos penetra as mentes e os corações, transformando-se no
Amigo Divino, que, como ontem na doce Galiléia, mantém continuada conversação
com os que o amam e desejam reencontrá-lo, sem levar em conta o longo caminho a
percorrer.

Mas para que tal aconteça é necessário que a Doutrina dos Espíritos seja
sentida, vivida e entendida tal como Kardec nos legou. Sem que conceitos
estranhos venham deturpar-lhe as bases e princípios. Para isso urge a reforma
dos Centros Espíritas, retornando a Kardec, no estudo e na prática.

E como ontem, encontramos fariseus, hipócritas, que tentando manter o amor
próprio se colocam astuta e impiedosamente aos ataques grosseiros àqueles que,
imbuídos do sentimento de Kardec, procuram levá-lo às casas espíritas.

Sentimento de liberdade, através do conhecimento, do estudo, da razão.

E quando tais ataques partem de companheiros, médiuns, é importante que
tenhamos em mente a observação de Kardec, no estudo efetuado na Revista
Espírita, l860, página 231, que nos diz: “…a natureza dos Espíritos que
assistem a um médium é um dos primeiros pontos a considerar. Para a conhecer (a
natureza dos Espíritos) há um critério infalível. O critério está nos
sentimentos que o Espírito inspira ao médium. Pela maneira do médium agir,
portar-se, pautar sua vida diuturnamente, julgamos a natureza dos Espíritos que
o dirigem”.

Jesus já nos ensinara: “Seja o seu falar sim, sim; não, não”.

Estudemos Kardec, para vivenciarmos Jesus. Somente dessa forma poderemos
servir ao Mestre. amando-o e seguindo-lhe nos ensinos.

E Ele que continua desconhecido, sentido e vivido, permanece aguardando por
nós.