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Será que, realmente, Kardec não considerou o Espiritismo como religião?

Será que, realmente, Kardec não considerou o Espiritismo como religião?

“Que pensais vós da religião? O mundo, caros filhos, vos ensinou um
conceito muito falso sobre essa realidade. Ao longo dos séculos de história
desta humanidade muitos ritos, seitas, instituições e crenças foram criadas e
tidas como religião e os homens protegeram-se nelas para escapar da ira de um
deus criado por eles próprios.

Jesus, o Cristo, esteve entre vós há milênios vos ensinando um código de
ética, normas de vida superior só alcançadas pelos que têm a humildade de
perceber suas inferioridades. A partir daí, a criatura as assume como código de
conduta e passa a viver por ele, vivenciando verdadeiramente o amor ao próximo,
conforme ensina o Mestre maior.

Porém, o homem em sua imaturidade e incompreensão para com as coisas do
Espírito, fez desse manancial de sabedoria uma nova religião, fechando-se em
dogmas, ritos e fantasias tão ao gosto dos pagãos, com seus deuses mais humanos
do que divinos. Instituiu um poder e escravizou corpos e consciências por quase
dois séculos, até que veio a Terceira Revelação a desnudar o véu de vossas
faces. A Doutrina dos Espíritos trouxe o entendimento do que é uma
verdadeira religião.
Sabe-se que é verdadeira aquela que traz em seus
princípios os instrumentos de modificação do ser e tem como conseqüência a
vivência desses princípios, alicerçados na verdadeira Caridade.

A religião que conheceis, meus irmãos, só cresce em vosso mundo por conta de
vossa inferioridade e falta de compreensão dos valores essenciais do Espírito.
Aquele que afirma que a verdade está em todo lugar, ainda não compreendeu o
básico, pois como pode o homem encontrar o caminho certo, entrando em labirintos
com vários rumos? A verdade é uma só e está no cumprimento da Lei de Deus.
A religião verdadeira
é aquela que faz com que o homem entre definitivamente
na compreensão dessa sabedoria, utilizando os mecanismos da fé e da razão.

Os rótulos para nada servem. Fazem parte da mentalidade de atraso em que
viveis. As religiões de aparência são aquelas que priorizam as práticas
exteriores, as obras como meio de salvação. São aquelas que em nada modificam o
homem, não o leva a refletir sobre seus pecados e, se refletem, não encontra
forças para deles se livrarem. A religião verdadeira, caros filhos, é
a postura correta do homem de bem.

Os Espíritos Superiores têm apenas uma religião, que é aquela que o liga a
Deus mentalmente, através da sintonia com o pensamento divino
e isso não se
dará em homens com os corações cheios de vaidade, orgulho e amor próprio.
Livrai-vos, pois, das religiões de aparências, vós que julgais ser bons o
suficiente para adentrar o reino dos céus, unicamente por professar religiões de
homens. Meditai sobre essas coisas, vós que sois espíritas, pois Deus colocou
em vossas mãos uma grande responsabilidade que é a de levar aos homens a
mensagem da reencarnação, da lei de causa e efeito e da verdadeira caridade.

Acautelai-vos, vós que sois sinceros espíritas, pois o vosso meio está
contaminado pelas doutrinas humanas, eivadas da vaidade, do orgulho e do
personalismo que falseiam a Lei e enganam os incautos e invigilantes. Vigiai
e orai, pois, e agradecei a Deus, vós que já entrastes no entendimento da
verdadeira religião.
Uni-vos a Deus, pois, por vossos santos sentimentos
e tereis conseguido aquilo que Jesus disse nas Santas Escrituras: “Eu e o Pai
somos um”. – João Evangelista, João de Arimatéia, Erasto..

Na busca do sagrado:

Érico Fumero de Oliviera
Seminarista da Diocese de Jales – SP.

Dizer que o homem é religioso é dizer pouco hoje em dia, mas podemos observar
que a busca, a procura e (por que não?) o encontro do sagrado aumentaram. A
morte de Deus, prevista por Nietzsche, e o fim da religião não aconteceram –
como, aliás, se esperava, e nunca acontecerá.

A morte de Deus não aconteceu e nunca acontecerá, porque é impossível, é
absurdo um Deus morto. Deus não é vivo e nunca viveu. Existe e sempre existirá,
sem precisar viver ou ser vivo.

Já a religião não teve fim e espero que nunca tenha, pois, é por
meio dela que Deus manifesta ao ser humano quem é e qual a sua vontade.
Como
pessoa religiosa que sou, para mim é marcante e acho interessantes a busca, a
procura e o encontro do religioso (sagrado). Cada vez mais, vejo pessoas
sentindo fome e sede do Infinito.

Isso se reflete na religião, porque na maioria das vezes é justamente nas
religiões que as pessoas buscam, procuram e vão ao encontro de Deus.
As
religiões existiram e subsistiram por isso.

Religiões nada mais são do que respostas humanas, aquele anseio natural em
todo ser humano, de diferentes culturas ou formas de vida, a mesma realidade
divina, infinita e transcendente.

A religião pode ser e é muito importante na vida de muitas pessoas. Vamos,
então, refletir sobre a coerência da religião, por meio da filosofia, utilizando
como simples instrumento a razão pura.

São comuns nos dramas humanos existenciais as limitações, desde simples unhas
encravadas até a própria morte. Deus é, para o ser humano, fundamento e sustento
de toda a existência. É, então, muito positivo o contato que o homem mantém com
Deus pela religião. Ela deve auxiliá-lo no seu drama humano existencial. Porém,
não é essa totalmente a verdade da religião.

Primeiramente, a religião deve ser autêntica. Isso supõe que nela ocorra a
manifestação de Deus. Deve apresentar aspectos de não-violência, de respeito
pela vida, de tolerância, de solidariedade, de igualdade fundamental dos seres
humanos. Tendo sempre como base Deus. Uma religião, que não considere Deus e não
possua esses aspectos, é incoerente. As religiões não podem existir somente pela
vontade humana.

Infelizmente, nem tudo que se diz religião é coerente. Muitas não
apresentam os aspectos da manifestação de Deus.
Espero não pisar no calo de
ninguém, mas no momento atual, vive-se uma explosão de formas religiosas. Vamos
criar uma nova religião? Pronto, mais uma aparece. Algumas delas têm se mostrado
manipuladoras (interesseiras) e alienantes. Nem todos os interesses religiosos
têm a mesma densidade humana e ética.

É maldade brincar, usar e abusar de Deus e do povo, e isso alguns líderes
religiosos sabem fazer muito bem. Lobos revestidos de cordeiros, isso sim. Não
cito exemplos. O bolso do povo (às vezes) sente muito bem isso, e o bolso de
alguns líderes religiosos também.

Falar em religião é falar de uma verdade transcendental: a salvação. Pois
bem. Tomemos cuidado com líderes religiosos (são muitos) que prometem a
salvação. Tomemos consciência de que religião nenhuma é absoluta. O absoluto
corresponde somente a Deus, por isso mesmo a manipulação desse Deus nada mais é
do que arrogância e pecado. O fundamental é que a salvação somente Deus pode
proporcionar.

A religião é verdadeira e positiva, porém tomemos cuidado, pois em nome de
uma maior abertura às religiões, pode-se estar dando oportunidades a fenômenos
religiosos nefastos.

Escrevo apenas para analisar um fenômeno que desperta a atenção de um
humilde cristão, que pelo Evangelho não admite a manipulação de Deus.
Apesar
de ser seminarista, o meu ponto de vista não expressa necessariamente o ponto de
vista da Igreja Católica.

Fico profundamente triste em saber que existem líderes assim. Porém, mantenho
sempre o respeito e a misericórdia de um cristão.

Na busca do sagrado, cuidado, muito cuidado para não se achegar àqueles
que profanam o nome de Deus. Digo o nome, porque Deus é muito maior do que tudo
isso, e não se deixa tocar por mesquinharias humanas.

(Extraído do Jornal “Diário da Região”, de São José do Rio Preto – SP,
edição de 28/12/2001).