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Lei de Igualdade

Todos os homens são iguais, pois todos foram criados com o mesmo fim: o de
progredirem sempre até atingirem a perfeição.

Ao longo da sua existência multissecular todos são submetidos às mesmas leis
naturais, tendo que passar, mais ou menos, as mesmas provas. Assim, pode-se
afirmar que Deus não concedeu superioridade original ou natural a nenhum homem.

Apesar de naturalmente serem iguais, ninguém pode negar a desigualdade de
aptidões existentes entre os homens, desigualdade esta que não foi criada por
Deus, mas que é antes fruto do tempo que cada um já viveu (reencarnou), ou seja,
do tempo que cada um teve para realizar mais ou menos aquisições — a diferença
está no grau de experiência e no exercício do livre-arbítrio. Esta desigualdade
é necessária a fim de que cada um desempenhe e possua a sua função útil, que se
complementará com a dos outros. Também habitantes (espíritos elevados em
sabedoria e amor) de mundos superiores, habitam, por vezes, mundos inferiores ao
seu, para servirem de exemplo aos mais atrasados. No estado de espíritos
desencarnados, eles podem escolher uma situação mais precária do que a anterior,
desde que tenha por função ajudar alguém ou mesmo a si próprio. Porém, só pelo
facto dele passar a habitar (reencarnar) um mundo inferior ao seu, não implica
que ele perca as faculdades já adquiridas, pois um espírito que progrediu não
regride mais.

O espírito ao unir-se ao corpo conserva os atributos de natureza espiritual
que conquistou até então. No entanto, o exercício das faculdades depende dos
órgãos que lhes servem de instrumento. Estas vão ser enfraquecidas pela matéria,
pois ela é um obstáculo à sua livre manifestação. Não se pode concluir, no
entanto, que os órgãos sejam um obstáculo ao desenvolvimento das faculdades,
pois não são estes que nos fornecem as faculdades mas antes as faculdades que
impulsionam o desenvolvimento dos órgãos. É um pouco o que acontece com o treino
muscular: o músculo adapta-se e conforma-se segundo os estímulos do exercício;
assim também os órgãos fisiológicos em relação às faculdades. Se as faculdades
fossem efeito ou se originassem nos órgãos, o homem não seria mais do que uma
máquina dependente dos órgãos que a “sorte” lhe fornecesse, sem livre-arbítrio e
sem responsabilidade nos seus actos.

As desigualdades sociais não são obra de Deus e sim do homem. Como tal, elas
desaparecerão à medida que o egoísmo e o orgulho desapareçam também. Nesta
altura, os homens deixarão de se ver como sendo de sangue mais ou menos puro,
pois só o espírito é mais ou menos puro, independentemente da sua condição
social.

A desigualdade das riquezas poderá ter a sua origem na desigualdade de
faculdades (o que permite que uns possuam mais meios de adquirir do que outros),
mas o normal é derivar de outras fontes. Uma delas poderá ser uma herança — no
caso da riqueza ter sido mal adquirida os herdeiros não são responsáveis (pois
ninguém é responsável pelo mal que os outros fazem). No entanto, se eles tiverem
conhecimento da má proveniência da riqueza, poderão, apesar de não serem
responsáveis, reparar o mal feito por outro (a fortuna pode destinar-se na
direcção de uma pessoa a fim de que ela possa reparar uma injustiça).

Há quem pense que a solução para todos os males sociais estaria na igualdade
absoluta das riquezas. No entanto, esta igualdade é impraticável, pois seria
logo rompida pelas circunstâncias. A maior chaga social não é a desigualdade das
riquezas, mas sim o egoísmo, que deverá ser combatido para pôr termo a todo o
tipo de males sociais.

Apesar da igualdade das riquezas ser impossível, não se pode dizer o mesmo em
relação ao bem-estar, pois este é relativo e não decorre da riqueza; o bem-estar
consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade e não em trabalhos pelos
quais não se tem nenhum gosto.

A riqueza e a miséria são provas escolhidas pelos próprios espíritos. Não se
poderá atribuir maior dificuldade a uma ou a outra, pois ambas constituem uma
prova mais ou menos difícil de suportar, de acordo com a elevação do espírito
que as experimenta. Se, por um lado, a miséria pode alimentar a revolta, por
outro, a riqueza pode conduzir a todos os excessos; quanto mais rico o homem
for, mais obrigações tem a cumprir e mais meios para o fazer. Deus experimenta o
pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de sua riqueza e poder, recursos
capazes de despertar todas as paixões que nos prendem à matéria, se mal
utilizados.

Homem e mulher são iguais perante Deus, pois este concedeu a ambos a
faculdade de progredir e a consciência do bem e do mal. Se a mulher é
fisicamente mais fraca que o homem, é porque as funções que lhes cabem são
di-ferentes. A fragilidade feminina não a coloca de forma alguma dependente do
homem, pois a força serve para proteger o mais fraco e não para o escravizar.
Pelo facto de ambos possuírem funções diferentes, não quer dizer que a função de
um é mais importante que a do outro — ambas se complementam.

Assim se pode concluir que homem e mulher devem ter igualdade de direitos,
mas nem sempre de funções; todo o privilégio concedido a um e a outro não é
contrário à lei de justiça; relativamente a funções, cada um deve ocupar um
lugar determinado.

Conclui-se que a desigualdade é uma expressão actual do nosso enquadramento
evolutivo e que é o efeito do modo como ocupamos o tempo e as circunstâncias, no
imenso roteiro de aperfeiçoamento espiritual, que vimos há milénios palmilhando.
Porém, ela deve-se ao uso individual do arbítrio humano.

(Reflexão sobre o Cap. IX, Leis Morais, de “O Livro dos Espíritos”)